Decidiu fugir aquele domingo.
Desde quinta-feira não pensava em outra coisa. Já tinha feito a mala e como o tempo prometia sol, não poderia esquecer os shorts brancos e as sandálias vermelhas. Levaria também a bolsa de palha, meio desconexa do traje, mas inseparável e necessária para abrigar todos os pertences de mão de que precisaria dispor.
Não queria contar ainda a ninguém sua decisão de fugir, afinal, seriam apenas dois dias fora e tudo parecia estar em ordem para a sua estratégia. Apenas sua amiga íntima que concordara em tomar conta do Príncipe, seu cachorrinho, sabia e ficara feliz por ela. Trabalhava tanto, coitada, e rara era a ocasião em que sentia essa vontade de espairecer.
Sábado pela manhã, ao acordar, percebeu seu cãozinho ainda prostrado na caminha azul acolchoada com edredons listrados de verde. Estranhou, porque ele sempre corria ao seu encontro logo que ela saía do quarto. Chamou por ele e ele não se moveu. Assustada, chegou mais perto, chamou mais uma vez e nada.
Esqueceu o café, trocou de roupa, embrulhou o cãozinho na toalha limpa e partiu com ele para a garagem. Abriu a porta traseira do carro e acomodou-o ainda sem sentidos no banco de trás, tomando a direção da Veterinária próxima.
Apreensiva e nervosa, entregou o cão ao atendente, que a fez esperar uma eternidade pelo veredicto: infecção estomacal. Após três horas na sala de espera, ainda não sabia o que fazer, pois a amiga que havia se disposto a ficar com o Príncipe por certo não o aceitaria doente.
O que fazer com as passagens compradas, como cancelar o hotel se dali não podia despregar os pés? Viu o sábado quase todo indo embora. Sentiu um misto de amor e ódio pelo cãozinho que a tirava dos sonhos, naquele exato momento em que precisava tanto. Dirigiu aos Céus aquela série de blasfêmias próprias daqueles que se sentem ultrajados no seu mais ínfimo desejo. O que fazer era a questão, e enquanto buscava mentalmente as soluções, chegou o atendente para dizer que em menos de meia hora o seu Príncipe já poderia retornar ao lar são e salvo.
Agora agradeceu aos Céus e aguardou pacientemente, com a certeza de que, enfim, tudo havia se resolvido. Afinal, se fosse rápida, seus planos ainda poderiam se concretizar. Pensou em notificar sua mãe e sua irmã em Friburgo - únicas pessoas a quem devia consideração na vida - do aeroporto mesmo.
Eis que surge o atendente com o cão nos braços que, ao vê-la, late sem parar até que ela o acaricie, no que retribui com lambidas doces e espaçadas. No percurso para casa, Príncipe, olhando-a com insistência, pula para o banco da frente do carro, virando e revirando em meio a latidos baixos em forma de soluços, a fim de chamar sua atenção.
Quase não consegue abrir a porta de casa com o risco de tropeçar no cãozinho que, esbaforido, corre e pula em seu colo, obrigando-a a sentar-se, como a impedi-la de qualquer ato que não fosse, exclusivamente, cuidar dele.
De repente, num suspiro que trouxe do fundo da alma, ela compreendeu que naquele fim de semana, especialmente naquele fim de semana, não poderia deixá-lo à sorte ou em outra companhia que não fosse a dela. E, de pronto, decidiu que com ele permaneceria.Ligou para a amiga falando de sua decisão e desobrigando-a do combinado, e concluiu que este final de semana cuidadosamente programado lá se foi pelos ares.
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Desde quinta-feira não pensava em outra coisa. Já tinha feito a mala e como o tempo prometia sol, não poderia esquecer os shorts brancos e as sandálias vermelhas. Levaria também a bolsa de palha, meio desconexa do traje, mas inseparável e necessária para abrigar todos os pertences de mão de que precisaria dispor.
Não queria contar ainda a ninguém sua decisão de fugir, afinal, seriam apenas dois dias fora e tudo parecia estar em ordem para a sua estratégia. Apenas sua amiga íntima que concordara em tomar conta do Príncipe, seu cachorrinho, sabia e ficara feliz por ela. Trabalhava tanto, coitada, e rara era a ocasião em que sentia essa vontade de espairecer.
Sábado pela manhã, ao acordar, percebeu seu cãozinho ainda prostrado na caminha azul acolchoada com edredons listrados de verde. Estranhou, porque ele sempre corria ao seu encontro logo que ela saía do quarto. Chamou por ele e ele não se moveu. Assustada, chegou mais perto, chamou mais uma vez e nada.
Esqueceu o café, trocou de roupa, embrulhou o cãozinho na toalha limpa e partiu com ele para a garagem. Abriu a porta traseira do carro e acomodou-o ainda sem sentidos no banco de trás, tomando a direção da Veterinária próxima.
Apreensiva e nervosa, entregou o cão ao atendente, que a fez esperar uma eternidade pelo veredicto: infecção estomacal. Após três horas na sala de espera, ainda não sabia o que fazer, pois a amiga que havia se disposto a ficar com o Príncipe por certo não o aceitaria doente.
O que fazer com as passagens compradas, como cancelar o hotel se dali não podia despregar os pés? Viu o sábado quase todo indo embora. Sentiu um misto de amor e ódio pelo cãozinho que a tirava dos sonhos, naquele exato momento em que precisava tanto. Dirigiu aos Céus aquela série de blasfêmias próprias daqueles que se sentem ultrajados no seu mais ínfimo desejo. O que fazer era a questão, e enquanto buscava mentalmente as soluções, chegou o atendente para dizer que em menos de meia hora o seu Príncipe já poderia retornar ao lar são e salvo.
Agora agradeceu aos Céus e aguardou pacientemente, com a certeza de que, enfim, tudo havia se resolvido. Afinal, se fosse rápida, seus planos ainda poderiam se concretizar. Pensou em notificar sua mãe e sua irmã em Friburgo - únicas pessoas a quem devia consideração na vida - do aeroporto mesmo.
Eis que surge o atendente com o cão nos braços que, ao vê-la, late sem parar até que ela o acaricie, no que retribui com lambidas doces e espaçadas. No percurso para casa, Príncipe, olhando-a com insistência, pula para o banco da frente do carro, virando e revirando em meio a latidos baixos em forma de soluços, a fim de chamar sua atenção.
Quase não consegue abrir a porta de casa com o risco de tropeçar no cãozinho que, esbaforido, corre e pula em seu colo, obrigando-a a sentar-se, como a impedi-la de qualquer ato que não fosse, exclusivamente, cuidar dele.
De repente, num suspiro que trouxe do fundo da alma, ela compreendeu que naquele fim de semana, especialmente naquele fim de semana, não poderia deixá-lo à sorte ou em outra companhia que não fosse a dela. E, de pronto, decidiu que com ele permaneceria.Ligou para a amiga falando de sua decisão e desobrigando-a do combinado, e concluiu que este final de semana cuidadosamente programado lá se foi pelos ares.
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Um comentário:
Adir:
A-DO-REI!
Acompanhei cada acontecimento, cada detalhe descrito, como se estivesse lá com ela!
Consegui vizualizar a caminha do cachorrinho, o coitadinho dando voltas, assanhado, no banco da frente do carro, as lambidas...
Morri de saudade dos meus bichinhos...
Você é demais!
Beijão!
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