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quinta-feira, 21 de junho de 2012

As Botas do Diabo - por Leo Santos


Uma expressão comum nos meus existenciários interioranos, é mandar um desafeto para os “cafundós do Judas”. A ideia é de um lugar distante, inóspito, indigno, onde deve o nefasto ex-apóstolo, morar.
De onde teria surgido essa cultura contida no imaginário popular? Será que a dignidade de um ser humano associa-se, necessariamente, ao seu habitat? Na verdade, o dito cidadão era o tesoureiro do cristianismo em gestação, se bem que, Cristo, nunca deu a mínima para dinheiro.
Em seus bordejos, Judas esteve no Sinédrio negociando a venda de seu Mestre, de modo que frequentava lugares elevados, antes que viver em cafundós.
Outros, desejando “exorcizar” desafetos mandam pra onde “o diabo perdeu as botas”, possivelmente, o mesmo lugar. Na verdade, o diabo frequenta púlpitos, e Judas mora no Congresso. A diferença é que domou antigos escrúpulos a tal modo, de substituir a forca pelos discursos sofísticos.
Isso de associar a condição moral ou espiritual ao “status quo”, à condição social de alguém, jamais derivou dos ensinos de Jesus; Ele disse: “acautelais-vos da avareza, pois a vida de qualquer um, não consiste na abundância do que possui.” Daí, que se pode viver nos “cafundós” e ser íntegro, santo.
Alguém disse, acho que foi Einstein, que “a tradição é a personalidade dos idiotas”. Discordo em parte, pois há preciosidades mantidas atavicamente; porém, repetir coisas sem pensar, apenas porque as ouvimos, nos coloca sob aquela pecha. Como disse Henri Ford, “pensar é trabalho mais duro que há; essa, talvez, seja a razão porque tão poucos se dedicam a isso.” Quando li duvidei, depois, “trabalhei” um pouquinho e me refiz.
O drástico é que grande parte do neocristianismo explora a miséria social como filão, prometendo céu na terra em troca de grana, a uma geração estúpida por não trabalhar os neurônios. Ah, se pensassem um pouquinho! Mandariam essa choldra para os cafundós do Judas...

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