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sábado, 20 de dezembro de 2008

Os Livros - por Alba Vieira

A idéia desta história me ocorreu ao saber da existência de uma biblioteca comunitária que, por ora, se localiza em uma casa no subúrbio da Penha, onde um ex-analfabeto aos 18 anos, hoje já um senhor, aguarda a boa vontade de empresários que se habilitem a fornecer os recursos necessários para a construção da sede onde funcionará a biblioteca dos seus sonhos.
Durante o documentário sobre o assunto, uma jovem lembrou a citação do dito senhor, de que livros são feitos para circular (aliás, como já foi falado sobre o dinheiro, a moeda, que, por isto mesmo, era circular) e que não se importava se, ao serem emprestados, os livros não fossem devolvidos, visto que não havia qualquer burocracia para tomá-los emprestados.
Fiz a imagem do livro como um garotinho travesso circulando por aí, ou como uma jovem curiosa e namoradeira correndo mundo atrás de novos contatos. Daí em diante os livros não mais seriam para mim, ao nível da materialidade, a conjunção de papéis, tintas, cola e outros artefatos. Seriam sim, entidades dotadas de vida, de sentimentos, de capacidade de expressar, atuar e interagir.
Assim imaginei a biblioteca dos sonhos deste abençoado leitor doador de livros que seria apinhada desta “gente rica de idéias”.
Haveria áreas em que seriam alegres crianças barulhentas, hiperativas talvez, pulando, correndo, sendo espontâneas e despertando, nos seus possíveis leitores (companheiros de brincadeiras), a revivência da infância.
Outras áreas seriam compostas de gente responsável, ocupadas, sedentas do saber, de óculos, com páginas menos ilustradas, de letra pequena, com assuntos sérios. Este pessoal constituiria o círculo de amizade de muitos homens de negócios, estudantes de áreas tecnológicas ou mesmo eruditos mais taciturnos.
Alas mais abertas com prateleiras leves, seriam ocupadas por pessoas mais livres, de capas-brochura, com suas histórias de aventura, de busca de tesouros, conflitos com piratas e lutas com dragões imaginários. Este povo da terra dos sonhos traria para seus amigos o encantamento.
E me ocorre agora que livros, sendo, portanto, gente, providos de vida, carecem de laços com quem os tome.
Os livros nos mostram as verdades, as dúvidas, conversam conosco, explicam tudo. Livros desatam a chorar, nos molham e fertilizam com a carga de emoções dos sentimentos que mobilizam. Livros precisam de carinho, de espaço e de luz. Necessitam passear conosco e devem ser bem tratados. Não podem ficar confinados em estantes para cumprir apenas a função de compor o ambiente que ostenta pretensa sabedoria. Livros querem ser trocados, conhecer outros donos temporários. Livros se enternecem com aqueles que viram suas páginas com emoção e com aquele aperto no peito dos sedentos de conhecer os que eles lhes trazem.
Às vezes os livros são insondáveis, mesmo para os que se debruçam sobre eles tentando decifrá-los. Talvez, para estes, ainda não tenha chegado o tempo de desfrutá-los completamente.
Muitas vezes são inusitados, contribuindo com o novo, inspirando um mundo de possibilidades para seus leitores.
Algumas vezes estes diabinhos nos fazem sofrer quando nos envolvemos com eles a tal ponto que passamos a viver a sua história.
Livros são instigantes, abrindo, em nossa vida, portas que pareciam nem existir e há, como em todos os mundos, “pessoas” não tão apropriadas, mas que, ainda assim, merecem ser conhecidas, por propiciarem experimentar a polaridade da vida.
Entretanto, o que me fascinou, sobremodo, nesta nova visão que tive dos livros, foi imaginá-los como gnomos. Pensar que nesta nova forma eles não são vistos por todos, apenas por aqueles que sabem de sua existência e têm sensibilidade para percebê-los. Eles fazem parte do mundo invisível, são subjacentes à realidade, enquanto fazem parte dela.
É isso: não só com os livros, como com qualquer outra coisa, perceber o que está por trás da realidade material é fascinante e enriquecedor.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Comentário por Ana — 4 janeiro 2009 @ 12:07

Adorei! Muito bom!