Creative Commons License


Bem-vindo ao Duelos!
Valeu a visita!
Deixe seu comentário!
Um grande abraço a todos!
(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vergílio Ferreira e a Ação Mais Degradada - Citado por Penélope Charmosa

A ação mais degradada é a daquele que não age e passa procuração a outrem para agir - a dos frequentadores dos espetáculos de luta e a dos consumidores da literatura de violência. Ser herói através de outrem, ser corajoso em imaginação, é o limite extremo da ação gratuita, do orgulho ou da vaidade que não ousa. Corre-se o risco sem se correr, experimenta-se como se se experimentasse, colhe-se o prazer do triunfo sem nada arriscar. E é por isso que os fIlmes de guerra, do heroísmo policial, de espionagem, têm de acabar bem. Porque o que aí se procura é justamente o sabor do triunfo e não apenas do risco. O gosto do risco procura-o o herói real, o jogador que pode perder. Mas o espectador da sua luta, degradado na sedução da ação, acentua a sua mediocridade no não poder aceitar a derrota, no fingir que corre o risco mesmo em ficção, mas com a certeza prévia de que o risco é vencido. O que ele procura é a pequena lisonja à sua vaidade pequena, a figuração da coragem para a sua covardia, e só a vitória do herói a quem passou procuração o pode lisonjear.
E se o herói morre em grandeza, há o prazer ainda de o espectador estar vivo para saborear a coragem do que morreu e a não pode já saborear. A vida do herói estende-se assim para além da sua morte onde a espera o espectador para se investir da glória que lhe coube e ele já não pôde gozar. É de dentro da vida e do conforto que o espectador da coragem saboreia o prazer da coragem que não tem. Daí às vezes a ilusão de que também ele poderia enfrentar os mesmos riscos, se os enfrentasse. O que lhe fica à superfície de toda ação é o gosto dessa ação e não a dificuldade de a realizar. Daí que na realidade ele pudesse talvez atirar-se a essa ação, se tudo fosse possível efetivar-se num momento - no momento em que não teve tempo ainda de conhecer o que aí se esconde, no momento em que não teve tempo de saber que não era corajoso. Daí que num comício de heroísmo o heroísmo seja fácil e os heróis voluntários se possam recrutar aos montões: a dureza com que se conquista esse heroísmo não se vê sob os braços erguidos que o festejam...



In “Invocação ao Meu Corpo”.
.

Um comentário:

Ana disse...

Gente... o cara arrebentou! Né mole não!