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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A Quinze Contos - por Jorge Queiroz da Silva

Era uma senhora oriunda do interior de Minas Gerais, dona de uma prole respeitável e que morava na mesma rua em que eu morava.
Ninguém se interessava em saber seu nome. O povo da localidade, no início, só a identificava como sendo uma lavadeira que lutava pela vida.
Souberam que, num determinado dia, a sorte havia lhe sorrido, pois o seu marido, que era um ajudante de pedreiro, por ter adquirido um bilhete da loteria federal, foi contemplado com a chamada “sorte grande”.
Desse dia em diante, essa senhora, que era bem pobre, cheia de filhos, que lavava muitas roupas para fora e sempre descia a rua com enormes trouxas de roupas na cabeça, sumiu do cenário, por um determinado tempo, chegando a fazer as pessoas pensarem que ela havia morrido.
Qual o quê! Quando ela voltou… desfilava imponente pelas ruas, exibindo elegantes trajes acompanhados de desafiadores saltos altos que ela mal sabia conduzir.
Em companhia do marido, o ex-ajudante de pedreiro que também passou a trajar belos ternos, de alta costura com lindas gravatas e chapéu panamá importados, ia ela se fazendo notar.
Passaram, por isso, a despertar uma grande curiosidade das fofoqueiras vizinhas, que ficavam tentando descobrir, a qualquer preço, o motivo da grande mudança.
Elas, que antes nunca se preocuparam em saber o seu nome, foram se chegando devagar para perguntar porque ela havia mudado da “água para o vinho”.
Com surpresa, receberam daquela que era uma humilde lavadeira, a seguinte resposta:
- Vocês, de agora em diante, podem me chamar de “quinze contos”, pois o meu marido ganhou, no mês passado, o primeiro prêmio da Loteria Federal. Tirou a sorte grande.
Depois desse dia, só se ouvia falar, naquela região, “lá vem quinze contos”, “quinze contos, para cá”, “quinze contos, para lá” e a antiga lavadeira passou a tirar onda com todas as maiores curiosas do bairro!
Eu, menino ainda, ficava sem entender nada, pois para mim “quinze contos” era nome de dinheiro e não de uma pessoa!

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