Nascer.
Vir do conforto absoluto
para o ambiente hostil do mundo.
Hostil, no sentido de
contraste.
Ao ar livre, já não
depender
do oxigênio em via líquida
que nos chegava pronto.
Chorar.
Chorar para aprender
que a vida não é fácil
e para aprender a respirar,
tirar do ar o mesmo oxigênio
que nos chegava pronto...
Chorar,
porque de repente a fome se
manifesta,
um vazio ardente que antes
não existia nos invade.
E sugar o leite porque,
se não movimentarmos os lábios
por nossa própria conta,
ele não vem.
Chorar,
quando algo sai de nós e
incomoda,
queima a pele e cheira mal,
nas coxas pelo lado interno
e nas nádegas...
Chorar até a aparição
reconfortante
daquele risonho semblante,
que aparece preocupado em
nosso campo de visão
pra nos limpar e acalmar.
O mesmo que nos tinha alimentado...
Chorar,
quando essa visão
reconfortante
do nosso porto seguro está
distante;
e ansiamos que ela volte pra
nos carregar...
E vai nos carregar cada
vez menos...
Falar, andar, interagir...
Entender esse mundo hostil
fora do lar,
cada vez mais
e mais urgentemente.
Acordar,
um dia e de repente,
já sabendo tantas coisas,
conhecendo tanta gente.
Estudar,
querendo saber mais
do passado e do pra frete...
Observar o mundo ir
diminuindo,
progressivamente,
enquanto ficamos maiores,
mais espertos,
presumivelmente...
Amar,
já não mais só o amor geral,
ou familiar,
mas descobrir um outro ser
com quem você quer ficar
alguns momentos ou pra
sempre...
Voar,
achando que já sabemos tudo,
desprezando o passado
como se houvesse só o
presente.
Achar que a maturidade
pode ser entusiasmante
e, sem perceber,
ir ficando displicente...
Desperdiçar tanta
energia importante
em coisas sensacionalmente
superficiais;
ou tão irrelevantes
que chegam a ser
sensacionais...
Viver
tantas realidades mescladas
de ilusão.
Olhar pra trás confiante,
cheio de sabedoria e
sensação.
Mas,
um belo dia vai chegar,
encararemos nossas próprias
mãos.
Será o dia de pesar prós e
contras,
ruins e bons,
respirar imaginando se valeu
a pena,
avaliando ações,
sentimentos,
luz e sons.
Aspirar
uma tranquilidade de
paisagem a contemplar,
sem responsabilidade.
Na verdade
é outra ilusão...
A necessidade de saber e de
agir nunca cessa;
vai durar
até o dia desse nosso ciclo
se fechar.
[Adhemar - São Paulo,
16/02/2019]
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