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terça-feira, 21 de abril de 2009

Semear - por Alba Vieira

Estou num imenso jardim onde exercito aquilo que mais me fascina. Não é um jardim como aquele que conhecemos e sim um outro com os mesmos atributos. No jardim do mundo semeio novas ideias. E fazendo isso não busco reconhecimento, mas o faço apenas por hábito. E esta tarefa obedece às regras da natureza.
No plantio, havemos de escolher o momento certo em que a terra-gente pode receber a nova semente. E esta, dependendo da planta que se espera, não pode simplesmente ser lançada. Teremos que cavar um sulco na terra, um ponto de menor resistência deve ser aberto para abrigá-la. Molhar o solo frequentemente se faz necessário. E o semeador de ideias fará isto trazendo exemplos de casos bem-sucedidos que funcionarão como a água fertilizadora da semente. E quando, num milagre da existência, a planta-ideia florescer, será preciso vigiá-la para que não fique exposta às intempéries do tempo. É que frequentemente as novas ideias e seus defensores são alvo daqueles que desejam manter o que está arraigado. É o peso do convencional.
Depois, quando vingar, a plantinha deverá crescer para ser vista por muitos neste imenso jardim. E é necessário protegê-la dos depredadores, aqueles que são devoradores de novas ideias que, como tratores, egoisticamente passam por cima do projeto de árvore, impedindo a propagação do novo.
Mas não basta protegê-la, é necessário também guiar seus ramos, impedindo que se desvirtuem do tronco, alterando aquilo que foi inicialmente proposto.
E o verdadeiro jardineiro não se dedicará apenas a uma espécie de plantas. Ele irá diversificar, espalhará várias ideias, semeando em muitas áreas desde que encontre solo fértil.
E um dia verá plenamente desenvolvidas plantas de caules flexíveis que se movimentam ao sabor do vento, numa liberdade de se adaptarem tanto quanto se fizer necessário. Encontrará outras árvores rígidas, são os pensamentos que devem permanecer inalterados, que são a base, os troncos fortes que constituem a estrutura das ideias de uma civilização.
Assim, cada conceito, cada pensamento terá o seu perfil, sendo todos necessários e todos pertinentes. O jardineiro sabe disto tanto quanto a mãe que reconhece a diversidade de personalidade dos filhos, todos concebidos, gerados e cuidados por ela.
E obedecendo à ordem de todas as coisas, o semeador verá suas plantas-ideias, num determinado momento, ceifadas pelo tempo, entendendo que mesmo após a morte, partes destas suas ideias serão adubo natural que permitirá, no futuro, o nascimento, desenvolvimento e propagação de outras ideias originais, plantinhas novas, naturais ou híbridas. O que importa, no fluir do tempo, é, inevitavelmente, o surgimento do novo.
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3 comentários:

Clarice A. disse...

Alba
Gostei demais. Muito mesmo. Como dizia meu velho pai, gostei de verdade. O futuro é a semente plantada hoje. Você é a mehor semeadora que conheço. Meu sincero agradecimento por fazer parte do seu jardim (é assim que me sinto).
A Ana arrasou com a Senhora das feras. Voces estão impossíveis.
Um abraço fraterno
Clarice

Ana disse...

Clarice:
Muito obrigada pela parte do texto que me toca.
Beijo.

Ana disse...

Muito bom, Alba!
Gostei!