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TERMINANDO O PRIMÁRIO
Ano de 1959 e estou terminando meu 4º ano primário. Tenho muitas dificuldades para isto. Fui acometido de crupe, doença cruel que me deixara mudo por meses. Perdi aulas demais. Mas valeu o esforço de minha professorinha D. Maria Magela pelas aulas de reforço e boa quantidade de paciência comigo. Senhora distinta, mora em frente ao Grupo Escolar Batista de Oliveira, “entra burro e sai caveira”, trocadilho naturalmente cantado por nós próprios alunos. A escola fica no Bairro Costa Carvalho em Juiz de Fora, ponto final do bonde “Costa Carvalho / Centro”.
Ah! o bonde… quantas vezes consigo safar-me de apanhar de colegas, franzino que eu sou, por ter anotado o nome deles pelas unhas sujas e cabelos piolhentos. Faço parte do pelotão de saúde cuja obrigação é anotar o nome dos infratores imundos. Ao pongar, tomar carona no bonde, os sugismundos não conseguem me pegar… e vou levando a árdua função de dedo duro.
Tenho que chegar cedo em casa para o almoço e ainda levar a marmita para o papai. Geraldo é o nome dele. É alfaiate e como diversos outros colegas está passando por duras crises da concorrência: as lojas de roupas prontas, industrializadas. Ducal, terno feito de tergal, a roupa que não amassa, a tal do “senta… levanta… senta… levanta…”
Temos novidades hoje, uma visita inesperada de um “padre” que vai nos falar na sala de aulas. Uma parte do recreio foi “desperdiçada” com ele. Veio perguntar quem queria ir para o seminário. Estranho, apesar de eu ser coroinha na Igreja de São José do Botanágua onde o papai é sacristão, não sei o que deu em mim: levantei a mão. Dizem que fui o único “carola” a me candidatar em todo o Grupo Escolar.
Anotou meu nome e meu endereço. Vai fazer uma visita lá em casa para conversar melhor comigo e meus pais. Na volta pra casa fui pensando no que eu fizera. Já tenho 11 anos e terminando o primário não vejo perspectivas para meu futuro. Papai quase falido. O que me resta é continuar ajudando-o nos chuleios ou alinhavos das poucas encomendas que ele ainda consegue ter. Vender jornal, ah! lá nisso sou muito bom. Pelo menos vendo nos domingos todos os cinquenta “Lar Católico” que D. Ana Reis, minha catequista, me dá. Passo todos às saídas das missas das oito e das dez horas. Ou então, quem sabe, pegar uns picolés do Seu Mauad, da esquina da São Geraldo com Sete de Setembro. Poderia ganhar uns bons mil réis.
Sou o mais velho dentre oito irmãos. Estou tentando saber agora, indo para casa, o que me fez levantar a mão. Duas razões, vou pensando: primeira, eu seria uma boca a menos lá em casa, segundo, com certeza a mais importante, “continuaria estudando”, o padre tinha prometido.
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TERMINANDO O PRIMÁRIO
Ano de 1959 e estou terminando meu 4º ano primário. Tenho muitas dificuldades para isto. Fui acometido de crupe, doença cruel que me deixara mudo por meses. Perdi aulas demais. Mas valeu o esforço de minha professorinha D. Maria Magela pelas aulas de reforço e boa quantidade de paciência comigo. Senhora distinta, mora em frente ao Grupo Escolar Batista de Oliveira, “entra burro e sai caveira”, trocadilho naturalmente cantado por nós próprios alunos. A escola fica no Bairro Costa Carvalho em Juiz de Fora, ponto final do bonde “Costa Carvalho / Centro”.
Ah! o bonde… quantas vezes consigo safar-me de apanhar de colegas, franzino que eu sou, por ter anotado o nome deles pelas unhas sujas e cabelos piolhentos. Faço parte do pelotão de saúde cuja obrigação é anotar o nome dos infratores imundos. Ao pongar, tomar carona no bonde, os sugismundos não conseguem me pegar… e vou levando a árdua função de dedo duro.
Tenho que chegar cedo em casa para o almoço e ainda levar a marmita para o papai. Geraldo é o nome dele. É alfaiate e como diversos outros colegas está passando por duras crises da concorrência: as lojas de roupas prontas, industrializadas. Ducal, terno feito de tergal, a roupa que não amassa, a tal do “senta… levanta… senta… levanta…”
Temos novidades hoje, uma visita inesperada de um “padre” que vai nos falar na sala de aulas. Uma parte do recreio foi “desperdiçada” com ele. Veio perguntar quem queria ir para o seminário. Estranho, apesar de eu ser coroinha na Igreja de São José do Botanágua onde o papai é sacristão, não sei o que deu em mim: levantei a mão. Dizem que fui o único “carola” a me candidatar em todo o Grupo Escolar.
Anotou meu nome e meu endereço. Vai fazer uma visita lá em casa para conversar melhor comigo e meus pais. Na volta pra casa fui pensando no que eu fizera. Já tenho 11 anos e terminando o primário não vejo perspectivas para meu futuro. Papai quase falido. O que me resta é continuar ajudando-o nos chuleios ou alinhavos das poucas encomendas que ele ainda consegue ter. Vender jornal, ah! lá nisso sou muito bom. Pelo menos vendo nos domingos todos os cinquenta “Lar Católico” que D. Ana Reis, minha catequista, me dá. Passo todos às saídas das missas das oito e das dez horas. Ou então, quem sabe, pegar uns picolés do Seu Mauad, da esquina da São Geraldo com Sete de Setembro. Poderia ganhar uns bons mil réis.
Sou o mais velho dentre oito irmãos. Estou tentando saber agora, indo para casa, o que me fez levantar a mão. Duas razões, vou pensando: primeira, eu seria uma boca a menos lá em casa, segundo, com certeza a mais importante, “continuaria estudando”, o padre tinha prometido.
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Visitem Paulo Chinelate
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Um comentário:
Legal, Paulo!
Adoro memórias!
Estou ansiosa pela Parte II!
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