Ontem estava eu aguardando minha vez para ser atendida no banco e calmamente, como se fosse possível, estava de olhos e ouvidos atentos a tudo o que se passava a minha volta.
O banco em que tenho conta oferece aos correntistas aposentados cadeiras confortáveis, ar-condicionado e cafezinho até as 11 horas da manhã.
Todo esse conforto faz com que aqueles que esperam, enquanto o fazem, relaxem e não reclamem da morosidade com que os caixas e clientes idosos interagem.
Não demorou muito para que sentados atrás de mim, uma mulher de uns sessenta e poucos anos, com os cabelos mal pintados de um louro chamativo e trajando roupas joviais demais para sua idade, iniciasse uma conversa com um outro senhor, mais recatado à primeira vista.
A princípio, a conversa dos dois - ela falando num tom mais alto do que ele - discorria sobre banalidades, como temperatura do dia, má condição dos meios de transporte etc.
Não tardou para que a tal mulher começasse a contar a própria vida para o senhor desconhecido, mesclando cada frase com um tom sofrido de mulher abandonada pelo marido há vinte e sete anos e com um filho que, já adulto, não trabalha e lhe dá todas as dores de cabeça financeiras, as quais não pode arcar com sua parca aposentadoria de um salário mínimo.
O senhor rebatia suas queixas com frases aprendidas com sua mãe, que lhe ensinara que na vida as preocupações não valem de nada e que devíamos aproveitar a vida para tratar do corpo e da mente com exercícios ao ar livre. Gabava-se de a cada manhã percorrer mais de cinco quilômetros aos setenta e um anos.
Seu otimismo não colocava por terra o pessimismo de sua interlocutora.
Achando hilário tal papo, firmei meus sentidos naquela conversa.
O que mais me chamou a atenção foi o fato de que a mulher, como a se oferecer para o tal senhor, já não mais ouvia o que ele dizia, só fazia repetir frases com uma constância doida.
Dizia ela, sem esperar resposta:
- Todo dia digo para o meu filho: qualquer hora vou arranjar um coroa sacudido para me bancar!
- Mas o senhor não parece ter setenta e um anos, estou bege com sua afirmação!
- Sua pele é tão lisinha...
- Onde o senhor mora? Mora em casa ou apartamento? É grande? Sua aposentadoria dá para o senhor viver?
- O senhor é viúvo ou solteiro?
- Sabe que eu gostei do senhor?
Vi ali comportamentos adolescentes, tanto de um como de outro e, confesso, fiquei com medo.
Será que quanto mais nos aproximamos do fim, mais estamos retornando a nossa infância?
O banco em que tenho conta oferece aos correntistas aposentados cadeiras confortáveis, ar-condicionado e cafezinho até as 11 horas da manhã.
Todo esse conforto faz com que aqueles que esperam, enquanto o fazem, relaxem e não reclamem da morosidade com que os caixas e clientes idosos interagem.
Não demorou muito para que sentados atrás de mim, uma mulher de uns sessenta e poucos anos, com os cabelos mal pintados de um louro chamativo e trajando roupas joviais demais para sua idade, iniciasse uma conversa com um outro senhor, mais recatado à primeira vista.
A princípio, a conversa dos dois - ela falando num tom mais alto do que ele - discorria sobre banalidades, como temperatura do dia, má condição dos meios de transporte etc.
Não tardou para que a tal mulher começasse a contar a própria vida para o senhor desconhecido, mesclando cada frase com um tom sofrido de mulher abandonada pelo marido há vinte e sete anos e com um filho que, já adulto, não trabalha e lhe dá todas as dores de cabeça financeiras, as quais não pode arcar com sua parca aposentadoria de um salário mínimo.
O senhor rebatia suas queixas com frases aprendidas com sua mãe, que lhe ensinara que na vida as preocupações não valem de nada e que devíamos aproveitar a vida para tratar do corpo e da mente com exercícios ao ar livre. Gabava-se de a cada manhã percorrer mais de cinco quilômetros aos setenta e um anos.
Seu otimismo não colocava por terra o pessimismo de sua interlocutora.
Achando hilário tal papo, firmei meus sentidos naquela conversa.
O que mais me chamou a atenção foi o fato de que a mulher, como a se oferecer para o tal senhor, já não mais ouvia o que ele dizia, só fazia repetir frases com uma constância doida.
Dizia ela, sem esperar resposta:
- Todo dia digo para o meu filho: qualquer hora vou arranjar um coroa sacudido para me bancar!
- Mas o senhor não parece ter setenta e um anos, estou bege com sua afirmação!
- Sua pele é tão lisinha...
- Onde o senhor mora? Mora em casa ou apartamento? É grande? Sua aposentadoria dá para o senhor viver?
- O senhor é viúvo ou solteiro?
- Sabe que eu gostei do senhor?
Vi ali comportamentos adolescentes, tanto de um como de outro e, confesso, fiquei com medo.
Será que quanto mais nos aproximamos do fim, mais estamos retornando a nossa infância?
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Visitem Adir Vieira
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Um comentário:
hauahuahauahahuauh
Adorei o diálogo! Muito bom!
Realmente, algumas pessoas vão retornando mesmo...
Beijo.
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