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domingo, 29 de março de 2009

Gosto de Cajá com Gotinhas de Limão - por Bruno D’Almeida

Nada é capaz de acabar com a poesia que há no coração do poeta. A poesia flui como o cheiro de perfume depois do banho, ela faz parte do ser como a água faz parte do rio, assim como a goiabada nasceu para o queijo, e as traquinagens fazem parte de qualquer criança que não se importa de um corte na pele em nome de uma brincadeira bem feita.

Ninguém escreve, ou melhor, os escritores da alma não escrevem por vaidade ou posição social. A literatura é maneira de expressar os anseios do homem, a sua própria descoberta da roda, do mundo, do amor, da vida. E por mais que a humanidade fale das mesmas coisas, haverá sempre um artista da palavra que faça nova a mais velha das histórias, uma diferente forma para ver aquilo que gerações já viram. Plantaremos sementes que nos brotarão novamente.

Eu vi a poesia sair do sorriso de quem eu amo, da pele macia de pêssego, dos cabelos de fios de caramelo, da boca com gosto de cajá com gotinhas de limão. Eu via a poesia chorando lágrimas do céu, a noite gritando trovejadas, o sol espargindo espectros de ouro. Eu vi poesia até mesmo nos pés sujos deslizando na lama da feira. Uma criança sorvendo uma fruta que caiu da banca, as lágrimas mimetizando o néctar que escorria pelo rosto. Sim, aquilo era licor de poesia, desde a contemplação pura e sublime a aspirações de classe e desigualdades sociais.

A poesia jamais deixará de existir enquanto houver o homem. Mesmo que a pessoa amada não ouça, mesmo que a declaração de amor fique guardada na gaveta ou vire carbono queimado no vento, ela existirá no espaço, no tempo e na matéria, basta alguém pescar com o sentimento e lutar com a intraduzível semântica das palavras. Ainda bem que nada pode ser transformado exatamente em palavras. Por isso todos podem expressar ao modo de sua aldeia, de sua tribo, de sua ideia fresca ou passada.

Se um dia um poeta parar na sua frente e disser um verso, certamente você pensará muitas coisas, como a pressa dos ponteiros do relógio, os textos longos e chatos decorados para passar de ano na escola e no vestibular, a timidez de ouvir, de não poder retribuir, ou a pura incapacidade de sentir, do coração endurecido das pedras carregadas na estrada.

Os homens e as mulheres não são deuses, e a contemplação da beleza e das coisas reforça a humanidade, o ego, e não a divindade. O poeta não eleva a pessoa amada ao inatingível, ele expressa justamente o que pode tocar com suas mãos, reais ou imaginárias. Por isso, deixe a poesia fluir. Melhor a palavra do poeta do que o obscuro vazio da mesmice. Todo tempero deixa a comida mais gostosa, assim como a poesia é capaz de dar vida à própria vida. Quando ouvir o poeta lhe dizer o néctar do viver, deixe, não dói, faz até bem. Principalmente se você for a poesia que o alimenta.



Um comentário:

Ana disse...

Muito legal!
Gostei!