Ela tem 10 anos e veio passar o final de semana comigo. Pensei em como poderíamos nos divertir, mas na bagagem, ela vinha trazendo livros e cadernos porque tinha que estudar, recomendava o pai. É que agora nas escolas existem muitos trabalhos, atividades e provas. Assim, crianças da 4ª série, na minha época chamada de curso primário, já precisam estudar, inclusive nos fins de semana. Como resolveríamos esta questão? Afinal, ela estava comigo para enriquecer algum outro aspecto de sua vidinha, eu imaginava. Resolvi que faríamos todas as tarefas e estudaríamos livros e cadernos de um jeito bem tranquilo, divertido, sem stress. E, principalmente, sem comprometer o precioso tempo destinado ao outros aprendizados.
Ela havia chegado na sexta-feira à noite, pois fica todos os dias no integral até as 18 horas. Então só deu para jantarmos, vermos um pouco de televisão e irmos dormir, já que para estar na escola às 7 horas, o ônibus escolar a pega em casa às 6 horas e ela acorda às 5:30.
Fico admirada de como a vida das crianças de hoje é sacrificada. Aí entendo porque as fobias, úlceras e doenças de pele são tão prevalentes.
Então, no sábado, depois do café, saímos para andar um pouco pela rua e pegar sol, olhar as pessoas. Descobri que ela tem horror a cachorro e medo de sair na rua, medo aprendido com o pai já transtornado pela violência da cidade. Voltamos e iniciamos os estudos. Enquanto ela estudava, eu a ajudava e lhe ensinava a cozinhar também. Intervalos para brincadeiras e orientações várias sobre relacionamentos com colegas e professores, táticas para estudar mais rápido, como secar os cabelos, como cuidar das unhas etc. Ela descobriu que estudar podia ser divertido, interessante, sem preocupações com resultados de provas, visando apenas o conhecimento. Na tarde de sábado, já tínhamos conseguido completar as tarefas e o estudo.
Foi aí que ela me mostrou um livro que teria de ler ainda naquele dia, com 60 páginas, falando como se fosse uma horrível condenação. Mostrei a ela o gosto pela leitura e como os livros nos enriquecem. Lemos juntas, cada uma um capítulo. O livro era fantástico: A Fada que Tinha Boas Ideias, de Fernanda L. de Almeida. Propus a ela que lêssemos dramatizando as falas. Ela adorou, leu direitinho, entendeu e interpretou fadas, bruxas, cometas etc. Foi demais!
Ao ir dormis, no sábado à noite, estava em dia com todas as obrigações e assim poderia ter o domingo livre, sem pensar em escola (que a mente precisa se afastar de tudo, periodicamente, para descansar). Na manhã de domingo brincamos de karaokê porque ela iria embora à tarde para almoçar com o pai. Cantamos, dançamos, pulamos, gritamos. Eu me soltei, liberei tudo, me diverti demais. Rimos de gargalhar cantando a música do sapo que não lava o pé, com a e i o u. Foi libertador.
Hoje, segunda-feira, liguei pra ela às 5:30 e falei assim: “I sipi ni livi i pi, ni livi i pi piqi ni qi...” E ela dobrou de rir. Estamos começando uma nova semana leves, renovadas e, sobretudo, felizes.
Visitem Alba Vieira
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Um comentário:
Gracinha!...
Adorei!
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