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domingo, 22 de março de 2009

Aprendizes de Feijoada - por Bruno D’Almeida

a João Cabral de Melo Neto



Se você está aprendendo algo de novo, aconselho que aprenda a fazer feijoada. A nossa vida é cheia de ingredientes e temperos, como amor, segredos, criatividade, tempo e sabor. Para quem deseja uma vida plena, feliz, cheia de objetivos alcançados, comece a dar valor também a coisas simples, como servir uma refeição a si e ao mundo, alimentando o corpo e a alma. Siga à risca a receita:

Selecione os melhores grãos de feijão. Ou seja, comece o quanto antes a determinar o rumo que vai seguir. Não importa se quer ser operário, doutor, artista, surfista ou astronauta, veja logo o que vai ser. Isto não significa começar novo, cedinho, mas assim que tomar consciência do que quer. Desta maneira, o saber se torna prazeroso, gostoso de aprender. Nunca aprenda por obrigação, mas sim porque os conhecimentos serão importantes para sua vida.

Todo mundo ouve dizer que os melhores mestres da culinária cozinham com amor. Por isso mesmo você deve amar o que faz. Cada coisa que você coloca na panela é um pedaço de si mesmo, suas emoções, anseios, sonhos e objetivos. Ame aprender, ame o conhecimento como o melhor bem imaterial que você tem. Tenha fome de conhecimentos. Um ser apaixonado pelo que faz é a única face colorida na multidão em uma foto preto e branco.

Feijoada é um prato diversificado, pois existem muitos tipos de feijão: mulato, branco e preto - assim como cada região utiliza ingredientes diferentes. Adaptar-se às necessidades e à realidade são elementos-chave para a criatividade. Saiba inventar possibilidades quando elas não existem, aprenda a superar a barreira imaginária das dificuldades. Se não dispuser dos mesmos ingredientes que os outros, invente seu próprio emprego, sua própria carreira, seu próprio pé-de-meia e de feijão.

Não se engane: aprender feijoada não é da noite para o dia. Seja persistente, não fique abatido porque o caldo salgou ou o feijão queimou na panela. Quando estiver aprendendo algo e as ideias ficarem difusas, ou qualquer problema tentar impedir, como trabalho, tempo, família, psicose ou histeria diante de nada dar certo, tenha paciência. Mais: não queira comer a feijoada antes de ela ficar pronta, a dor de barriga é companheira certa. Sua competência, inata de cada ser, mais a experiência, vão fazer os acertos reinarem. É por isso que minha mãe faz um feijão melhor do que o meu. Ela aprendeu há muito tempo, tempo que se valerá de me esmerar também. Mentalize que um dia seu feijão será o melhor. E que sempre pode ser ainda melhor. Acredite no poder das palavras.

De nada adianta cozinhar bem se ninguém conhece seus dotes culinários. Conhecimento não se guarda na gaveta ou no diploma pendurado na parede. Compartilhe suas ideias, troque conhecimentos, interaja, comunique-se com o mundo. Há sempre um toque especial, uma folha de louro, uma pimenta de cheiro, um jeito de refogar as carnes que você não havia percebido ainda, assim como o que você sabe poderá ser útil a alguém. Ao ensinar, você aprende, não necessariamente nesta ordem. A aprendizagem é para sempre, pense que sua melhor feijoada será a de amanhã.

Quando conseguir fazer uma feijoada maravilhosa, aquela que é reverenciada pelo silêncio de respeito e pela boca ocupada daqueles que a deliciam, terei cumprido minha missão. Nós, amantes do conhecimento, temos um sentimento muito íntimo, singelo e verdadeiro, uma emoção indescritível em saber que você aprendeu alguma coisa. Na verdade, não ensinamos você a fazer feijoada. Mostramos caminhos, conhecimentos, rumos, valores, para que você possa fazer sua própria feijoada, ou melhor, fazer sua própria vida. Seja feliz, tenha sucesso e nunca deixe de aprender. Bom apetite!



3 comentários:

Anônimo disse...

Coquinho no matagal

Ana, sua peste cabeça dura,
Fazendo tempestade em copo vazio!
Minha admiração por você é um rio
cristalino e de alma pura.

Indiazinha feliz contra o baixo astral
é um mote para a tupinambá Raquel,
que vive desvairada a lutar contra o mal
de um mundo imaginário de papel.

Como pode levantar suspeitas
De seu fã mais declarado!
Que sempre contempla a colheita
De seu poético arado.

Eu rio todos os dias
dos seus versos, birras e agonias;
E reverencio as melodias
De seus sóis gelados de fantasias.

Se você quer briga, sua ordinária,
Eu amolo minha faca de versos no céu,
Invoco meus deuses sem pátria
Rasgo o bucho e te mando para o beleléu.

Não vou, por mais que tudo nesse mundo
te chamar de cachorra ou de lacraia,
Indigna de meu coração vagabundo,
Alma penada ou qualquer coisa que valha.

Eu adoro, admiro e respeito
A nossa bela e recente amizade,
Prefiro mesmo o doce leito
A uma guerra de dor sem vontade.

Mas não venha procurando confusão,
Alegando traição ou punhalada,
Porque quando retado eu viro o cão
Dou patada, palavrão e cacetada.

É bom aceitar e tudo esquecer
E fazer as honrarias da casa
a você caberá escolher
Se eu te afago ou te dou um tapa.

Pense bem, coisinha linda
Sou o amigo e o inimigo ideal
Perto de mim a Raquel é fichinha
Que cata coquinho no matagal.

Vamos celar e desejar a paz
Colocando as mãos nas alturas
Ou então lascou, deu para trás,
Ana encontrou adversário a altura.

Anônimo disse...

Bem, Bruno:
Tendo em vista a sua tão sucinta explicação (rsrs), venho aqui lhe dizer que esta crônica é muito boa também!

Quanto ao Coquinho, respondo em breve.

Anônimo disse...

Eita, lá vem a bagaceira! risos......