Estou só. Irremediavelmente só. E esta solidão me condensa... as tragédias, a resultante de meus dias até aqui, tudo o que foi - além do inevitável - escolhido ou equivocado.
Não é necessário que me volte para dentro com a intenção de perceber e compreender onde cheguei e como: eu, sendo, evidencio a conclusão inacabada do todo vivido.
Nao é necessário o olhar no espelho ou refletir incessantemente sobre tudo: estou só. E esta condição me traz paz e silêncio, independência de ser, de estar não estando no mundo, isolada de obrigações, quanticamente existindo.
Solta, absoluta, densa imperatriz de meus dias, sigo confiante e mansamente feliz, única em mim, casa vazia, janelas abertas, claridade deslumbrante, portas trancadas, cachorros tranquilos, gestos delicados em pulsos fortes, olhar firme... Suspiro imensamente satisfeita por não mais refletir ou espelhar nada ou ninguém. Apenas eu.
Sou original e cópia, senhora e domínio, epicentro do tao, exato instante do nascer da estrela na sua máxima gravidade e infinita explosão.
E tudo isto só é possível porque estou irremediavelmente só.
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2 comentários:
Puxa, Ana, a DENSIDADE desse texto me deixou sem respirar durante toda a leitura.
BRAVO! BRAVO! MAGNÍFICO!
Puxa, Casé! Obrigada! De verdade!
Agora você me deixou até sem graça!
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