Como a água à rocha,
é desta forma que te amo, toco, faço amor.
A água chega e envolve sua companhia.
Somos nós: um contato belo, delicado, modificador e fértil.
Neste momento me torno água
porque é assim que te percebo e sinto;
é assim que me aproximo, reajo e vivo.
Porque sou seu carinho constante em palavras, gestos, olhares e toques,
porque sua presença em minha vida é um aconchego, doçura e satisfação.
A carícia da água na pedra, doce e abundante, envolvente;
a quietude da pedra, sentindo, recebendo umidade e gerando vida;
e a beleza significativa do encontro:
o branco luminoso da espuma sobre o verde claro do musgo,
a consequência do contato brando como uma explosão de delícias para os sentidos.
Eu, água, me aproximo,
explodo como em espumas lindas que coroam um encontro,
e (a sensação mais profunda) deslizo sobre você, cobrindo seu corpo com meu toque,
você num envolvimento completo do que sou, daquilo que lhe dou,
umedecendo sob mim,
não mais com asperezas (que seriam da natureza da pedra), com arestas,
mas com o enfeite de um tapete verde macio,
um musgo fresco, gelado e carinhoso sob o sol quente.
Trazendo a fertilidade e a cor viva à pedra negra, naturalmente seca.
E você, pela presença, modificando o meu caminho,
tornando-me, de massa anônima, um movimento de leveza e sedução,
fazendo-me brilhar iluminada em arrebentação de espumas
no encontro único, pleno, independente,
parnasianamente feliz.
.
Someday I’ll Love Ocean Vuong / Um dia amarei Ocean Vuong [Ocean Vuong]
-
*Beautiful photomechanical prints of Lotus Flowers (1887–1897) by Ogawa
Kazumasa.*
Ocean, não tenha medo.
O fim da estrada é tão distante
que ela já ...
5 comentários:
Ana, seu poema me tocou muito, sobretudo por parecer leve, pueril, e ao mesmo tempo intenso e profundo. Essa mistura de sensações revela um ritmo, como se fossem as ondas indo e vindo, bem como o ritmo do poema, que flui como os marés.
Amei-o quase por completo, exceto o termo parnasianismo, que me provoca ojeriza entre sorrisos, e que não se reflete de forma alguma ao seu poema, pelo fato de que a busca de palavras, no seu caso, não revela mero preciosismo, mas sobretudo uma busca de sentido ao que sente e expressa com sua bela poesia. Enquanto os parnasianos buscavam o esmero da palavra pela palavra, seu amolar de facas em busca do corte perfeito de palavras é uma preocupação de dizer o indizível com a poesia. E pode acreditar, isso você consegue muito bem. Parabéns!
Ops, quis dizer: "bem como o próprio ritmo das palavras do poema".
Ops II:"as marés". Hoje estou impossível.
Carissíssimo Bruno:
Agradeço, sobremaneira (rsrs), os seus elogios, que acredito estarem muito além do merecimento desta que escreve de forma tão despretenciosa.
Thanks, thanks, thanks.
Quanto ao termo parnasianamente, sinto-me na obrigação de esclarecer ao meu ILUSTRÍSSIMO leitor, que o utilizei referindo-me, apenas, ao fecho de ouro, característica que adoro nesta fase literária. Todas as vezes que leio um texto parnasiano (e os busco sempre que posso), corro os olhos, em leitura quase dinâmica, por todo ele, para ter uma ideia do tema, apenas para admirar o desfecho que, na maioria das vezes, vale muito a pena.
Aproveito a oportunidade para informar que este texto foi escrito inspirado numa pedra que existe na Barra da Tijuca, aqui no Rio de Janeiro, e que, de tão lindo este contato entre ela e o mar, a imagem chegou a ser utilizada no final do filme "Orquídea Selvagem"; se tiver oportunidade, veja a imagem, vale a pena (mais que o filme, com certeza)!
De pedra no mar conheço o Arpoador, um pôr-de-sol memorável na minha vida! A primeira sensação que tive ao chegar pela primeira vez ao Rio de Janeiro foi de injustiça: Meu Deus, que absurdo um lugar ser tão bonito assim! precisava caprichar tanto, precisava? indagava eu com minha identidade baiana auto-intitulada como a melhor do mundo...risos.
Uma coisa curiosa: nesta ocasião de descoberta do Rio, passei antes por São Paulo. Estava na fila do mercado comprando água, e ao questionar à pessoa da frente se aquela água que ele segurava era mais barata do que a minha, o mesmo virou as costas irritado. Já no Rio, no mercado, fazendo a mesma coisa e já vacinado, fiquei quieto, então um carioca bateu nas minhas costas e falou: pô, aí, pô, aí, tu tá vacilaaaaando, cara! essa água é muito cara, compra aquela ali da promoção que tu não é mané pra pagar caro....risos...
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