Enfim chegou o tão esperado dia, o dia em que iam todos à praia. Acordaram bem cedo e foi uma farra desde antes de todos entrarem no carro e, na maior bagunça, seguirem rumo ao mar.
A viagem era longa, vários quilômetros até lá. Precisavam sair bem cedo, para pegar o melhor do sol da manhã, porque eram cinco crianças e todas já quase pretas de tanta exposição continuada nas brincadeiras de todos os dias na piscina de plástico colocada no quintal, naquelas férias inesquecíveis. Nem queriam comer ou beber alguma coisa antes de sair. Estavam ávidos pelas brincadeiras. Só acordaram, molharam o rosto, fizeram xixi e trocaram os pijamas pelos calções e maiôs. Vinham correndo, descendo as escadas sonolentos, tropeçando nas toalhas, baldinhos, deixando cair pás, bolas e outros brinquedos.
O pai e a mãe os acompanhavam, mas principalmente o pai, não dispensava o café quente que tomava devagar, enquanto comia, se deliciando, o pão quentinho da padaria do bairro, trazido pela esposa que tinha muito mais energia que ele nas primeiras horas da manhã, tão habituada que estava com o excesso de disposição dos filhos que a consumia de manhã à noite, quando o último conseguia pegar no sono.
Seguiram então os cinco, se estapeando no banco de trás, gritando uns com os outros, reclamando a interferência da mãe para resolver questões entre eles, geradas por ciúmes ou birra mesmo.
Já estavam agora, acordadíssimos e ainda não eram sete horas. O trânsito ainda estava fluindo bem e já chegavam à estrada principal que os levaria ao tão sonhado destino, quando um barulho alto e repentino, seguido de um pequeno solavanco anunciou que um pneu havia estourado. Pararam no acostamento debaixo dos berros dos pequenos que queriam sair, todos ao mesmo tempo, pela mesma porta, apertando a mãe que ficava espremida pelo banco empurrado por eles antes que conseguisse levantar completamente. Olharam para o pneu murcho e souberam que isto atrasaria ainda mais os seus desejos inadiáveis de cair na água e rolar na areia. O pai, apesar do café, ainda sonolento, saiu incrédulo para averiguar o que ocorrera. Era mesmo um rombo no pneu. Ele não havia simplesmente furado e sim rompido, deixando um naco de uns dois centímetros na borracha. Passou a mão pela testa molhada, abriu o porta-malas e qual não foi a surpresa ao verificar que o estepe não estava lá. Desesperado pensou: como? O que teria acontecido? Puxou para o lado todas as bungingangas deixadas ali pela esposa e as crianças, na esperança de que o pneu estivesse escondido, fora de lugar. Qual nada. Tinha sido mesmo retirado de lá. Repassou na memória se teria deixado o carro para limpeza ou conserto em algum lugar, recentemente. Mas não. Estava certo de que não fizera isso. Mas e aí? Qual seria a explicação? Agora já começava a ficar vermelho, enquanto as crianças o puxavam pelo braço, gritando que trocasse logo a roda, que queriam seguir para a praia. Estava atônito. Voltou-se para pedir a ajuda da esposa que meio amarela, estava no extremo oposto e gaguejando, confessou que tinha retirado o estepe na semana anterior, para transportar algumas coisas na mala até a casa da irmã que ficava na mesma rua onde moravam e, por um desses caprichos do destino, tinha esquecido de repor o estepe no carro.
E agora? Não poderiam prosseguir até a praia. Não tinham como sair dali. Como comunicar isto às crianças? Como contê-las na sua ânsia? E como garantir a ordem, se ambos não sabiam dar limites nem a si mesmos?
Entreolharam-se com muita raiva, querendo um pular no pescoço do outro para reclamarem de tantas insatisfações mútuas acumuladas, enquanto em volta, as crianças absorviam aquele clima de tensão e se gadunhavam entre berros. Ele, arrependido por um dia ter desposado alguém assim tão desatento e irresponsável. Ela, maldizendo o dia em que conheceu um sujeito tão descansado, a quem pedia a mesma coisa inúmeras vezes seguidas, antes que se dispusesse a sair do lugar. Afinal, era ele quem deveria há semanas atrás, ter transportado os objetos para a casa da cunhada e não ela. Ele, bêbado de sono, preferiria estar ainda dormindo em casa, naquele sábado abafado, só tendo concordado com aquele passeio, tipo programa de índio, por insistência dela e dos filhos mal educados. Ela, gostaria de ter um marido que participasse mais,que como ela, apreciasse sair sempre, ter contato com a natureza, brincar com as crianças, tão livres quanto ela, ao invés de preferir passar os fins-de-semana dormindo no quarto, saindo somente na hora das refeições ou para assistir àqueles jogos insuportáveis pela televisão.
Queriam os dois sumir dali, um de perto do outro para sempre. Mas, como as crianças ignorassem o impasse em que se encontravam, arrefeceram os ânimos e enquanto ele telefonava para o reboque do seguro, ela fazia cara de emburrada, só quando olhava para ele. E continuava alegre, às risadas, brincando de pique-esconde com os filhos, em pleno acostamento de uma rodovia movimentada, até que finalmente, à tarde, foram socorridos pelo reboque, pondo um fim àquele pesadelo.
A viagem era longa, vários quilômetros até lá. Precisavam sair bem cedo, para pegar o melhor do sol da manhã, porque eram cinco crianças e todas já quase pretas de tanta exposição continuada nas brincadeiras de todos os dias na piscina de plástico colocada no quintal, naquelas férias inesquecíveis. Nem queriam comer ou beber alguma coisa antes de sair. Estavam ávidos pelas brincadeiras. Só acordaram, molharam o rosto, fizeram xixi e trocaram os pijamas pelos calções e maiôs. Vinham correndo, descendo as escadas sonolentos, tropeçando nas toalhas, baldinhos, deixando cair pás, bolas e outros brinquedos.
O pai e a mãe os acompanhavam, mas principalmente o pai, não dispensava o café quente que tomava devagar, enquanto comia, se deliciando, o pão quentinho da padaria do bairro, trazido pela esposa que tinha muito mais energia que ele nas primeiras horas da manhã, tão habituada que estava com o excesso de disposição dos filhos que a consumia de manhã à noite, quando o último conseguia pegar no sono.
Seguiram então os cinco, se estapeando no banco de trás, gritando uns com os outros, reclamando a interferência da mãe para resolver questões entre eles, geradas por ciúmes ou birra mesmo.
Já estavam agora, acordadíssimos e ainda não eram sete horas. O trânsito ainda estava fluindo bem e já chegavam à estrada principal que os levaria ao tão sonhado destino, quando um barulho alto e repentino, seguido de um pequeno solavanco anunciou que um pneu havia estourado. Pararam no acostamento debaixo dos berros dos pequenos que queriam sair, todos ao mesmo tempo, pela mesma porta, apertando a mãe que ficava espremida pelo banco empurrado por eles antes que conseguisse levantar completamente. Olharam para o pneu murcho e souberam que isto atrasaria ainda mais os seus desejos inadiáveis de cair na água e rolar na areia. O pai, apesar do café, ainda sonolento, saiu incrédulo para averiguar o que ocorrera. Era mesmo um rombo no pneu. Ele não havia simplesmente furado e sim rompido, deixando um naco de uns dois centímetros na borracha. Passou a mão pela testa molhada, abriu o porta-malas e qual não foi a surpresa ao verificar que o estepe não estava lá. Desesperado pensou: como? O que teria acontecido? Puxou para o lado todas as bungingangas deixadas ali pela esposa e as crianças, na esperança de que o pneu estivesse escondido, fora de lugar. Qual nada. Tinha sido mesmo retirado de lá. Repassou na memória se teria deixado o carro para limpeza ou conserto em algum lugar, recentemente. Mas não. Estava certo de que não fizera isso. Mas e aí? Qual seria a explicação? Agora já começava a ficar vermelho, enquanto as crianças o puxavam pelo braço, gritando que trocasse logo a roda, que queriam seguir para a praia. Estava atônito. Voltou-se para pedir a ajuda da esposa que meio amarela, estava no extremo oposto e gaguejando, confessou que tinha retirado o estepe na semana anterior, para transportar algumas coisas na mala até a casa da irmã que ficava na mesma rua onde moravam e, por um desses caprichos do destino, tinha esquecido de repor o estepe no carro.
E agora? Não poderiam prosseguir até a praia. Não tinham como sair dali. Como comunicar isto às crianças? Como contê-las na sua ânsia? E como garantir a ordem, se ambos não sabiam dar limites nem a si mesmos?
Entreolharam-se com muita raiva, querendo um pular no pescoço do outro para reclamarem de tantas insatisfações mútuas acumuladas, enquanto em volta, as crianças absorviam aquele clima de tensão e se gadunhavam entre berros. Ele, arrependido por um dia ter desposado alguém assim tão desatento e irresponsável. Ela, maldizendo o dia em que conheceu um sujeito tão descansado, a quem pedia a mesma coisa inúmeras vezes seguidas, antes que se dispusesse a sair do lugar. Afinal, era ele quem deveria há semanas atrás, ter transportado os objetos para a casa da cunhada e não ela. Ele, bêbado de sono, preferiria estar ainda dormindo em casa, naquele sábado abafado, só tendo concordado com aquele passeio, tipo programa de índio, por insistência dela e dos filhos mal educados. Ela, gostaria de ter um marido que participasse mais,que como ela, apreciasse sair sempre, ter contato com a natureza, brincar com as crianças, tão livres quanto ela, ao invés de preferir passar os fins-de-semana dormindo no quarto, saindo somente na hora das refeições ou para assistir àqueles jogos insuportáveis pela televisão.
Queriam os dois sumir dali, um de perto do outro para sempre. Mas, como as crianças ignorassem o impasse em que se encontravam, arrefeceram os ânimos e enquanto ele telefonava para o reboque do seguro, ela fazia cara de emburrada, só quando olhava para ele. E continuava alegre, às risadas, brincando de pique-esconde com os filhos, em pleno acostamento de uma rodovia movimentada, até que finalmente, à tarde, foram socorridos pelo reboque, pondo um fim àquele pesadelo.
Visitem Alba Vieira
.
Um comentário:
Alba, demais! kkkkkkk
Muito bom!
Postar um comentário