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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A Sombra - por Alba Vieira

Minha vida chegou a um impasse. Lembro-me de uma carta do tarô que fala que em determinados momentos devemos simplesmente esperar, deixar o barco navegar seguindo as ondas, sem remar, sem tentar voltar, ficando à mercê da vontade maior. Também é um momento só para reflexão em que me sento e, em meditação, reflito sobre as coisas que vêm acontecendo.
Sei que não posso deixar de experienciar o que preciso, embora tantas vezes seja custoso demais. Gostaria de emergir deste lodo, tomar um longo banho, trocar todas as roupas e jogá-las fora para me livrar de vez de toda esta lama em que me sinto mergulhada. Mas ainda não é chegada a hora, eu sei. Um dia será e, debaixo das lágrimas de dor pelo tempo de sofrimento, nascerá um novo rosto, libertado da crispação desta dor e do escurecimento do pesar.
Conformação é a palavra. É necessário que eu me conforme com o que tenho que ver, sentir com meu nariz e pegar com minhas mãos. Não adianta querer negar, espessando a pele das mãos, queimando os dedos com a raiva de não querer tocar a realidade. Preciso da conformação com o sofrimento, tenho que entender que a vida, com todas as coisas, possui os dois lados; que a sujeira, a estagnação, a podridão não residem apenas nos cemitérios. Estão dentro de nós mesmos. É preciso aceitar ver o corpo morrer em vida, para também ser capaz de celebrar as belezas e maravilhas do corpo vivo todos os dias.
Acho que já reagi muito mais, já tentei - esgotando minhas forças - corrigir as imperfeições do mundo e das pessoas. Eu busco a perfeição, mas hoje sei que sou tão suja quanto qualquer ser vivente e tento aceitar o fato de me macular, de sujar minhas vestes e minha pele naquilo que faz parte da existência também.
Busco a ordem, mas devo aceitar o caos. E sem perder o sentido da ordem. É muito fácil ser branca transitando numa sala impecavelmente limpa. Mas conservar a pureza chafurdando nos charcos, correndo nos lamaçais, é tarefa difícil.
É um momento de estar voltada mais para mim mesma, de reunir e guardar forças que não têm mais permissão de serem usadas em coisas boas e naturais, de dar gosto. Isso agora é raridade. É tempo de dedicação, de servir e de abrir mão da individualidade. É o momento de me entregar à arte de aprender, de aprender um outro lado de mim tanto tempo negado, mas que é meu, que não pode ser rejeitado, que tem que ser olhado e compreendido para que, só assim, perca a força e me permita brilhar outra vez.

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