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domingo, 30 de dezembro de 2012

SATURNINO DEZEMBRO DE 2012

- Boa noite, gostaria de agendar consultas para o mês de janeiro. Me foge o nome da psicóloga... sei que o sobrenome é dos Anjos.
- Boa noite, senhora, tem em mãos o código de cliente e guia autorizada?
- Sim.
Balbuciou desanimada: só falta a estrela
- Perdão, senhora, não ouvi a ultima frase.
- Que frase?
- A senhora falou que tinha a guia e faltava algo, não compreendi exatamente, mas escutei que faltava alguma coisa. É que a senhora falou de um modo que não deu para ouvir bem.
- Perdão, como se chamas?
- Saturnino senhora
- Saturnino?
Rui sem a menor preocupação diante da formalidade do atendimento que a entediava ainda mais. Estava cansada, passou o dia cuidando dos afazeres domésticos e sobretudo do filho de 4 anos que se recuperava de uma otite.
Era aproximadamente 23h quando sentou para agendar as consultas mensais. Em seguida daria continuidade a rotina de estudos planejado com certa expectativa. Estava tensa, cansada dos incansáveis telefonemas e agendamentos médicos. Cercada por pessoas que viviam suas vidinhas sem poesia, pessoas do outro lado da linha, do outro lado da tela, do outro lado na multidão. Pessoas que iam e viam ao encontro da menina dos olhos que se perdia na solidão.  Finalmente descontraiu, mais uma zombaria do destino... o nome do tal atendente tinha que remeter a um planeta? Logo ela que vivia no mundo da lua... Pelo visto a estrela era mesmo inalcançável...
- Desculpe senhor, Sat, não consigo conter o riso, mas qual é mesmo o seu sobrenome?
- Saturnino senhora.
- Ok e o primeiro nome
- Getúlio
- Getúlio? Um tanto quanto patriótico, Get. Seus pais são mais devotos da era Vargas ou da espacial? Desculpe a brincadeira tenho que descontrair tive um dia cansativo
- Não se preocupe senhora estou aqui para atendê-la, fico feliz que esteja de bom humor.
- Imagino que lidar com o publico exige muita psicologia, se surpreende que eu esteja de bom humor?
- Sim, a maioria das pessoas que entram em contato com a central de agendamentos são breves e em alguns casos estressadas .
- Sinto muito em saber que tens que lidar com tais situações, logo o senhor que é tão educado
- Não se preocupe senhora, na maioria das vezes finalizamos o dialogo com a sensação de termos feito mais um amigo
- Amigo? Consideras o nosso dialogo como sendo o inicio de uma amizade? Amizade descartável o senhor que dizer rsrs.
- Senhora Júlia, qual é mesmo o seu sobrenome?
- Serafim e não me venha com o trocadilho interrogativo, senhor Saturnino.  À propósito o sobrenome da psicóloga é dos anjos, e é tudo que lembro.
- Verificarei a agenda de janeiro, Julia Serafim. Desculpe perguntar há quanto tempo a senhora é paciente?  Só mais um momento, por favor. Ah, doutora Mara dos Anjos.
- Que diabos, como fui esquecer um nome assim... Mara? Ah, quer saber essa historia de nome e sobrenome me inspirou.  Devo escrever algo sobre a nossa conversa e o fato de não ter mencionado o esforço que faço para ouvir sua voz distante. Deve ser por causa do sistema.
- Sistema?
- Sim, o sistema solar rsrs. Desculpe, perco o amigo, mas não perco a piada.
- Senhora Júlia?
- Pode falar, por acaso o senhor não viu um cometa? Ah me desculpe, de repente me senti tão descontraída. Ok, vou me conter.
- Tudo bem, Júlia. Nesse horário são raros os agendamentos.
- É Saturnino, só os insones resolvem trabalhar ou agendar consultas. E olhe que tenho um plano de estudos para iniciar assim que desligar. Correria essa vida...
- Sei como é, tenho dois empregos.
- Suponho que a energia que lhe sobra é por que lhe falta a mulher da sua vida.
- Mulheres...
- Homens...
- A senhora é casada, tem namorado etc?
- Hahaha que vingativo. Ok, sou divorciada e pode me chamar de irmã. Meu marido agora é a disputa por um bom emprego (agente da polícia federal).
- Nada como um dia após o outro.
- Pois é e por falar nisso teria vaga para janeiro?
- De emprego ?  (em tom irreverente) brincadeira (risos). Pode ser em fevereiro?
- Ok pode agendar, quando é mesmo o carnaval? Por favor marque para depois, por favor.
- Posso agendar para o dia 8?
- Sim e é uma pena ter que desligar depois de finalmente marcarmos. Podemos manter contato? Quero te mostrar o que posteriormente escrever, afinal você me inspirou?
- Pode deixar que eu retorno.
- Ok, fico no aguardo, Batman. Beijos.
Após verificar o cadastro, uma súbitacuriosidade despertara. Tinham quase a mesma idade. Ela era de julho e ele de dezembro. Moravam em bairros distantes. Ambos eram divorciados. Perguntou a si mesmo o que levaria aquela mulher, que ria de tudo, a procurar um psicólogo. Teria sido por causa do divórcio ou será que sofria  algum tipo de distúrbio? Será que também se consultava com psiquiatras? Diante do dilema ético e profissional, a curiosidade foi maior e tocou do outro lado...
- Olá, esta me ouvindo melhor agora?
- Saturnino, você me ligou mesmo?
- Sim e também gosto de escrever. Escrevo reflexões. A ligação está melhor? Te ligo do celular.
O diálogo se deu com naturalidade e é sabido que havia um tom muito agradável entre eles. Quando já estavam prestes a se despedirem, Júlia perguntou:
- Ei, saturnino, mudando de assunto gostas de carnaval?
- Um pouco e você?
- Das fantasias, é uma pena que haja tanta m...lícia.
- Escutei uma interferência e não pude te ouvir bem. Você falou milícia?
- Milícia é o que mais falta, quis dizer malícia mesmo.
 É incrível como uma única vogal muda completamente o sentido da palavra.


 
 
 

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