Estava indo dormir. O quarto já estava escuro, eu cheio de sono, estava chovendo. Enfim, eu iria dormir. Mas meu telefone toca. Número desconhecido. Pensei que era engano, mas meu maior engano foi atender:
- Funerária Pôr do Sol, boa noite?
- Quê?
- Quem é?
- Flavio? Oi, sou eu, Seus Medos.
- Quem?
- Seus Medos.
- Rapaz, que susto, pensei que era o gerente do meu banco.
- Não, mas você está em dívida.
- Como assim?
- Você está me deixando de lado, você não me valoriza, não liga mais para minha existência... Estou meio sozinho...
- Meus Medos, não fica assim não...
- É Seus Medos.
- Foi o que eu disse, Meus Medos.
- Não, meu nome é Seus Medos.
- Mas você não me pertence? Então seu nome é Meus Medos.
- Lá vem você... Agora está tão egoísta! Quer mudar até meu nome! Não te reconheço mais.
- É tudo questão de semântica, gramática, prosopopeia, essas coisas. Mas Medo – posso te chamar assim? – não é que eu não ligue mais para você, mas a nossa relação já não era essas coisas todas, era uma relação de... de...
- Medo?
- Isso, meu caro, de medo. Não é que eu tenha algo contra você, mas eu preciso te encarar, sabe?
- Entendo...Então é o fim de uma amizade de mais de 20 anos?
- Não, que é isso, não seja tão radical assim. Você pode me visitar de vez em quando. Uns poucos pesadelos por ano não fazem mal a ninguém.
- Tudo bem. Faz um favor? Espera na linha que tem alguém aqui querendo falar com você.
- Quem é?
- Surpresa.
(Vozes ao fundo. Outra pessoa pega o telefone.)
- Flavio?
- No, aqui és Pablito, El imigrante boliviano clandestino. Claro que sou eu. Quem é?
- Sou eu, o Passado. E te condeno.
- Me condena? Passado, meu caro, faz um favor?
- Claro!
- Me esquece!
Desliguei na cara do Passado. Ele só quer saber, às vezes, de cobrar por coisas que fiz ou que deixei de fazer. Deixe-me dormir porque amanhã é dia de preto, e ninguém vai acreditar que tive essa conversa com essas duas figuras. Preciso parar de tomar esses remédios.
- Funerária Pôr do Sol, boa noite?
- Quê?
- Quem é?
- Flavio? Oi, sou eu, Seus Medos.
- Quem?
- Seus Medos.
- Rapaz, que susto, pensei que era o gerente do meu banco.
- Não, mas você está em dívida.
- Como assim?
- Você está me deixando de lado, você não me valoriza, não liga mais para minha existência... Estou meio sozinho...
- Meus Medos, não fica assim não...
- É Seus Medos.
- Foi o que eu disse, Meus Medos.
- Não, meu nome é Seus Medos.
- Mas você não me pertence? Então seu nome é Meus Medos.
- Lá vem você... Agora está tão egoísta! Quer mudar até meu nome! Não te reconheço mais.
- É tudo questão de semântica, gramática, prosopopeia, essas coisas. Mas Medo – posso te chamar assim? – não é que eu não ligue mais para você, mas a nossa relação já não era essas coisas todas, era uma relação de... de...
- Medo?
- Isso, meu caro, de medo. Não é que eu tenha algo contra você, mas eu preciso te encarar, sabe?
- Entendo...Então é o fim de uma amizade de mais de 20 anos?
- Não, que é isso, não seja tão radical assim. Você pode me visitar de vez em quando. Uns poucos pesadelos por ano não fazem mal a ninguém.
- Tudo bem. Faz um favor? Espera na linha que tem alguém aqui querendo falar com você.
- Quem é?
- Surpresa.
(Vozes ao fundo. Outra pessoa pega o telefone.)
- Flavio?
- No, aqui és Pablito, El imigrante boliviano clandestino. Claro que sou eu. Quem é?
- Sou eu, o Passado. E te condeno.
- Me condena? Passado, meu caro, faz um favor?
- Claro!
- Me esquece!
Desliguei na cara do Passado. Ele só quer saber, às vezes, de cobrar por coisas que fiz ou que deixei de fazer. Deixe-me dormir porque amanhã é dia de preto, e ninguém vai acreditar que tive essa conversa com essas duas figuras. Preciso parar de tomar esses remédios.
Visitem Flavio Braga
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3 comentários:
Eu ri demais lendo isso hauhauauhauhauhauhauhauhauah
Eu idem
Clarice
Muito bom, Flavio!
Adoro seus textos!
kkkkkk
Um abraço.
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