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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Santo Agostinho: “A Memória é como o Ventre da Alma” - Citado por Penélope Charmosa

Encerro também na memória os afetos da minha alma, não da maneira como os sente a própria alma, quando os experimenta, mas de outra muito diferente, segundo o exige a força da memória.
Não é isto para admirar, tratando-se do corpo: porque o espírito é uma coisa e o corpo é outra. Por isso, se recordo, cheio de gozo, as dores passadas do corpo, não é de admirar. Aqui, porém, o espírito é a memória. Efetivamente, quando confiamos a alguém qualquer negócio, para que se lhe grave na memória, dizemos-lhe: “vê lá, grava-o bem no teu espírito”. E quando nos esquecemos, exclamamos: “não o conservei no espírito”, ou então: “escapou-se-me do espírito”; portanto, chamamos espírito à própria memória.
Sendo assim, porque será que, ao evocar com alegria as minhas tristezas passadas, a alma contém a alegria e a memória a tristeza, de modo que a minha alma se regozija com a alegria que em si tem e a memória se não entristece com a tristeza que em si possui? Será porque não faz parte da alma? Quem se atreverá a afirmá-lo?
Não há dúvida que a memória é como o ventre da alma. A alegria, porém, e a tristeza são o seu alimento, doce ou amargo. Quando tais emoções se confiam à memória, podem ali encerrar-se depois de terem passado, por assim dizer, para esse estômago; mas não podem ter sabor. É ridículo considerar estas coisas como semelhantes. Contudo, também não são inteiramente dessemelhantes.
Reparai que me apoio na memória, quando afirmo que são quatro as perturbações da alma: o desejo, a alegria, o medo e a tristeza. Qualquer que seja o raciocínio que possa fazer, dividindo cada uma delas pelas espécies dos seus gêneros e definindo-as, aí encontro que dizer e declaro-o depois. Mas não me altero com nenhuma daquelas perturbações, quando as relembro com a memória. Ainda antes de eu as recordar e revolver, já lá estavam. Por isso consegui, mediante a lembrança, arrancá-las dali.
Assim como a comida, graças à digestão, sai do estômago, assim também elas saem do fundo da memória, devido à lembrança. Então, porque é que o que discute, ou aquele que delas se vai recordando, não sente, na boca do pensamento, a doçura da alegria, nem a amargura da tristeza? Porventura nisto é dessemelhante o que não é semelhante em todos os seus aspectos?
Quem em nós falaria voluntariamente da tristeza e do temor, se fôssemos obrigados a entristecer-nos e a temer, sempre que falamos de tristeza ou temor? Contudo, não os traríamos à conversa se não encontrássemos na nossa memória, não só os sons destas palavras, conforme as imagens gravadas em nós pelos sentimentos corporais, mas também a noção desses mesmos sentimentos. As noções não as alcançamos por nenhuma porta da carne, mas foi o espírito que, pela experiência das próprias emoções, as sentiu e confiou à memória; ou então foi a própria memória que as reteve sem que ninguém lhas entregasse.



In “Confissões”.
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3 comentários:

Jair disse...

Mergulhos de Inverno.

Com a chegada do frio, também retornam velhas alternativas de lazer. Algumas, inclusive, muito simples, como a de comer bergamota na praça lagarteando ao sol. E para os que preferem opções um pouco mais elaboradas, uma visita aos campos de cima da serra é uma boa alternativa, já que as tradicionais cidades da serra são bastante conhecidas. Essas são apenas algumas sugestões para que ao inverno possa ser saboreado, com muito prazer e alegria. Mas, independente do lugar que escolhemos estar, o inverno pode ser desfrutado com todas suas vantagens e implicações, o importante é perceber que a vida é bela e as estações são únicas, que o momento de aproveitar é agora.
Numa dessas visitas a serra, um fato interessante me inspirou o tema de hoje. Trata-se de uma brincadeira das crianças que, diante do mirante de um lindo vale, começaram a brincar de eco, ou seja, gritavam a toda a goela, para em alguns segundos, ouvir novamente o som mais ou menos claro da palavra gritada: o tal eco. Bom! Isso me fez lembrar que a natureza constantemente, através de suas leis, nos dá demonstrações claras de como ela funciona, que o mundo em que vivemos é um lugar que faz eco.
Se emitirmos sentimentos de raiva, volta raiva, se espalhamos amor, volta amor, uma lei perfeitamente natural e facilmente comprovada. È bem possível que muitos de nós já experimentou essa lei em relação a algum acontecimento na vida. Uma lei que é infalível, ou seja, tudo o que se faz volta, tudo o que se planta se colhe e assim por diante, essas são as diferentes interpretações da mesma lei.
Então, assim como o inverno é agora, temos que aproveitar esse momento para curtimos todas as suas delicias e especialmente aproveitar para nos aproximar dos amigos, familiares e de todos os que nos fazem bem. O inverno é uma estação de aconchego e parece chamar para essa ação. Nada mais apropriado que seguir esse chamado, estreitar laços, aquecer as relações com as pessoas, espalhando amor, alegria e fraternidade. Mas não espere que outros tomem a iniciativa, seja pró-ativo e faça o primeiro gesto de aproximação, mesmo que algum sentimento inadequado ainda esteja um pouco enraizado. Faça um gesto de aproximação e espalhe calor humano, solidariedade, afinal, o amor não é exigente, ele simplesmente existe para voar, para se libertar para crescer entre as pessoas.
Aliás, nessas questões de reaproximação, de reconstrução de laços, um grande inimigo interno é o ego: ele nos induz a uma falsa sabedoria, nos oferece inúmeros argumentos e sólidas razões para evitarmos a aproximação e um dos seus truques preferidos é nos fazer perceber, que o brigar, o resmungar e ser desagradável não tem o menor sentido, mas justifica-se pelo alterado estado emocional do momento. Tudo isso para nos fazer parecer sábios e nos eximir da responsabilidade, que é um grande engano, pois todos se tornam sábios quando o momento se foi, porém, isso de nada vale, pois ser sábio é ter consciência dos atos no exato momento que ocorrem. Não tem o mesmo valor entender o que aconteceu após o ocorrido, muito menos é sabedoria. Uma vez que sabedoria

Jair disse...

Uma vez que sabedoria é ter a consciência presente o tempo todo, para que quando o fato estiver acontecendo se possa perceber que o que estamos fazendo é inútil.
Desta forma, com a consciência presente, podemos perceber claramente que o outro nunca é o responsável por coisa alguma. O problema sempre é algo que esta fervendo dentro de nós, que não conseguimos identificar, apenas não temos consciência. Quando temos consciência não agimos com raiva, ressentimento ou mágoa, pois isso vai contra a própria consciência.
É claro que jogamos nossos disparates contra as pessoas que amamos, até porque elas estão mais próximas e não dá para fazer isso com um estranho, um alguém que esta passando pela rua, seríamos tratados como tolos quando na verdade estamos sendo insanos ou no mínimo incoerentes em maltratar quem nos ama. Uma das formas de tomar consciência deste tipo de atitude e principalmente de culpar os outros pelos nossos problemas é manter-se conscientes permanentemente, de modo que sempre que encontrarmos algo de errado no outro nos lembremos do nosso próprio estado de consciência.
É, o inverno é uma estação que exige posicionamento, aliás, não conheço ninguém que goste mais ou menos do inverno.Todos têm posição: ou gostam ou não gostam, assim como o verão, são estações bem definidas na cabeça das pessoas. O inverno tem uma característica peculiar que é o chamado ao recolhimento à intimidade, ao aconchego, ao mergulho interno e a introspecção. Talvez não seja somente a brincadeira das crianças, mas também os dias frios que me fazem trazer toda essa reflexão. Seja como for, o certo é que não podemos esquecer que o outro nunca é o responsável por nossos problemas; que um gesto de aproximação faz bem em qualquer estação e que o mundo é um lugar que faz eco. No entanto, não há nada que não possa ser superado com amor este sentimento poderoso, porém frágil. Boa semana.

Ana disse...

Penélope:
É o segundo texto do Santo que leio sobre memória e adoro!
Legal!
Beijo!