Creative Commons License


Bem-vindo ao Duelos!
Valeu a visita!
Deixe seu comentário!
Um grande abraço a todos!
(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




sexta-feira, 12 de junho de 2009

A Missa - por Adir Vieira

Acabo de sair de uma missa em uma das igrejas católicas do meu bairro e não posso deixar de fazer comparações e de aguçar meu enorme senso crítico em razão do que presenciei.
Acho até que já demos um alto avanço nessa questão quando deixaram de rezar as missas em latim, mas, no entanto, agora, fora o fato do ritual com o padre de batina, os coroinhas, vários auxiliares e frases repetitivas como: “Que o Senhor esteja convosco.” “Ele está no meio de nós.”, poucos são os fatos que nos dizem estarmos assistindo, realmente, a uma missa.
O objetivo da tal missa era dedicá-la aos mortos de sétimo dia e a outros mortos (diversos), pois hoje, só se fazem missas comunitárias.
No entanto, a primeira providência é levantarmos para saudarmos, com palmas, o padre e auxiliares que vão celebrá-la.
Antes de qualquer coisa, já devidamente instalado, o padre faz questão de apresentar sua mãe (pasmem!) a toda paróquia, pois ela veio de uma cidade do interior para visitá-lo e, logicamente, como qualquer mãe beata e orgulhosa, dar vivas ao filhinho que se tornou padre, tal qual o seu desejo. Em seguida, mais de cinco minutos do cronometrado tempo em que a missa deve transcorrer, se perdem com uma das auxiliares lendo uma folha quilométrica com os nomes das pessoas beneficiadas - mortos de 30º dia, mortos de 1 ano, mortos de 2 anos, mortos de 10 anos, família Andrade, família Souza e por aí vai...
Enfim começa a missa e constato que a leitura do dia sequer faz qualquer menção à passagem, à morte, ao retorno...
Mais de metade da missa é dedicada a José de Anchieta e aos feitos do catequista nos anos de 1500.
Não sinto uma preocupação do padre com as famílias dos mortos, com a necessidade que têm, naquele momento, de uma palavra de conforto, doídos que estão, com a ausência dos seus entes queridos. Nem mesmo um senhor de meia idade sentado à minha frente e chorando convulsivamente lembra ao padre que ali deveria estar sendo rezada uma missa para mortos.
Seguindo o ritual, em alto e bom som, o padre anuncia o ofertório e quase todos os beatos e beatas se dirigem ao altar para depositar moedas e notas de qualquer valor, nas cestas, ricamente preparadas com tecidos rendados, enquanto um cântico de louvor se faz ouvir estridentemente.
Aliás, outra coisa que me chama a atenção é a música e os cantos que ocupam quase dois terços do ritual. Parece que a semente jogada pelo Padre Marcelo proliferou em todo o ambiente e já não se dá mais valor à palavra.
A palavra, propriamente dita, colocada na Bíblia e a palavra do sacerdote, se é assim que podemos chamá-lo.
Para minha surpresa - pois diante de tantas aberrações, não consigo sequer rezar pelo morto em questão, nem pelos meus mortos -, a única vez em que o padre se dirige às famílias que ali estão em busca de consolo é naquele momento. Momento muito importante para o padre, não para nós que ali estávamos. Como se aquilo fosse absolutamente normal, ele pede licença às famílias dos mortos para anunciar o aniversário de uma pessoa da comunidade e pedir a todos que cantem Parabéns a Você, para a aniversariante, jogando por terra toda a minha crença e a minha religiosidade.
Absurdamente, vejo-me como os outros cantando e louvando aquela aniversariante que não conheço e nunca vi mais gorda, enquanto meu morto, naquele local que julguei apropriado e único para tal, ouviu seu nome apenas uma vez, para, por certo, justificar o valor que tivemos que pagar pela celebração.
Que celebração!



Visitem Adir Vieira
.

3 comentários:

_Gio_ disse...

A missa católica é assim: decorada, repetitiva e pré-montada - nem os mortos a modificam, literalmente. Pagamos para anunciarem o nome - seja de falecidos, casados, ou nascidos - no início da Santa Missa, e é só. Nada de cronograma novo. Nada de Evangelho dedicado a isso. Nenhuma música tratando do tema. É uma citação, e acabou.

Quanto, às canções, eu, pelo contrário, gosto (digo, gostava quando ia). Acho elas fundamentais, pois isso é o que traz um pouco mais de dinâmica para a celebração que, de outra forma, seria um empilhado de leituras, ritos decorados, Creio e Pai Nosso.

escrevinhadora disse...

Por essas e outros é que deixei faz tempo de ir a missa. Aquela coisa de bater palmas pra Jesus, tô fora.

Ana disse...

Adir:
Compreendo perfeitamente sua revolta. A igreja católica resolveu mudar a forma de celebrar seus ritos para fazer frente ao modelo populista da Universal (principalmente), mas perdeu a seriedade e esqueceu a função de certas celebrações. O seu exemplo é um caso típico. Mais vale reverenciar aquele que se foi em casa mesmo...
Muito bem escrito, como sempre!
Beijo.