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terça-feira, 28 de julho de 2009

Um Dia de Fúria - por Fatinha

Querido Brógui:

Convenhamos que pra quem gosta de futebol, encarar Maracanã em dia de decisão é um prato cheio. Eu sei que o futebol é paixão nacional, mas não tô nem aí pra isso. Quanto mais longe eu estiver, melhor. Então, convenhamos mais uma vez que o último lugar do mundo onde eu poderia estar no domingo era nas imediações do estádio. E onde eu estava? Passando na porta. Tendo acabado de ser atropelada por uma prova. Com fome. Todo castigo pra corno é pouco.
Quando percebi o que estava acontecendo, já havia sido sugada para o olho do furacão. Lembrei de meu nobre propósito de não envelhecer à toa e procurei manter a fleuma. Lacrei os vidros do Tigrão, escondi a bolsa embaixo do banco, liguei o ar condicionado no máximo, coloquei Fernanda Abreu berrando no meu ouvido e tentei transportar a minha alma para outro lugar qualquer. Qualquer lugar, menos ali, onde eu estava. Tentei visualizar o Afeganistão, Uganda, o Complexo do Alemão. Não consegui. Minha alma estava presa ao meu corpo e meu corpo preso no engarrafamento.
Pensei que o melhor a fazer era tentar me distrair observando o que se passava. Péssima ideia.
Primeira observação foi a quantidade de homens barrigudos que existem nesse Rio de Janeiro. Saca aquela barriga pendurada por cima da bermuda? Saca aquela bermuda que não tem o poder de esconder o cofrinho? Saca aquela bunda murcha? Parecia que tinham aberto as porteiras do inferno. E lógico que todos estavam sem camisa, para exibir aquele corpinho esculpido a ferro e fogo pelo capeta.
Também constatei que o esfíncter masculino é bem menos treinado que o feminino. Neguinho faz xixi pelos muros, nos canteiros, na roda do próprio carro, dentro de latinha de cerveja. A falta de pudor – e de higiene – é impressionante.
Mas até aí, tudo bem. O que me causou uma indignação ímpar foi ver os motoristas bebendo e dirigindo. Dirigindo e bebendo. É muita burrice mesmo ou eu é que estou ficando mais chata do que o normal? Vai ver que como dizem que não se deve dirigir depois de beber eles entendem que podem dirigir e beber simultaneamente. Não tinha um policial pra dar uma dura nos caras. Tinha apenas um pobre de um guarda municipal tentando fazer com que os motoristas parassem no sinal vermelho. Sem sucesso, óbvio.
Lá pelas tantas, olho para o lado e vejo um selvagem, portando uma latinha de cerveja e um carro velho todo porrado – duas armas, portanto – dando um tapão no meu retrovisor. Bater no Tigrão? Covardia! Sabe aquela cena de desenho animado quando o personagem fica todo vermelho saindo fumacinha pelas orelhas? Pois foi assim que fiquei. Minha vontade foi de sair do carro e ir lá tomar satisfações, mas em uma fração de segundos eu percebi que não tinha a menor chance de sair viva de uma situação daquelas. Fiz as contas e vi que era uma mulher sóbria desarmada contra cinco bêbados portando cada qual uma camisa do “Framengo”. Morte na certa. Morte dolorosa e humilhante. Controlei meu impulso suicida, meti a mão na buzina e fiz da voz do Tigrão a minha própria voz. Descarreguei naquela buzinada toda a minha fúria e só parei porque – eu nem sabia que isso acontecia – a buzina falhou, ficou rouca.
Moral da história? Eu odeio futebol, odeio os torcedores, odeio a taça Guanabara, odeio o Maracanã, odeio os bêbados, odeio os carros velhos, odeio o guarda municipal, odeio os barrigudos, odeio os mijões, odeio muito tudo isso.
Envelheci.



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2 comentários:

Ana disse...

Fatinha:
Eu gostaria de trabalhar num local em que houvesse um montão de computadores em que eu pudesse acessar a internet, porque eu ia votar em você um monte de vezes para Autora do Mês. Você é demais!
Li umas cinco vezes e ainda vou ler mais: eu não paro de rir!
Muito obrigada por esta alegria que você nos traz!
Beijos mil!!!

Fatinha disse...

Querida Ana,
Dar momentos de felicidade, me traz momentos de felicidade. É simples assim.
Bjs
Paz