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A reforma está aí. Sim, obviamente estou falando da reforma ortográfica. E ela chegou de vez: não mais como uma novidade distante, mas uma alteração que está gradativamente fazendo parte da vida de todos. E, por mais que se crie resistência, não há como evitar: a moda vai pegar!
Não diga que isso não o afeta: a mudança já começou no dia-a-dia. Você passou a usar o forno de micro-ondas e a andar de micro-ônibus. Por causa dos micro-organismos à sua volta, terá algumas doenças, e ocasionalmente tomará anti-inflamatórios. Mas não se preocupe: se isso o consola, tudo isso está acontecendo com seu arqui-inimigo também.
Não adianta resistir e se achar o mandachuva do pedaço. Seu carro vai passar a ter parachoques, parabrisa e paralamas. Quem cair de paraquedas nesse meio, vai ficar confuso. Mas, pelo menos, ainda temos anos-luz para nos acostumarmos com isso. Ainda usamos guarda-chuva; ainda odiamos as segundas-feiras; ainda teremos algum beija-flor ou bem-te-vi no nosso quintal, couve-flor na mesa e erva-doce para o chá; e para a sorte das mulheres, elas continuarão enxergando azul-claro, azul-ciano e azul-bebê, bem como a diferença entre eles.
Uma hora ou outra, você vai tomar uma vacina antirrábica (talvez o “rr” seja para lembrar um cão rosnando). O teatro agora precisa de contrarregras, ironicamente sem contrariar a regra. Tiraremos autorretratos para os novos documentos, não sem antes passar um bom creme antirrugas. Temos um novo velho órgão no corpo, as glândulas suprarrenais. Novamente, seu arquirrival passará por tudo isso também. Se este for mulher, e ficar grávida, vai precisar fazer alguns ultrassons.
Não fique confuso e nem sequelado com essas mudanças, você vai se adaptar. Tudo bem que podemos ser sequestrados, e não temos mais nem o trema para negociação... Porém, a fauna agradece: ficou mais fácil se referir aos nossos amigos equinos e pinguins na escrita. Frequentemente, seremos perguntados sobre nosso tipo sanguineo, só para ter certeza de que não mudou. Aguente firme, pois as consequências da reforma são mais benéficas do que maléficas. (Falar do trema pode até parecer “enxer linguiça”, mas acho que é a principal mudança que sofre(re)mos.)
A ideia é boa: padronizar a escrita de todos os países da Língua Portuguesa. Por isso eu apoio, e assino embaixo. Não adianta ficar paranoico - se até as duas Coreias vão ter que se acostumar (um pouco) com a mudança, por que nós não? Vamos usar tipoias, encontrar mocreias, ser mordidos por jiboias, e picados por colmeias inteiras de abelhas! E não adianta tentar dar uma de herói para a plateia.
Alce voo (só tome cuidado para não sentir muito enjoo) na nova Reforma, que tudo começa a fazer sentido, tudo tem um porquê. Muitos creem que foi desnecessária, pois não veem que ela já facilitou, e muito, a nossa vida na hora de escrever. Mais fácil de se acostumar para aqueles que leem, então é bom começar.
Quando você para para pensar, a mudança mexe até nas raízes de nossa cultura. Coitado do Leoni, que agora se agarra pelos pelos...
P.S. - Proponho um desafio: peguem a primeira parte do conto que eu estou postando no outro blog e tentem encontrar todas as palavras alteradas para se adequar à nova regra. Uma dica: “pela pela” não foi erro de digitação.
Visitem Gio
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2 comentários:
Das mudanças , a que mais me inquietou foi a do trema. No entanto, ainda bem que a pronúncia não mudou. Já pensou que estranho termos que comprar uma linguiça sem o trema? rsrs. Genial a sua crônica! Muito boa mesmo! Abraço. Paz e bem.
Gio:
Adorei sua crônica! E concordo com o Cacá: detestei a extinção do trema: sempre o achei extremamente simpático e especial!...
Mas, como ocorre com todas as mudanças... só nos resta acostumarmo-nos...
Beijo.
Saudade de você por aqui...
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