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sábado, 18 de abril de 2009

Meditando para que Serve um Plano de Saúde, na Sala de Espera de um Consultório Médico - por Adir Vieira

Um grande e comprido corredor nos levava à sala de espera.
Era uma sala retangular e nas paredes entrecortadas pelas portas de cinco especialidades – ginecologia, cardiologia, clínica médica, oftalmologia e endocrinologia – duas fileiras de cadeiras de couro sintético preto, conjuntas em oito, dispunham-se de frente umas para as outras, o que, de certa forma, obrigava os pacientes que aguardavam os médicos a se olharem, mesmo sem querer.
Um revisteiro contendo mais folhetos informativos do que, propriamente, revistas, visava entreter os que ali estavam aguardando o chamado, mas de tão velhas, sujas e rasgadas, as poucas revistas, de tanto serem manuseadas, mostravam-se desagradáveis ao toque.
Um decalque grande, fixado acima do revisteiro, mostrava um celular e solicitava o seu desligamento no local.
Devido às poucas cadeiras, mais da metade dos pacientes aguardava de pé, como nós.
De quando em vez, ouvia-se a troca de pernas de alguns que procuravam, naquele desconforto, uma forma melhor de posição.
Todos que ali estavam pareciam preocupados e na expectativa da consulta e era difícil distinguir os pacientes para cada sala, embora a diversidade dos consultórios pudesse ajudar nessa adivinhação.
Apenas um dos médicos se utilizava da ajuda da enfermagem para anunciar os pacientes. Considerando que a sala dos enfermeiros ficava em outro corredor, após a saída do paciente atendido tínhamos que aguardar a vinda da enfermeira que anunciava um novo paciente. Isto sem dúvida gerava uma morosidade e impedia a desocupação das cadeiras de forma mais rápida.
Pelas conversas quase em sussurro notava-se que a maioria tinha marcado seus horários, o que não justificava tantas pessoas esperando há tanto tempo.
Se em algumas salas as consultas eram menos demoradas, não ultrapassando mais do que quinze minutos, o consultório da endocrinologia não fazia chamados senão de hora em hora. Estávamos ali há pelo menos duas horas e meia, já havíamos sido atendidos na cardiologia, sendo o próximo passo a endocrinologia. Faltavam ainda quatro pacientes para essa especialidade, segundo nossa dedução, e estimamos pelo menos, mais três horas ali, de pé.
A faixa etária que ali aguardava regulava entre 65 e 80 anos. Várias eram as bengalas de apoio entre as cadeiras e ouvia-se o ressonar de alguns já há algum tempo, o que fazia com que os chamados fossem repetidos por várias vezes. Apesar disso, incapazes fisicamente ou não, ali estavam sozinhos, o que estranhamos sobremaneira.
Nessa altura, ansiávamos por uma cadeira vazia e torcíamos para que as portas se abrissem, devolvendo à rua pacientes já atendidos.
De repente, dois lugares vagaram e quando num salto só corríamos para elas, uma das portas se abriu e um menino de quatorze anos, acompanhante de sua tia-avó, clamou pelos lugares, visto que a senhora tinha sido medicada e ali deveria aguardar o efeito do remédio, sob a proteção do garoto que lhe segurava as mãos, acalmando-a todo o tempo.
Continuamos ali, de pé, por mais meia hora, até que fôssemos chamados.
E aí perguntamos – adianta hoje, nesse país, termos planos de saúde e consultas devidamente marcadas?



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Um comentário:

Ana disse...

Adir, adorei!
Mais uma vez participei de uma parte de seu dia de forma tão real! Pude ver todas as pessoas da sala e sentir o cansaço de permanecer de pé por tanto tempo.
Muito legal o seu texto também por levantar esta questão polêmica de hoje em dia, que são os planos de saúde.