Estas palavras me trouxeram a realidade de uma pessoa que está no final de suas forças, que já lutou muito e agora não vê mais possibilidade de reagir. É a desesperança muito bem definida e descrita. É profundo, tocante.
CHOVE FINO
(ANA)
Chove fino.
Caem gotas leves sobre minha alma de barro seco,
que não conhece flores há muitos anos.
Arrasto-me dolorida, sem erguer os pés nos passos inchados,
as roupas em trapos, encardidas pela aridez de minha paisagem interior
que suga a luminosidade da janela sem êxito.
Quando choro não umedeço,
é apenas a vazante de um rio subterrâneo que,
na superfície, secou faz tempo.
Minha pele é de camaleão, opaca,
confundida com os dias amarelentos.
Sabor de giz na língua, saliva grossa de sede,
cabelos de quem não se vê no espelho.
Não mais rimo a dor com outros sentimentos.
Sofro em uma depressão longa,
da qual não se vê o final no horizonte estéril.
Sigo em frente, sem lágrimas,
sem dor no coração, porque o desconheço.
Que é de mim? Não lembro...
Há tempos tive sonhos, hoje não durmo.
Meus olhos seguem duros por sobre o isolamento,
fixos em frente, sempre, fiéis à direção de meus passos involuntários.
Quero cair, prostrar, esquecer...
morrer sob um céu que não protege.
.
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CHOVE FINO
(ANA)
Chove fino.
Caem gotas leves sobre minha alma de barro seco,
que não conhece flores há muitos anos.
Arrasto-me dolorida, sem erguer os pés nos passos inchados,
as roupas em trapos, encardidas pela aridez de minha paisagem interior
que suga a luminosidade da janela sem êxito.
Quando choro não umedeço,
é apenas a vazante de um rio subterrâneo que,
na superfície, secou faz tempo.
Minha pele é de camaleão, opaca,
confundida com os dias amarelentos.
Sabor de giz na língua, saliva grossa de sede,
cabelos de quem não se vê no espelho.
Não mais rimo a dor com outros sentimentos.
Sofro em uma depressão longa,
da qual não se vê o final no horizonte estéril.
Sigo em frente, sem lágrimas,
sem dor no coração, porque o desconheço.
Que é de mim? Não lembro...
Há tempos tive sonhos, hoje não durmo.
Meus olhos seguem duros por sobre o isolamento,
fixos em frente, sempre, fiéis à direção de meus passos involuntários.
Quero cair, prostrar, esquecer...
morrer sob um céu que não protege.
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7 comentários:
Esta poesia é demais.
Você escreve muitíssimo bem. Chovo sempre no molhado.
Estou sem tempo de ver os blogs, mas sempre que apareço tenho que parara para comentar. Você é demais!
Diza
'orra! Eu adorei isso!
Talvez seja o meu momento melancólico, não sei... Mas eu senti na pele a poesia!
Ana, linda poesia. Não precisa sequer comentar, ela basta-se. Parabéns.
Diza:
Não me elogia muito não que fico encabulada.
Tu não chove no molhado nada!
Beijos!
Valeu pelo elô, Gio!
:)
Bruno:
Thanks, very very thanks...
:D
Dália:
Agradeço, profundamente atônita e emocionada, a sua indicação.
Este texto foi escrito num momento de minha vida que se aproximava muito deste sentimento. Não chegou a ser tão forte a ponto de eu desejar a morte, mas realmente foi um período de extremo cansaço, dormir raramente e ser mais um autômato do que humana.
Um dia, de repente, voltei os olhos para a janela e chovia fino. Inesquecível, na realidade, foi este momento, vivo até hoje em mim.
Repentinamente SENTI (não fazia isso havia anos). Parei de trabalhar por instantes para escrever o Chove Fino e descobri meu estado interior nestas palavras. Foi marcante.
Beijo.
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