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sábado, 9 de maio de 2009

Crepúsculo Vespertino ou Da Vida Livre I - por Leandro M. de Oliveira

Um dia o velho sentou-se do lado de fora da casa, como não costumara mais fazer, a essa altura perdera seu nome original, era chamado apenas velho. Começou a lembrar-se de seus dias em outrora, da época de seu triunfo. Nesse tempo, dizia ele, houvera muitas vitórias. Ele lembrara da mulher e da promessa, da sensação que houve por um segundo de que tudo poderia ser melhor. E assim começou a se questionar:
“Será mesmo que um encontro como aquele, realmente existiu? Não! Claro que não. Nós o idolatramos, em nossas cabeças fizemô-lo melhor que já foi um dia. Eu confiei nos homens e em suas palavras, mas o que resultou disso não foi mais que o cheiro fétido de corpos decompostos. No teatro das boas intenções o aleijo esconde o que falta, o deformado maqueia sua deformidade. O que são os outros além de imagens projetadas? As pessoas passam seus dias em busca da criação de significados maiores que a própria vida, para justificarem a existência a si próprios, isso não passa de sofisma e loucura deliberada. Viver não é mais que ser abortado pela natureza.
O mundo é representação! Ninguém é belo ou poderoso demais sem que um dia lhe aconteça uma desgraça, Édipo furou os próprios olhos ao descobrir que matara seu pai e desposara sua mãe, Héracles um dia após a campanha de Tebas foi punido pela loucura, mantando seus três filhos. Realizar-se é aceitar o fluxo da barbárie, se perder nele. O contrário fatalmente será empresa malsucedida. A história é feita de eventos abomináveis. Não há beleza além daquela que imaginamos. O homem foi erigido por sob a cal da dor e da frustação, supor que pode ser diferente significa aceitar o fardo de eterno Prometeu. Não há futuro, porque o passado foi algo que eternamente não se pode realizar. Esses são tempos de demência. Esperar acreditando num futuro que há de nascer do útero estéril de um passado sem alma é a maior das insídias. É preciso invocar as mil mãos necessárias à tiranização do presente. A esperança é deveras um conceito de escravos!”

As palavras do velho me fizeram estremecer. Depois daquilo ele levantou-se, serenamente, e retornou esquecido à sua cela.



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Um comentário:

Ana disse...

Leandro, rapaz!
Soturnão!
Demais!
ADOREI!
Visitei teu blog achei massa!
Manda mais textos!
Um abraço.