Deixa-me dizer-te, meu caro, pode bem acontecer que vás através da vida sem saber que debaixo do teu nariz existe um livro no qual a tua vida é descrita em todo o detalhe. Aquilo do qual nunca te deste conta antes, vais relembrando aos poucos, assim que comeces a ler esse livro, e encontras e descobres... alguns livros tu lês e lês e não lhe consegues encontrar qualquer sentido ou lógica, por mais que tentes. São tão “espertos” que não consegues perceber uma palavra daquilo que dizem... Mas esse livro que talvez esteja logo debaixo do teu nariz, tu lês e sentes-te como se tivesses sido tu próprio a escrevê-lo, tal como - como é que hei-de dizer? - tal como tivesses tomado posse do teu próprio coração - qualquer que este possa ser - e o tivesse virado do avesso de forma que as pessoas o consigam ver, e descrito com todos os detalhes - tal e qual como ele é!
E como isto é simples, meu Deus! Porquê, eu próprio poderia ter escrito este livro! Porque, de fato, porque é que eu próprio não escrevi este livro!
E como isto é simples, meu Deus! Porquê, eu próprio poderia ter escrito este livro! Porque, de fato, porque é que eu próprio não escrevi este livro!
In “Pobre Gente”.
Fiódor M. Dostoiévski
Um comentário:
Têm histórias que a gente realmente se pergunta por que não fomos nós que escrevemos. É uma interação autor/leitor das mais fecundas. Viramos autores/personagens numa troca sombiótica incessante. Muito bom! Abraço. Paz e bem.
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