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AS FÉRIAS SE APROXIMAM
O ano, ainda para mim cheio de novidades, passou rápido. Papai e mamãe se revezam nas cartas. Estranhei no começo que a correspondência era-nos entregue aberta. Soube que o reitor faz isso para evitar que remetentes mal intencionados busquem minar as vocações religiosas ainda florescentes. A cada missiva a dor da saudade é revivida. Ainda que imerso em ambiente onde todas as necessidades são supridas, eram fortes as lembranças da meninice lá em casa sem compromissos muito sérios senão das brincadeiras de bolinhas de gude, soltar pipas com a carretilha que vovô João construíra para mim, as piculas e brincadeiras de roda. Embora recordasse que eventualmente tinha obrigações proporcionais à meninice: levar o almoço do papai e vender o jornal na porta da igreja, com certeza era muito mais branda do que levantar às seis da manhã e enfrentar as obrigações pertinentes a um internato.
As notícias de lá também não estão muito alvissareiras. Mamãe está acometida de mal nos rins. Minha irmã Conceição, mais nova que eu, está incumbida de cuidar dos manos mais novos. Papai conseguiu um emprego de carteiro nos Correios e Telégrafos por conta de ter sido pracinha na Segunda Guerra lá na Itália, ex-combatente que fora. Nas horas de folga continua costurando para suprir as necessidades da casa.
É com este quadro que tenho que decidir rapidamente o que fazer. As férias de dezembro estão próximas. Serão trinta dias em casa. Tenho que escrever para papai a fim de que venha me buscar e trazer de volta. O prazo para isso é curto. Os correios levam dias para as trocas de correspondência. No entanto não levei muito tempo para deliberar a dolorosa a decisão: não iria de férias. Com isso, papai, em novo emprego, não precisaria se ausentar nem tampouco arcar com as despesas de viagem. E pronto.
Ao invés de escrever que não ia de férias, omiti-lhes que elas existiam. E fiquei junto com uns vinte colegas, dos cento e tantos existentes, sem viajar às nossas terras natais.
Se por um lado eu e os colegas ficantes não pudemos gozar as delícias do ninho familiar, nossos superiores compensaram-nos com uma grande surpresa: iríamos passar as férias na cidade do Rio de Janeiro, capital da Guanabara.
Os preparativos para tal empreendimento se fizeram necessários.
Arrumei pequeno enxoval conforme indicação dos superiores e partimos de ônibus pertencente ao Colégio Marista São José do Rio onde ficamos alojados.
Tudo novidade para mim: o cheiro do mangue, logo que entramos na grande planície da baixada de Duque de Caxias bem como o burburinho de uma grande capital.
Estamos hospedados no grande Internato São José, na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca.
Não sei o que me acometeu. Estou espirrando muito desde que cheguei.
A noite está péssima. Os espirros foram intermitentes.
O dia de amanhã promete. Vamos escalar o Pico da Tijuca, o maior da cidade.
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AS FÉRIAS SE APROXIMAM
O ano, ainda para mim cheio de novidades, passou rápido. Papai e mamãe se revezam nas cartas. Estranhei no começo que a correspondência era-nos entregue aberta. Soube que o reitor faz isso para evitar que remetentes mal intencionados busquem minar as vocações religiosas ainda florescentes. A cada missiva a dor da saudade é revivida. Ainda que imerso em ambiente onde todas as necessidades são supridas, eram fortes as lembranças da meninice lá em casa sem compromissos muito sérios senão das brincadeiras de bolinhas de gude, soltar pipas com a carretilha que vovô João construíra para mim, as piculas e brincadeiras de roda. Embora recordasse que eventualmente tinha obrigações proporcionais à meninice: levar o almoço do papai e vender o jornal na porta da igreja, com certeza era muito mais branda do que levantar às seis da manhã e enfrentar as obrigações pertinentes a um internato.
As notícias de lá também não estão muito alvissareiras. Mamãe está acometida de mal nos rins. Minha irmã Conceição, mais nova que eu, está incumbida de cuidar dos manos mais novos. Papai conseguiu um emprego de carteiro nos Correios e Telégrafos por conta de ter sido pracinha na Segunda Guerra lá na Itália, ex-combatente que fora. Nas horas de folga continua costurando para suprir as necessidades da casa.
É com este quadro que tenho que decidir rapidamente o que fazer. As férias de dezembro estão próximas. Serão trinta dias em casa. Tenho que escrever para papai a fim de que venha me buscar e trazer de volta. O prazo para isso é curto. Os correios levam dias para as trocas de correspondência. No entanto não levei muito tempo para deliberar a dolorosa a decisão: não iria de férias. Com isso, papai, em novo emprego, não precisaria se ausentar nem tampouco arcar com as despesas de viagem. E pronto.
Ao invés de escrever que não ia de férias, omiti-lhes que elas existiam. E fiquei junto com uns vinte colegas, dos cento e tantos existentes, sem viajar às nossas terras natais.
Se por um lado eu e os colegas ficantes não pudemos gozar as delícias do ninho familiar, nossos superiores compensaram-nos com uma grande surpresa: iríamos passar as férias na cidade do Rio de Janeiro, capital da Guanabara.
Os preparativos para tal empreendimento se fizeram necessários.
Arrumei pequeno enxoval conforme indicação dos superiores e partimos de ônibus pertencente ao Colégio Marista São José do Rio onde ficamos alojados.
Tudo novidade para mim: o cheiro do mangue, logo que entramos na grande planície da baixada de Duque de Caxias bem como o burburinho de uma grande capital.
Estamos hospedados no grande Internato São José, na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca.
Não sei o que me acometeu. Estou espirrando muito desde que cheguei.
A noite está péssima. Os espirros foram intermitentes.
O dia de amanhã promete. Vamos escalar o Pico da Tijuca, o maior da cidade.
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Visitem Paulo Chinelate
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2 comentários:
Oi, Paulo!
Quero dizer que adoro acompanhar a sua novela. Não perco um capítulo. Gosto da pureza retratada no que você escreve com tanta sensibilidade. Imagino que seja baseada em fatos reais. Parabéns! Um abraço.
Estou adorando a blognovela, Paulo!
Parabéns!
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