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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Ela Se Foi - por Adir Vieira

Acabaram-se as férias e ela se foi. No máximo daqui a dois dias não mais se lembrará de nós. Não mais necessitará de nós. Outras serão as tias que se farão presentes em sua nova rotina. Sua autodefesa inteligente não deixará que sinta saudades, só para não sofrer.
Ela se foi e o vazio da sua ausência instalou-se novamente em nós.
A casa, antes repleta das vozes infantis, também assumirá ares de museu sem seus ruídos, sem sua presença. Roupas de cama, colchões, gavetas, não precisarão mais se mover de seus lugares devidos para acomodá-la com conforto.
Suas solicitações, inúmeras, às vezes tão difíceis de cumprir, darão lugar à rotina equilibrada de nossa vida de casal maduro que, nessa altura, não se atropela nos afazeres comedidos de quem já conhece a vida.
Nesses poucos meses em que ela aqui está, a campainha da porta e os telefones brigam entre si para se fazerem notados, visto que suas coleguinhas clamam a todo instante por sua presença doce e cordata, apaziguando ânimos.
Seu astral é tão especial que até os bebês a preferem nas brincadeiras. As maiores, então, nem se fala. Nota-se, sem dificuldade, a energia positiva transmitida por ela em tudo o que faz.
Decidida, sabe o momento de parar e descarta até a piscina, seu prazer preferido, se não for mais do seu interesse. Aí, ela reina sozinha, mostrando que só faz o que tem vontade e não adianta os apelos das amiguinhas mais queridas e de suas chantagens para fazê-la ficar. É admirável na sua verdade.
Ela se foi e ficamos relembrando, aqui, seu jeitinho, sua forma única de se fazer querida.
Como não lembrar do seu bom dia, chegando de repente, na ponta dos pés, na cozinha, abraçada ao urso quase do seu tamanho e com o habitual paninho, companheiro de todas as noites, enrolado no pescoço?
Como não lembrar das indagações sobre o que comeria no almoço e das suas idéias para trocar o menu que não lhe apetecesse?
Como não lembrar das suas mãos estendidas para o abraço quando estava completamente feliz, mesmo que saindo do banho e enrolada na toalha?
Como não lembrar e sentir saudades da rotina diária de cuidar dela, viver como se fosse só pra ela?
Como não passar pela sala e vê-la sentada na sua poltrona preferida, com a bandeja de comida no colo e saboreando um pedaço de frango, perguntar se poderia repetir?
Como não ouvir suas gostosas gargalhadas, assistindo mil vezes ao mesmo programa, que já conhecia de trás pra frente?
Como não lembrar dos momentos em que, circunspecta, pegava sua agendinha da Barbie para anotar o que havia feito de melhor no dia?
Como não se alegrar com ela, vendo-a chegar de uma festinha no play com as maçãs do rosto rosadas de tantos folguedos?
Como não lembrar do seu jeito vaidoso quando, de máquina digital em punho, programava-a, sozinha, para se fotografar em caras e bocas, como artista de TV?

Ela se foi e vamos demorar um pouco para esquecer tantos momentos felizes que, sabemos, só voltarão nas próximas férias.
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