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UM MUNDO NOVO
O trote do animal nos conduzindo ao interior da “fazenda” tem para mim uma conotação de despedida com o meu passado. A cada curva me parece um convite a desligar-me da meninice vivida até então. Papai e mamãe apertam, ambos, minhas mãos. Não sei se papai está tentando fingir nada sentir. Mamãe, taciturna, não esconde a tristeza que lhe vai n’alma; ainda há pouco apertara, sem perceber, minha mão, num sentido de posse de algo que está por perder.
Desde a porteira de onde fomos recebidos até aqui, calculo já percorremos uns bons três quilômetros. Do lado direito da estrada percebo várias fontes d’água a escorrer dos morros repletos de alta vegetação. Do lado esquerdo, de quando em vez, dentre os arbustos quase cerrados, noto um vale, ora coberto de pastagens ora de áreas cultivadas.
Finalmente chegamos. Ladeamos longa construção com diversas janelas, grande casario fechado aos nossos olhares. Entramos após breve aclive a um pátio à frente de prédio de três andares. Neste espaço um gramado ao centro, tendo de um lado sapotizeiros e d’outro, enfileirados, jambeiros cujos troncos grossos seguram redes de voleibol. Mais além destes últimos um grande galpão encostado ao pé de montanha que ali tem começo. O interessante foi identificar dezenas de portas ao fundo deste pavimento. Percebo serem banheiros enfileirados, não há dúvida. O som de uma cachoeira distante uns cem metros à direita deste ambiente faz-me sentir uma realidade nunca antes vivida. Um mundo novo, diferente e desconhecido inicia-se para mim neste momento. Analiso outros detalhes enquanto o condutor alinha a charrete debaixo de uma passarela coberta que faz a ligação do galpão dos banheiros com o prédio de três andares.
Demonstra que já é praxe para o nosso guia parar ali. Imediatamente aparece um “padre” de idade madura, que nos recebe com largo sorriso. Tem óculos de aros finos e redondos, ares de escritor, professor, eu diria.Se identifica por Irmão Zeno Camata, diretor do “juvenato”.
Papai e mamãe, que primeiro desceram da condução, recebem os cumprimentos de boas-vindas e apontam-me, um pouco afastado deles, como o novo candidato ao seminário.
Instruído em gestos por papai, aperto as mãos do prelado que muito atencioso desdobra-se nas boas-vindas.
Feitas as apresentações, dá ordens ao cocheiro para que conduza as minhas malas ao dormitório dos menores. Adentra-nos por longo corredor no térreo do grande prédio, ladeado de portas envidraçadas donde percebo várias salas de aula com suas envernizadas carteiras.
Entramos em seu gabinete. É um ambiente rústico, sóbrio, diria sombrio, bem diferente da sala enfeitada da diretora do meu ex-grupo escolar.
Faz-me sentar, após meus pais. Apóia-se em cadeira de espaldar alto e fazendo as perguntas de praxe sobre a viagem passa a informar sobre o local que acolherá o novo aluno “juvenista”. Mamãe adivinha minhas dúvidas e pergunta o que é “juvenista”. Simpaticamente e demonstrando agrado responde que se trata de aluno de juvenato ou internato que acolhe candidatos para serem Irmãos Maristas. Nos olhamos sem entender muito. Não tivemos muitas explicações na visita do padre, digo, Irmão, quando em Juiz de Fora. Segue-se maior explanação do bom homem: trata-se de uma organização religiosa que forma religiosos para a missão de educar jovens em todo o mundo. Eu iria iniciar os estudos no curso de admissão que antecede o ginásio.
Acho estranho, mas não dedico maiores atenções. Irmão, padre, vigário, bispo… para mim, vestiu batina é padre.
Depois de longa meia hora, justo quando ouvi burburinho de vozes quebrando o silêncio daquela clausura, somos convidados a sair do escritório e, já no corredor, instado pelo reverendo, um rapaz de uns desessete anos ou pouco mais, se apresenta como aluno antigo, encarregado de me conduzir ao dormitório para que eu me apossasse de cama e armário e me desfizesse das malas.
Combinamos nos encontrar mais tarde, indo papai e mamãe para outras bandas daquele imenso casario.
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UM MUNDO NOVO
O trote do animal nos conduzindo ao interior da “fazenda” tem para mim uma conotação de despedida com o meu passado. A cada curva me parece um convite a desligar-me da meninice vivida até então. Papai e mamãe apertam, ambos, minhas mãos. Não sei se papai está tentando fingir nada sentir. Mamãe, taciturna, não esconde a tristeza que lhe vai n’alma; ainda há pouco apertara, sem perceber, minha mão, num sentido de posse de algo que está por perder.
Desde a porteira de onde fomos recebidos até aqui, calculo já percorremos uns bons três quilômetros. Do lado direito da estrada percebo várias fontes d’água a escorrer dos morros repletos de alta vegetação. Do lado esquerdo, de quando em vez, dentre os arbustos quase cerrados, noto um vale, ora coberto de pastagens ora de áreas cultivadas.
Finalmente chegamos. Ladeamos longa construção com diversas janelas, grande casario fechado aos nossos olhares. Entramos após breve aclive a um pátio à frente de prédio de três andares. Neste espaço um gramado ao centro, tendo de um lado sapotizeiros e d’outro, enfileirados, jambeiros cujos troncos grossos seguram redes de voleibol. Mais além destes últimos um grande galpão encostado ao pé de montanha que ali tem começo. O interessante foi identificar dezenas de portas ao fundo deste pavimento. Percebo serem banheiros enfileirados, não há dúvida. O som de uma cachoeira distante uns cem metros à direita deste ambiente faz-me sentir uma realidade nunca antes vivida. Um mundo novo, diferente e desconhecido inicia-se para mim neste momento. Analiso outros detalhes enquanto o condutor alinha a charrete debaixo de uma passarela coberta que faz a ligação do galpão dos banheiros com o prédio de três andares.
Demonstra que já é praxe para o nosso guia parar ali. Imediatamente aparece um “padre” de idade madura, que nos recebe com largo sorriso. Tem óculos de aros finos e redondos, ares de escritor, professor, eu diria.Se identifica por Irmão Zeno Camata, diretor do “juvenato”.
Papai e mamãe, que primeiro desceram da condução, recebem os cumprimentos de boas-vindas e apontam-me, um pouco afastado deles, como o novo candidato ao seminário.
Instruído em gestos por papai, aperto as mãos do prelado que muito atencioso desdobra-se nas boas-vindas.
Feitas as apresentações, dá ordens ao cocheiro para que conduza as minhas malas ao dormitório dos menores. Adentra-nos por longo corredor no térreo do grande prédio, ladeado de portas envidraçadas donde percebo várias salas de aula com suas envernizadas carteiras.
Entramos em seu gabinete. É um ambiente rústico, sóbrio, diria sombrio, bem diferente da sala enfeitada da diretora do meu ex-grupo escolar.
Faz-me sentar, após meus pais. Apóia-se em cadeira de espaldar alto e fazendo as perguntas de praxe sobre a viagem passa a informar sobre o local que acolherá o novo aluno “juvenista”. Mamãe adivinha minhas dúvidas e pergunta o que é “juvenista”. Simpaticamente e demonstrando agrado responde que se trata de aluno de juvenato ou internato que acolhe candidatos para serem Irmãos Maristas. Nos olhamos sem entender muito. Não tivemos muitas explicações na visita do padre, digo, Irmão, quando em Juiz de Fora. Segue-se maior explanação do bom homem: trata-se de uma organização religiosa que forma religiosos para a missão de educar jovens em todo o mundo. Eu iria iniciar os estudos no curso de admissão que antecede o ginásio.
Acho estranho, mas não dedico maiores atenções. Irmão, padre, vigário, bispo… para mim, vestiu batina é padre.
Depois de longa meia hora, justo quando ouvi burburinho de vozes quebrando o silêncio daquela clausura, somos convidados a sair do escritório e, já no corredor, instado pelo reverendo, um rapaz de uns desessete anos ou pouco mais, se apresenta como aluno antigo, encarregado de me conduzir ao dormitório para que eu me apossasse de cama e armário e me desfizesse das malas.
Combinamos nos encontrar mais tarde, indo papai e mamãe para outras bandas daquele imenso casario.
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Visitem Paulo Chinelate
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Um comentário:
Paulo:
Fico cada vez mais curiosa!
Como serão os dias de nosso pequeno herói?
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