de viver pendurado
aqui e ali, e sufocado
pelos guarda-roupas do mundo!
Estou perplexo ora…
diante de pintar
uma roupa nova!
que estou prestes
a vestir agora…
Já fui um assíduo hóspede
de diferentes tipos de armários
e desde o início da minha vida
suportei sempre,
otimista e esperançoso,
e também muito orgulhoso,
a minha forma de ser!
Com os enormes sobretudos
e os cintos com fivelas pesadas
e o charme das gravatas
de todas as grifes famosas…
guarda-chuvas, capas, calcinhas
e roupas de lantejoulas enfeitadas.
Até morei em guarda-roupas
de uma a seis portas
e onde sempre estive
só, isolado e abandonado,
mas nunca mal humorado…
mesmo que, às vezes, cercado,
de muitas traças, baratas e cupins…
Mas hoje, por força do destino,
eu me alojo num canto,
de um maravilhoso modulado
bem projetado,
espaçoso, inteligente,
brilhantemente construído,
num projeto bem bolado…
onde eu me sinto feliz.
E que, talvez, por obra
da minha simples história,
que me obrigou a levar sempre
uma vida tão inglória…
Me fazia viver, como sempre vivi,
esmagado contra uma parede
interna e fria,
e também muito isolado,
e na espera ansiosa
de que alguém um dia pudesse
olhar pra mim…
E viesse a me avaliar
por toda a minha trajetória
de um trabalho penoso
e que pudesse, ainda,
vir a modificar
a minha longa vida
de um esperançoso cabide
que já não tinha onde morar…
E mudando assim,
com certeza,
o seu sentido,
apoiado na minha experiente
e persistente vontade,
a minha clareza
de mudar todas as histórias
e colocar nos meus ombros
toda a leveza das roupas
macias, suaves, cheirosas…
Mas hoje, felizmente,
eu já sou propriedade
de alguém muito bondoso
e inteligente…
que me ama de verdade!
Que, com certeza,
me fará viajar
por um mundo diferente,
para viver, certamente,
um outro tipo de vida
que me tornará
um cabide de um suporte
de vidas experientes…
E pelas mãos
desta minha nova proprietária,
vou, com certeza,
conhecer lugares de elite
e enfartando, assim,
toda a minha velha experiência
de uma vida de ausências.
E eu sempre lembrarei
que entrei e morei
em armários de colégios,
passei por quartéis,
e me hospedei em hotéis
de uma a cinco estrelas,
e até dormi
em hospitais,
em vestiários de clubes
e também pernoitei,
algumas vezes,
em pensões vagabundas,
e em algumas malas de viagens
fiquei às vezes esquecido,
junto de um terno velho
e já puído pelo tempo…
Completando, assim,
meu curso perene
da vida de um cabide
muito experiente e sofrido,
do pendura aqui e pendura ali,
sem nenhum luxo
e sem nenhuma vaidade.
E, por todos estes motivos,
eu me considero, hoje,
um velho cabide
ciente e muito trabalhador…
conhecedor, sem dúvida,
das principais facetas
da vida, da dureza e do amor…
Mas nunca me achei
ser um cabide vaidoso
que já abrigou em seus ombros
fraques, cartolas,
vestidos longos,
e fardões importantes,
tudo lindo e maravilhoso,
que só fornecem à vida
um mundo de elite,
um mundo de ilusões
e um mundo enganoso…
.
Um comentário:
Comentário por Ana — 23 janeiro 2009 @ 10:57
Gostei da comparação! Muito legal!
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