Aparentemente eles se entendem como irmãos que não são. Os três - as duas moças e o ajudante.
Sua lida diária começa já de madrugada, quando eles - cada um partindo de sua casa - encontram-se pontualmente às três da manhã, no local de abastecimento, para a escolha frenética dos produtos, sua separação e armazenamento.
Lá, sequer têm tempo para um pequeno café. Pelo que comentam, até as seis da manhã a corrida pelo ouro é grande.
Seu cansaço fica imperceptível quando, já no ponto de vendas, revezam-se na atenção aos clientes.
No entanto, na minha visita anterior, notei o quanto é grande a concorrência entre os três.
Uma das moças é a responsável pelo caixa e assume ares de dona do veículo e de sua carga.
Acho mesmo que é ela a encarregada do transporte. Chamaram-me a atenção seus gestos másculos e firmes e seus músculos do braço acentuados demais para uma mulher. É a que mais fala, enquanto recebe o dinheiro e dá o troco. Elogia-se quase sem sentir e engrandece os produtos, como se fosse ela a única peça naquele movimento.
A outra moça é responsável por separar as verduras, memorizar quantas cada cliente ensacou e colocar os ovos em dúzias, nas caixinhas apropriadas. Se algum dos clientes informa à caixa quantidade inferior àquela que tem na sacola, ela se apressa a corrigir o erro e fazer o cliente pagar o valor correto. Não sei como consegue fazer as vezes de um computador, memorizando sempre o exato, esteja a fila pequena ou quilométrica.
O rapaz é o responsável por colocar e tirar as sacas de cima da balança, enquanto a caixa digita o valor do quilo. Seus braços fortes dançam ritmados naquele tira e põe sem cessar. Cuida também de informar aos clientes os preços dos produtos selecionados, como frutas e legumes fora de época, que por essa razão, variam de preço. Se ele se engana na informação, aquela que parece ser a gerente, corre a corrigi-lo com energia na frente dos demais.
Percebi que os três se fiscalizam e não apreciam muito o trabalho que fazem.
Já pelo menos há cinco semanas, com a permissão da gerente, me utilizo dos serviços do ajudante que transporta minhas compras até minha casa. Ela mesma sempre fez questão de mandar fazer a entrega, pois é do seu total interesse que eu acumule bolsas e mais bolsas com seus produtos.
Nesse final de semana, os produtos estavam por demais selecionados, o que me fez exceder nas compras, no que fui acompanhada por um grande número de clientes.
Como sempre, acabei de pagar e pedi pelo entregador. De pronto, a gerente negou, passando um sermão no coitado na frente de todos que ali estavam, enfatizando seu interesse em ganhar a minha gorjeta, que só ficaria para ele.
Estupefata, ameacei deixar as sacolas e fazer com que ela devolvesse meu dinheiro, quando apressou-se a me acalmar, dizendo que eu era sua cliente especial. Não percebeu, na sua ignorância, que com isso arrematava a ira da fila que, depois do comentário, não se julgou tão especial assim.
De súbito, deu ordens para que o ajudante trouxesse minhas compras.
Descobri então a causa da questão - é que há duas semanas atrás eu tinha presenteado o ajudante com sapatos, sandálias e camisas do meu marido que, em desuso, julguei pudessem ser melhor aproveitadas por alguém mais necessitado. E eu, que sempre os via felizes e puros no seu trabalho braçal, concluí, então, que nem sempre o que parece é.
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Um comentário:
Adir:
Estava sumida, heim?!
Mas reapareceu poderosa!
A-DO-REI!!!!
MUITO BOM!!!!
Você está cada vez melhor!
Parabéns!
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