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A boca seca, a boca cospe, a boca amarga o fel do dia. As mãos têm sangue, as veias ferrugem, o escuro incerteza, o mundo tem um oco. Pude muitas coisas, e agora com meu medo e minha esclerose, não sei mais como ousá-las. Ela estava aqui, ela ainda continua aqui, como um cão ou uma árvore. Acordei cedo pra tomar o desjejum, fui moço à cozinha antiga, achei-me a deglutir um pão mofado, quis caminhar até a padaria mas, havia esquecido meus pés. Quem me roubou de mim? As horas consumidas na fuligem de um quadro desbotado significam o mesmo que não ser coisa alguma. Tenho pena do que tenho sido, vem a mim, quero vomitar o antigo e copular o novo. Se meus sonhos me causarem indigestão acaso haveria antiácidos para isso? Vou morrer, ou viver um dia mais, que importa? O mundo não deu importo a essa querela? A lavra dos anos perdidos, a lavra do caminho não trilhado. Tenho vergonha de tanta covardia, tenho uma indiferença miserável. Se eu tivesse uma arma guardaria em segredo, se eu tivesse flores deixaria que murchassem sem colhê-las. Ela violentou a si mesma, assim como desde sempre, o bode expiatório sou eu. Eternamente culpado, eternamente em exílio, quando verei as luzes de Roma outra vez? Não sei, nunca sei conjeturar ânsias tão íntimas. Perdi as certezas e o alforje, o caminho e a vontade, perdi tudo quanto aos homens é aprazível, e mal percebi acontecer. O dilema das prostitutas sifilíticas, a dor silente dos homossexuais sem teto, os judeus matando palestinos... O mundo prossegue em suas tragédias ancestrais. Eu obtuso, não dei conta disso. As geleiras antárticas, a rota invisível do sal, cordilheiras líquidas que separam homens e ideações. As caravanas terminam todas no fundo do meu pátio de marfim. A casa é repleta, as sombras abrigam por longas horas. Noite mudada em manhã sem sol, noite nesse país é um evento perene. Os ecos batem à porta, donde estão aqueles que aqui habitavam? Partiram pra longe, partiram pra sempre... Que queres nobre peregrino? Há mais não informo, também tenho andado exterior a mim.
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Visitem Leandro M. de Oliveira
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Um comentário:
Leandro:
Texto lindo, lindo, lindo!
E o menininho... que fofura, que gracinho! E que olhar de quem fotografou!
Beijo.
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