Num destes dias em que a gente passa por um lugar da infância em que viveu e fica pensando, meditando, passando um filme pela cabeça, de quedas, lugares, pessoas, quedas, choros, descobertas e mais quedas (pois é, tenho ambliopia, doença de nascença que limita em dez por cento a visão do olho direito – até descobrirem eu vivia caindo e colecionando cicatrizes na cabeça). Eu vi o muro! Famoso muro de pedras em que eu pulava, juntamente com os meus amiguinhos do nada-tudo-por-fazer, em atos heróicos de exibicionismo e de alegria de criança mesmo.
Fui de imediato ao encontro do muro, esqueci até do que ia fazer naquele dia. Aliás, este momento se tornou o ponto máximo do meu dia. Eu ia ao encontro do muro como quem encontrava a infância, como quem tinha um encontro marcado consigo mesmo, onde poderia olhar pra mim e dizer “nossa, como você cresceu”. Olhei para o muro, aquele colosso dos meus primeiros anos não passava de um parapeito de escada. Agora ele era minúsculo, um pouco acima dos meus joelhos de adulto. Eu apenas sorria e não acreditava.
O muro foi um obstáculo na minha vida que parecia intransponível. Difícil de passar adiante como muitas outras coisas, como o medo de andar de ônibus sozinho, a descoberta de que um dia ia morrer, a primeira vez que me perdi de meus pais na praia e guardei durante todo tempo um pedaço de cachorro-quente, o dia que comecei e terminei a escola, todas as provas, todos os professores, todos os amores perdidos e encontrados, todos os medos. Parecia uma barreira insuperável o vestibular. Na faculdade, era uma batalha me formar. Formado, a briga era pra me firmar. E assim fui superando cada obstáculo.
A melhor maneira de medir o tamanho da dificuldade é medir o tamanho do muro. Pude me tornar maior do que ele, mas para superá-lo, tive que respeitar o fato de que, um dia, ele merecia um sacrifício imenso para realizar. Foi a minha Grande Muralha da China. Senti uma coisa estranha ao constatar, sentado no muro, de que as coisas na minha vida podem até ser difíceis agora. Aguardo ansiosamente o dia em que se tornarão janelas de açúcar, em que poderei abri-las e saboreá-las como doces finos de maracujá e de limão.
Fiz uma coisa fantástica naquele dia. Essas coisas que só a gente sente prazer e ninguém entende nada. Todos olhavam para aquele adulto sem noção de juízo que pulava feito bobo de um parapeito de escada ridículo. E eu era o sorriso mais singelo, mais sublime, que não se encontrava no rosto de ninguém que passava na rua naquele momento. Que venham mais muros, mais desafios e coisas importantes a conquistar nessa vida.
Fui de imediato ao encontro do muro, esqueci até do que ia fazer naquele dia. Aliás, este momento se tornou o ponto máximo do meu dia. Eu ia ao encontro do muro como quem encontrava a infância, como quem tinha um encontro marcado consigo mesmo, onde poderia olhar pra mim e dizer “nossa, como você cresceu”. Olhei para o muro, aquele colosso dos meus primeiros anos não passava de um parapeito de escada. Agora ele era minúsculo, um pouco acima dos meus joelhos de adulto. Eu apenas sorria e não acreditava.
O muro foi um obstáculo na minha vida que parecia intransponível. Difícil de passar adiante como muitas outras coisas, como o medo de andar de ônibus sozinho, a descoberta de que um dia ia morrer, a primeira vez que me perdi de meus pais na praia e guardei durante todo tempo um pedaço de cachorro-quente, o dia que comecei e terminei a escola, todas as provas, todos os professores, todos os amores perdidos e encontrados, todos os medos. Parecia uma barreira insuperável o vestibular. Na faculdade, era uma batalha me formar. Formado, a briga era pra me firmar. E assim fui superando cada obstáculo.
A melhor maneira de medir o tamanho da dificuldade é medir o tamanho do muro. Pude me tornar maior do que ele, mas para superá-lo, tive que respeitar o fato de que, um dia, ele merecia um sacrifício imenso para realizar. Foi a minha Grande Muralha da China. Senti uma coisa estranha ao constatar, sentado no muro, de que as coisas na minha vida podem até ser difíceis agora. Aguardo ansiosamente o dia em que se tornarão janelas de açúcar, em que poderei abri-las e saboreá-las como doces finos de maracujá e de limão.
Fiz uma coisa fantástica naquele dia. Essas coisas que só a gente sente prazer e ninguém entende nada. Todos olhavam para aquele adulto sem noção de juízo que pulava feito bobo de um parapeito de escada ridículo. E eu era o sorriso mais singelo, mais sublime, que não se encontrava no rosto de ninguém que passava na rua naquele momento. Que venham mais muros, mais desafios e coisas importantes a conquistar nessa vida.
Visitem Bruno D’Almeida
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2 comentários:
Bruno:
Como sempre, MUITO BOM!
Concordo plenamente!
Que venham os muros! De preferência, não gigantescos... Ai, covardia... rsrs
Ah, se o muro for gigantesco, a gente escala, ou paga uma passagem de avião dividida em dez vezes no cartão de crédito! Valeu pelo elogio! Beijos!
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