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MEUS 12 ANOS
Três meses passaram tão rápido e ontem, dia da mentira, recebi a terceira carta do papai. Mamãe também escreveu uma página. À noite, na cama, chorei. Hoje acordei triste. Lembrei-me da carta de mamãe. Senti em seus olhos, escrevendo, lágrimas pela distância do filhote mais velho. Hoje é meu aniversário. Faltou ser acordado com um beijo dela. Aqui, ao contrário, o corre-corre matinal. Pelo pouco tempo talvez para estar pronto ou a falta de uma atenção personalizada, ninguém veio me dar os parabéns. Foi o meu mais triste dois de abril vivido até hoje. Estou completando 12 anos. Não que papai pudesse comemorar aniversários, ainda mais de uma prole de oito. Mamãe, porém, sempre nos brindava à noite com os pingos de chuva, bolinhos encantadores, de trigo, fritos e passados ao açúcar com canela. Não haveria de faltar um refresco de baunilha ou limonada com bicarbonato para dar um gostinho de soda limonada da José Weis.
Estou me enturmando legal. Tenho colegas com os quais me afino. Tem o Francisco Ozanan, o Otoni, o Dirceu, Argemiro e Sheib. Sem falar no Nilton de Carandaí, o Osmar de Patos de Minas, também o Fiúza e tantos outros que como eu, longe da família, nos elegemos irmãozinhos.
A rotina de um colégio aqui é sempre quebrada com as tardes de jogos às quartas e aos domingos e acampamentos lá no Tangarás, linda grota no meio da floresta. Os passeios disparados mata adentro tentando acompanhar os passos de sete léguas do Irmão Claudino.
De quando em quando piquenique em fazendas e cachoeiras. Sou sempre voluntário para trabalhar na cozinha. Somos os privilegiados que seguimos de caminhão. Os outros, a pé atalhando vales e montanhas. Quando o local é distante, a cozinha vai na frente. O caminhão volta a pegar o restante da turma. Desta forma aproveito por mais tempo os locais visitados. E como mais também. Fome de leão. Penso nos manos. Como estão lá em Minas? O que comerão hoje? Aposto que irão cantar parabéns pelo meu aniversário.
Já estou me tornando um ás em previsão do tempo. Lá em cima do telhado dos noviços tem um cata-vento com os pontos cardeais. Já sei que se a brisa está soprando de leste é chuva na certa. Consigo acertar com antecedência se vai chover no dia seguinte ou não. Com isso me adianto em saber se um piquenique dará certo.
O aproveitamento nas aulas está razoável, apesar das dificuldades de acompanhar a turma. Não sou dos últimos, mas estou lá na rabeira.
A novidade é que ingressei no coral. Cantamos em apresentações e nas missas solenes dominicais. Sou soprano ou primeira voz. De vez em quando dou umas arranhadas. Dizem que estou que nem canarinho: mudando a voz.
Estão se aproximando as férias de julho. O que mais está nos movimentando são as festas de São João.
Próximo dos campos de futebol tem um espaço aterrado muito grande. Poderia dizer, sem erro, que caberiam outros dois campos bem grandes. Foi fincado um tronco de cipreste de uns 15 metros aproximadamente. Em torno deste marco está sendo trançada uma fogueira de árvores secas caídas na floresta. Os encarregados da montagem são os alunos do juvenato, sempre os maiores da quarta série ginasial. Utilizam juntas de bois para arrastar os grandes paus. Os noviços e postulantes também participam. Cada qual em seus turnos, por não podermos nos encontrar. Nem podemos nos falar quando nos cruzamos nos corredores. Há uma regra que não vi ainda ser quebrada. Cada qual no seu canto e ponto final. Ah! sim, a festa. Lá na “minha” rouparia foram guardadas enormes caixas com fogos de artifício. Doação dos proprietários da fábrica de fogos Adrianino, lá de Vassouras. São nossos benfeitores. Sempre estão aos domingos na missa das dez. Têm sítio próximo daqui. Sei que quando voltam pra casa levam sacos de verduras da grande horta que fica do lado da capela.
Junto com uma equipe estou ajudando a fazer as divisões dos fogos. Os rojões e foguetes em sacos para os maiores. Os menores ficam com os estalos e bombinhas. Muito frisson por conta do evento.
Lá no alto do pau, no meio da fogueira quase pronta, colocaram um boneco recheado de foguetes. Dizem que é a cara do Fidel Castro, boneco barbudo. Parece que é o sujeito que invadiu Cuba. Não entendo muito disso. Mas que vai ser bonita a lambança das explosões, isso vai.
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MEUS 12 ANOS
Três meses passaram tão rápido e ontem, dia da mentira, recebi a terceira carta do papai. Mamãe também escreveu uma página. À noite, na cama, chorei. Hoje acordei triste. Lembrei-me da carta de mamãe. Senti em seus olhos, escrevendo, lágrimas pela distância do filhote mais velho. Hoje é meu aniversário. Faltou ser acordado com um beijo dela. Aqui, ao contrário, o corre-corre matinal. Pelo pouco tempo talvez para estar pronto ou a falta de uma atenção personalizada, ninguém veio me dar os parabéns. Foi o meu mais triste dois de abril vivido até hoje. Estou completando 12 anos. Não que papai pudesse comemorar aniversários, ainda mais de uma prole de oito. Mamãe, porém, sempre nos brindava à noite com os pingos de chuva, bolinhos encantadores, de trigo, fritos e passados ao açúcar com canela. Não haveria de faltar um refresco de baunilha ou limonada com bicarbonato para dar um gostinho de soda limonada da José Weis.
Estou me enturmando legal. Tenho colegas com os quais me afino. Tem o Francisco Ozanan, o Otoni, o Dirceu, Argemiro e Sheib. Sem falar no Nilton de Carandaí, o Osmar de Patos de Minas, também o Fiúza e tantos outros que como eu, longe da família, nos elegemos irmãozinhos.
A rotina de um colégio aqui é sempre quebrada com as tardes de jogos às quartas e aos domingos e acampamentos lá no Tangarás, linda grota no meio da floresta. Os passeios disparados mata adentro tentando acompanhar os passos de sete léguas do Irmão Claudino.
De quando em quando piquenique em fazendas e cachoeiras. Sou sempre voluntário para trabalhar na cozinha. Somos os privilegiados que seguimos de caminhão. Os outros, a pé atalhando vales e montanhas. Quando o local é distante, a cozinha vai na frente. O caminhão volta a pegar o restante da turma. Desta forma aproveito por mais tempo os locais visitados. E como mais também. Fome de leão. Penso nos manos. Como estão lá em Minas? O que comerão hoje? Aposto que irão cantar parabéns pelo meu aniversário.
Já estou me tornando um ás em previsão do tempo. Lá em cima do telhado dos noviços tem um cata-vento com os pontos cardeais. Já sei que se a brisa está soprando de leste é chuva na certa. Consigo acertar com antecedência se vai chover no dia seguinte ou não. Com isso me adianto em saber se um piquenique dará certo.
O aproveitamento nas aulas está razoável, apesar das dificuldades de acompanhar a turma. Não sou dos últimos, mas estou lá na rabeira.
A novidade é que ingressei no coral. Cantamos em apresentações e nas missas solenes dominicais. Sou soprano ou primeira voz. De vez em quando dou umas arranhadas. Dizem que estou que nem canarinho: mudando a voz.
Estão se aproximando as férias de julho. O que mais está nos movimentando são as festas de São João.
Próximo dos campos de futebol tem um espaço aterrado muito grande. Poderia dizer, sem erro, que caberiam outros dois campos bem grandes. Foi fincado um tronco de cipreste de uns 15 metros aproximadamente. Em torno deste marco está sendo trançada uma fogueira de árvores secas caídas na floresta. Os encarregados da montagem são os alunos do juvenato, sempre os maiores da quarta série ginasial. Utilizam juntas de bois para arrastar os grandes paus. Os noviços e postulantes também participam. Cada qual em seus turnos, por não podermos nos encontrar. Nem podemos nos falar quando nos cruzamos nos corredores. Há uma regra que não vi ainda ser quebrada. Cada qual no seu canto e ponto final. Ah! sim, a festa. Lá na “minha” rouparia foram guardadas enormes caixas com fogos de artifício. Doação dos proprietários da fábrica de fogos Adrianino, lá de Vassouras. São nossos benfeitores. Sempre estão aos domingos na missa das dez. Têm sítio próximo daqui. Sei que quando voltam pra casa levam sacos de verduras da grande horta que fica do lado da capela.
Junto com uma equipe estou ajudando a fazer as divisões dos fogos. Os rojões e foguetes em sacos para os maiores. Os menores ficam com os estalos e bombinhas. Muito frisson por conta do evento.
Lá no alto do pau, no meio da fogueira quase pronta, colocaram um boneco recheado de foguetes. Dizem que é a cara do Fidel Castro, boneco barbudo. Parece que é o sujeito que invadiu Cuba. Não entendo muito disso. Mas que vai ser bonita a lambança das explosões, isso vai.
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Visitem Paulo Chinelate
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Um comentário:
Muito legal, Paulo!
Tô adorando sua blognovela!
:)
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