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sábado, 31 de janeiro de 2009

Saudade - por Alba Vieira

Era uma árvore copada que ocupava quase a extensão de duas casas da rua. Vivia num terreno enorme de esquina e, pela posição em que se encontrava, o solo quase nunca incidia sobre ela. Talvez isso mesmo é que lhe conferisse aquele ar misterioso. As outras árvores, no mesmo terreno, situavam-se bem distante dela. Mostrava-se majestosa, de tronco muito largo e galhos que se ramificavam indo bem longe. Suas folhas agora eram verde-escuro, completamente desenvolvidas, o que permitia garantir uma sombra imensa ao sol que, por isto mesmo, só apresentava pequenos arbustos. Era uma linda mangueira que, por sua singularidade, puxou imediatamente minha atenção enquanto passava por ela dentro de um ônibus. A partir deste momento, ela, grandiosa, passou a ocupar minha mente que não tinha lugar para outro pensamento que não fosse relacionado ao que ela me inspirava.
Quem não possui uma mangueira especial na história de sua infância?
E lá estava eu, de volta às brincadeiras no quintal de casa com os irmãos, onde adorava brincar de enterrar tesouros entre suas raízes. E era outra vez a bruxa que cozinhava ervas no fogãozinho (presente de uma prima), no qual ateei fogo uma vez, tendo ficado com o esmaltado amarelinho ao invés de branco. E agora me balançava solta e livre, empurrada por meu pai que era sempre chamado pra dar impulso ao balanço que ficava pendurado no galho mais forte de sua copa, onde sonhava sonhos de menina e me arrepiava quando, depois de um empurrão mais forte, quase conseguia dar a volta no trajeto de lá pra cá. Ouvia os pássaros que cantavam nos seus galhos todas as manhãs, que ainda hoje me trazem saudade do meu pai, que os imitava dizendo: bem-te-vi, bem-te-vi… E podia, ainda agora, sentir nos cabelos o vento forte e ouvir o som amedrontador naquela tarde de ventania em que fui encorajada por minha mãe a ir pegar as mangas que rolavam no chão depois de sacudidas do pé. Quanta saudade! Do pai, da mãe, dos irmãos!
Mas, sobretudo, da criança que mora ainda em mim e que é livre, confiante, sensível, adora novidades, embora ainda guarde alguns medos.

P.S. - Acabei de reler o texto e descobri o motivo daquela árvore ter me chamado tanto a atenção: aquela mangueira, com todos os seus atributos, representa tudo que era minha mãe.
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3 comentários:

Anônimo disse...

Comentário por escrevinhadora — 31 janeiro 2009 @ 18:55

A árvore da minha vida era uma jabuticabeira. Uma não, várias, já que no quintal havia uns 8 ou 9 pés de jabuticaba.
Sinto falta do sabor daquelas frutinhas. Se fecho os olhos e me concentro ainda posso sentir o cheiro acre das frutas que caíam no chão e fermentavam na umidade entre as folhas.
Ouço o zumbido dos marimbondos que vinham furar os frutos antes mesmo que amadurecessem por completo.
Ainda me vejo subindo rápida pelo tronco das árvores pra chegar lá em cima, no galho mais fino, onde as jabuticabas eram mais saborosas.
Quase ouço minha avó me advertindo pra não comer frutas verdes senão iria passar mal.
Será que o nome disso é saudade?

Anônimo disse...

Comentário por Alba — 1 fevereiro 2009 @ 20:23

Já que este texto trouxe reminiscências da infância, com seu comentário lembrei-me que em minha casa havia a mangueira do tetxo e um mamoeiro que me pertencia, com quem eu conversava quase diariamente e, anos mais tarde, vi na televisão algo parecido quando transformaram em novela “O Meu Pé de Laranja Lima”. Foi legal relembrar isto agora.

Anônimo disse...

Comentário por Ana — 6 fevereiro 2009 @ 11:09

Muito linda a relação que você fez entre a árvore e sua mãe! Parabéns pelo texto. É muito bonito também!