Comentar esta indicação é muito especial para mim. Mas, antes, devo dizer que adoro esta categoria porque me permite expor, mais diretamente aos autores, o impacto de suas palavras quando as leio.
Ao me deparar com esta poesia, já conhecia alguma coisa do Leo aqui do Duelos e sabia que ele era genial no domínio da linguagem. Então, um dia, alguém postou algo sobre reencarnação (certamente deve ter sido a Alba... rsrs) e, logo em seguida, surgiu esta brilhante resposta (boa às pampas... rsrs).
O Leo é magnífico na escrita, impecável, lê-lo é estar em contato com a perfeição das letras, mas esta criação foi além.
Nesta minha vida de alguns razoáveis anos tive muitas oportunidades de discutir e assistir a debates sobre este tema, estando na arena as mais variadas crenças, inteligências e conhecimentos. Nunca, em nenhum destes colóquios, estive diante de argumento tão absolutamente perfeito e exponencialmente desafiador (refiro-me à 8a estrofe). Ao ler, parei e pensei por muito tempo... penso nisto até hoje. Na época, comentei que iria responder, mas ainda não consegui tempo para organizar como, exatamente, escreverei. Mas que virá, virá...
De lá pra cá li muito mais coisas do Leo (aqui e no seu blog), mas esta poesia é, para mim, além de emblemática por motivo intelectual, uma das mais perfeitas (é possível isto?) por sua abrangência (como é comum em suas obras, além de ser admirável com a forma de lidar com a linguagem, ele nos faz viajar pelo mundo da filosofia, da percepção das motivações alheias, da lógica inquestionável) e pelo final parnasiano, que é coisa que amo!
Obrigada, Leo, por esta pérola!
REENCARNAÇÃO
(LEO SANTOS)
Sei que mexer em afetos
Fere aos pais do rebento;
Mas quando quebra a vidraça
O amor, espera, da justiça o assento.
Isso posto viso expor
Outra arena, mais que isso;
Que mesmo sendo o afeto real,
ainda pode ser enfermiço.
Não carecem vários casulos
Pra uma borboleta apenas,
Inda que postulado por Sócrates,
O mais sábio de Atenas.
Muito certo versou coisas,
Que até hoje certo está;
Mas, ler o espírito é complexo,
A lupa natural não dá.
Se um fantasma trouxe carmas
Que eu tenho que pagar,
Fico impotente ante armas
Que não posso enfrentar.
E se um pode quitar por outro,
Em nome, talvez, do amor,
Que sucedeu em Jerusalém,
Que terá feito o Salvador?
Me perdoem os que creem,
Não os quero ofender;
Só não vejo como veem
E creio que posso dizer:
Se sofrer é pagar contas
E mandamento o amor,
Quem ama e socorre não afronta
O direito a pagar, do sofredor?
Inda que degeneremos na queda
Por méritos do próprio punho,
Não somos progresso de ameba:
O Eterno não faz rascunho.
.
.
.
Ao me deparar com esta poesia, já conhecia alguma coisa do Leo aqui do Duelos e sabia que ele era genial no domínio da linguagem. Então, um dia, alguém postou algo sobre reencarnação (certamente deve ter sido a Alba... rsrs) e, logo em seguida, surgiu esta brilhante resposta (boa às pampas... rsrs).
O Leo é magnífico na escrita, impecável, lê-lo é estar em contato com a perfeição das letras, mas esta criação foi além.
Nesta minha vida de alguns razoáveis anos tive muitas oportunidades de discutir e assistir a debates sobre este tema, estando na arena as mais variadas crenças, inteligências e conhecimentos. Nunca, em nenhum destes colóquios, estive diante de argumento tão absolutamente perfeito e exponencialmente desafiador (refiro-me à 8a estrofe). Ao ler, parei e pensei por muito tempo... penso nisto até hoje. Na época, comentei que iria responder, mas ainda não consegui tempo para organizar como, exatamente, escreverei. Mas que virá, virá...
De lá pra cá li muito mais coisas do Leo (aqui e no seu blog), mas esta poesia é, para mim, além de emblemática por motivo intelectual, uma das mais perfeitas (é possível isto?) por sua abrangência (como é comum em suas obras, além de ser admirável com a forma de lidar com a linguagem, ele nos faz viajar pelo mundo da filosofia, da percepção das motivações alheias, da lógica inquestionável) e pelo final parnasiano, que é coisa que amo!
Obrigada, Leo, por esta pérola!
REENCARNAÇÃO
(LEO SANTOS)
Sei que mexer em afetos
Fere aos pais do rebento;
Mas quando quebra a vidraça
O amor, espera, da justiça o assento.
Isso posto viso expor
Outra arena, mais que isso;
Que mesmo sendo o afeto real,
ainda pode ser enfermiço.
Não carecem vários casulos
Pra uma borboleta apenas,
Inda que postulado por Sócrates,
O mais sábio de Atenas.
Muito certo versou coisas,
Que até hoje certo está;
Mas, ler o espírito é complexo,
A lupa natural não dá.
Se um fantasma trouxe carmas
Que eu tenho que pagar,
Fico impotente ante armas
Que não posso enfrentar.
E se um pode quitar por outro,
Em nome, talvez, do amor,
Que sucedeu em Jerusalém,
Que terá feito o Salvador?
Me perdoem os que creem,
Não os quero ofender;
Só não vejo como veem
E creio que posso dizer:
Se sofrer é pagar contas
E mandamento o amor,
Quem ama e socorre não afronta
O direito a pagar, do sofredor?
Inda que degeneremos na queda
Por méritos do próprio punho,
Não somos progresso de ameba:
O Eterno não faz rascunho.
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Visitem Leo Santos
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7 comentários:
Ana, não o poema é autoral.
Sabe querida, eu te admiro pela sensibilidade e gentileza, e principalmente pela disposição com que teu espírito recebe o sentido dos textos, não só os meus, mas também de todos. Você é muito especial, no sentido de que falara Octavio Paz, na existência de dois tipos de poetas: os que escrevem e os que leem.
Um abração!
Meu querido S. Ribeiro:
Agradeço, sobremaneira, suas palavras.
Mas não tive alcance para captar o sentido da primeira linha de seu comentário. Você poderia me explicar?
Beijo.
É bom ver que tem alguém que pensa como eu.
Tô gostando de ver esses posts "ressuscitados" (olha o trocadilho), dá oportunidade pra gente ver o que melhor apareceu antes de aterrissarmos por aqui.
Falar nisso, Ribeiro: bom te ler por aqui!
Cadê seus posts? Tô sentindo falta...
É verdade, Gio. Quem está chegando agora perdeu momentos espetaculares! Vocês verão (e outras estações também).
:)
Todos com seu quinhão de razão... risos...
Esta poesia diz muito... mexe... sacode... desafia... e ainda consegue ser doce... acarinha...
Bjs.
Então não é, Manhosa?
Beijo!
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