Pelo menos, para mim, é assim, todos os meses, quando eu tenho que ir a um Banco movimentar o famigerado provento da aposentadoria.
Às vezes penso se tal pânico vem lá de dentro, do âmago, por não saber como esticar a pequena quantia e cobrir as necessidades básicas ou se vem mesmo da violência atual.
No momento em que saio de casa, não me importo com a razão real, prefiro atentar para o que aparece em minha mente, de forma superficial: a violência que assola o país.
Chego a apostar que em outra época de minha existência já fui assaltada e espancada, tamanho é o meu pavor nessa situação.
Prefiro ir a pé para relaxar enquanto caminho e observo-me no percurso: músculos da face tensos e rígidos, sem se permitirem ao menos um sorriso disfarçado, se encontro um conhecido, as pernas pesam, negando-se a ir em frente e chego a despender o dobro do tempo até o local, mesmo indo apressadamente.
O medo me persegue e ao abrir a porta e adentrar o Banco, meus olhos e toda a minha fisionomia demonstram esse medo. Chego a perceber que as pessoas, ao me olharem, mostram surpresa e algumas assimilam meu pavor ficando também assustadas.
Vou em busca da senha rezando por obter um número próximo e também para que o sistema não saia do ar até chegar minha vez. Como sempre, observo, da ala em que estou, gente de toda a espécie, de idade avançada. Na minha faixa de idade posso perceber não mais de três pessoas.
Inquieto-me porque visualizo aquele velhinho que habitualmente esquece a senha e depois da quinta tentativa entrega seu segredo ao caixa que, encabulado, prossegue no atendimento sob a reclamação dos demais. Vejo também a mesma senhora de lábios agressivamente pintados de vermelho que, na vez anterior, preencheu os trinta minutos de espera contando-me todas as cirurgias que já fez em minúcias e fujo dela, porque no seu único interesse de falar, nem percebeu o meu desagrado no assunto e, por certo, se eu ficar perto, vai repetir a dose.
Um pouco mais na frente, uma mãe com olhar sofrido tenta doutrinar a filha, deficiente mental, para que se acalme, enquanto um dos clientes que recebeu um forte chute da menina nas pernas foi se queixar ao gerente.
Tudo é tumulto nesse pequeno espaço.
No físico e na minha mente.
As figuras, enquanto aguardam a vez, se atropelam e se cuidam entre si para não perderem o número no painel. Falam demais, para minha agonia.
Meus olhos percorrem tudo com desvairada atenção.
Para mim, a qualquer momento, um bando de assaltantes, com fuzis e pistolas em punho, vai manter todo mundo no chão, enquanto esvaziam os caixas.
Sempre é a mesma coisa. Tento me acalmar, me convencendo de que tudo é fruto de minha imaginação e não percebo que chegou a minha vez, até um velhinho de rosto redondo e vermelho gritar: olha o 316, morreu ou está aí?
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2 comentários:
Adir:
MUUUUUUUIIIIIITOOOO BOOOOOOMMMMMM!
A-DO-REI!!!!!!!
Você está cada vez melhor!
Parabéns, Adir.
Seu texto é leve e prende do começo ao fim.
Muito bacana.
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