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(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Minha Alma - por Alba Vieira

A minha é branca. Foi uma desconhecida para mim por muitos anos.
Na infância não tinha dela consciência, embora dominasse meus dias. Sim, porque quando bebê - dizia minha mãe - eu era tão quieta sempre que ela repetidas vezes mexia comigo no berço para saber se eu estava viva. Menina ainda, era muito esquisita e diferente das outras, tendo como brincadeira favorita ficar horas e horas no balanço de casa sozinha cantando ou estirada no sofá da varanda quieta sonhando. Assim, antes dos 6 anos, quando entrei para a escola, éramos eu e ela somente e eu vivia obedecendo ao seu comando. Aí, ao entrar em contato com o mundo - no meu caso se restringia ao colégio - nos afastamos. Acho que passei a viver por minha conta e então me danei. Foram anos difíceis, precisava enfrentar os dias sem sua ajuda, era insegura, medrosa e meus olhos tremiam diante de qualquer pessoa.
Na adolescência foi pior ainda, eu me achava feia e sem-graça, talvez como a maioria das garotas se sentem neste período. Seguia as regras, embora, por dentro, desejasse subvertê-las; era a tal da minha alma querendo retomar o contato comigo e eu nem me tocava.
Então aconteceu o pior: eu fui seduzida pelo mundo, gostei dos desafios, me empenhei e, na visão corrente, venci. E logo nem sabia mais quem realmente era. Passei a viver em função das expectativas do externo, que sempre me aprovava e queria mais no âmbito profissional, nos estudos, nas relações; maior ainda o distanciamento dela ficou. Vez por outra minha pobre alma se insinuava para mim naqueles momentos em que nos sentimos confusos com o turbilhão dos dias, então me sentia diferente, era bem estranho e convidativo, mas a sensação passava logo.
Até que, felizmente, a maturidade chegou e me tirou a venda dos olhos. Enxerguei como todas aquelas realizações e a própria rotina eram pobres, como era efêmero o contentamento. As dores das perdas que se sucederam, seja na vida profissional, familiar ou nas amizades, me jogaram num novo estado de ser. Fiquei, de repente, cara a cara com ela, a alma. Afastadas por tanto tempo, éramos, de certa forma, desconhecidas, mas não precisei tentar me aproximar dela, sua luz e grandiosidade se estenderam para mim naturalmente. Foi instantâneo o reconhecimento e, desde então, somos uma só. Posso, quase sempre, senti-la comigo, intuir a sua força e expressar o seu amor sempre que consigo escapar do hábito que ainda conservo de tomar a frente, tolinha, quando ainda me mostro controladora, insegura, medrosa, voluntariosa... Espero o dia feliz em que possa ceder e deixar que ela reine absoluta nesta vida, para que finalmente eu consiga apenas ser. Sem fazer, sem querer, sem esperar... só confiar.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Comentário por Ana — 27 dezembro 2008 @ 14:06 |Editar

Este texto traz um ensinamento extremamente profundo e importante para muitas pessoas.
Lindo!