Vinha eu pela rua, meio assustada, em pleno meio-dia!
Tinha acabado de sair do banco e mesmo acompanhada do marido sinto aquele temor costumeiro que, creio, nem cinquenta anos de análise vão jogar por terra.
Como vivo sempre à cata de espécimes comestíveis, deparei-me com belos sonhos doces na vitrine de uma padaria e, para acalmar minha ansiedade, paramos para comprar.
Mais à frente, uma extensa barraca, tipo barraca de feira mesmo, fazia ponto na calçada e impedia o trânsito das pessoas, a não ser pela movimentada avenida. Várias pessoas aglomeravam-se ao redor do vendedor, pois as maçãs, frutas-do-conde, peras e até mesmo uma única couve-flor por ali perdida, chamavam a atenção pela sua excelente qualidade e baixo preço. Lógico que também ali paramos e fizemos a nossa compra habitual.
Um pouco mais adiante, cocadas pretas e brancas, parecendo que vieram de Itu, convidavam à compra e o sorriso do menino que portava o tabuleiro merecia que, ao menos uma, levássemos para casa.
O interessante é que normalmente não se vê, naquele local, tantos ambulantes.
Mas hoje, especialmente hoje, vários pareciam fazer ponto no mesmo espaço.
De repente, um grito se ouve e todos, numa dança conjunta, começam a desarmar suas tendas e a jogar seus produtos em caixas de papelão, sem se importarem com os danos que eles próprios possam causar às mercadorias. O tempo urge e todos, ao mesmo tempo, precisam fazer tudo sumir em segundos, para que os “fiscais” não levem embora aquilo que representa a sua sobrevivência e a de sua família.
Paramos assustados com tanta correria e confesso que demorei um pouco para entender o que se passava.
Nessa parada pude observar que, embora ativos, não pareciam nervosos nem temerosos com a situação. Tudo ocorre todos os dias, fazendo-os treinados para exercerem seus papéis de feiticeiros no momento em que o rapa aparece.
Explicou-me a moça que vende cocos, que alguém lá atrás emite um sinal qualquer, conhecido de todos os outros ambulantes, como se fosse um assobio ou um grito de pega!
Nesse momento, já sabem o que fazer. O material exposto vai para dentro de caixas vazias, estrategicamente colocadas atrás dos balcões e à espera do momento crucial.
Casas comerciais ou mesmo residenciais abrem suas portas para a guarda dos carrinhos de supermercados, nesse momento, apinhados de mercadorias que, devido à correria, são ali empilhados desordenadamente.
Fixo minha atenção numa ambulante que vende arranjos de flores em vasos de vidro. Até seu balcão, ornado com uma toalha de renda branca, demonstra a sutileza do seu coração. Parece inexperiente, talvez tenha se iniciado no ramo há bem pouco tempo. Na ânsia de fazer sumir seu patrimônio, esbarra em outro ambulante e um dos vasos espatifa-se no chão de paralelepípedos.
Esquecendo que não deve deixar rastros, para e lágrimas escorrem de seus olhos, fazendo-me crer que aquele vaso era o mais caro dos produtos que tentava vender.
Visitem Adir Vieira
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5 comentários:
Querida Adir
Embora não goste de camelôs, fiquei com pena do cara que quebrou o vaso.
Bjs
Paz
Eu também,Fatinha.
E o pior é que ela parecia tão descrente de tudo...
Bjos.
Obrigada pelo comentário.
Adir
Adir:
Triste mesmo... Esta situação é tão complicada aqui no Rio... É horrível a gente ter que andar pelas calçadas tomadas de barracas, ficando com pouquíssimo espaço para a locomoção, tendo que esbarrar nos outros o tempo todo, mas, ao mesmo tempo, os ambulantes estão tentando sobreviver honestamente num país que não tem muitas opções de trabalho...
Difícil... Difícil e triste...
Beijo!
Diza, o pior é que as lojas reclamam que os camelôs não pagam impostos e vendem mais barato atrapalhando o negócio deles. Os rapas, segundo informação de uma pessoa que tinha um deles na família, comumente se apoderam das mercadorias apreendidas. E, de todos, acho que quem leva a pior é a cidade que apesar das lágrimas provocadas pelos impiedosos choques, continua na desordem. Beijo.
Ana e Alba,
Obrigada pelos comentários.
Bjs,
Diza
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