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domingo, 12 de abril de 2009

Fraldinhas Meladas por Trocar - por Bruno D’Almeida

Eu quero um amor intenso. Ser intenso como as noites e dias difíceis, como as montanhas que parecem tão intransponíveis antes de içadas pela força da união. Eu quero um amor tão intenso que até a leveza, o simples, a mais objetiva das ações sejam fruto do fundo do coração. Como sabemos, o fundo do coração é o fundo falso de uma mala, onde se esconde tudo, menos o amor, que perpassa, transborda, inflama.

Mas o amor não é somente uma carreata de choro e presságio de martírio. Eu quero um amor que me chame do mais ridículo dos nomes. Um amor que tenha canção nossa, mesmo que seja banal, boba ou até jingle de comercial, não importa. É verdade que nada disso é importante, o amor não está nas propagandas, e sim nas sensações humanas. Chorei ao ver uma propaganda de fraldas descartáveis. Tem gente que chora de mentira ao ver um quadro famoso, e gente que chora de verdade ao ouvir uma música brega. Eu lembro de você na poesia daquele escritor, no vestido de qualquer cor da vitrine da loja, na mulher sorrindo para a câmera dizendo Hellman’s, a verdadeira maionese.

Desculpe-me, eu quero o amor mundano mesmo, eu já desisti de um amor ideal há tempos. Eu quero sua cara amassada de manhã, sua preguiça de ir ao banheiro, sua pele suada e salgada, suas caretas naturais e forçadas, suas calças encardidas, sua língua esbranquiçada, e suas doidas e sinceras declarações de amor. Eu quero seus beijos de madrugada, seus abraços de oito braços, e esse jeito de achar que tudo na vida tem jeito, menos os seus cabelos rebeldes.

Vamos ganhar um rebento e isso é coisa mais importante que faremos nessa existência. Quero vê-lo engatinhando ou andando pela casa, balbuciando papá, papá, o tempo todo. Que tenhamos mais contas a pagar do que saldo bancário, nada vai tirar o gosto do novo eletrodoméstico e da cama nova de lastro rígido. Eu te amo na conquista das pequenas coisas. Podemos antecipar projetos que tínhamos para o futuro, mas se o fizermos agora será também o futuro que passaremos a construir.

Meu amor, agora que vamos ser uma família completa, juntinhos, muito mais grudados do que chiclete debaixo de qualquer carteira escolar, eu quero te dizer apenas que te amo, e fazer dessa pequena palavra uma imensidão de realizações para te fazer feliz. O amor é a única palavra onde o significado está muito além dela. O amor estava passeando pelo ar, solto, quando pousou em nossos corações dizendo cheguei, ponham mais água nesse feijão, mais uma semente no mundo e, além de tudo, acordem para o maior sentido desta vida: ser uma família: painho, mainha e aquela coisinha fofinha, lindinha, chorando singelamente por sua fraldinha melada por trocar.


(Escrito quando soube que iria ser papai.)
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4 comentários:

Manhosa LobaVirtual disse...

Esta me fez chorar...
Saudades de um todo... de uma historia bem vivida... lá longe...
Obrigadoooooooo...

Feliz Páscoa

Bjs.

Bruno D´Almeida disse...

Obrigado, Manhosa! ser papai foi e é a coisa mais importante da minha vida.

Clarice A. disse...

Bruno
Muito bonita a sua crônica, expressa todo o amor que um homem sente ao ser pai. Quando pequenos, são os engarrafamentos nos nossos lençóis,depois vem as perguntas, depois ficam cheios de si mas cheios de inseguranças, depois as ou os namorados, casam-se e repete-se o ciclo dos engarrafamentos e etc, etc. Adultos, somos questionados e atualizados com sua nova visão do mundo, amigos e companheiros. Felicidades nessa sua nova jornada.
Um abraço se sua admiradora
Clarice

Ana disse...

Adorei a crônica, Bruno!
Parabéns mais uma vez!