Há muito não acompanho o futebol. Para mim, dia de decisão de campeonato não faz a menor diferença, ainda que um dos times na disputa seja o Botafogo, que escolhi ainda menina para ser o meu time de coração. Pode ser que tenha sido por influência de um tio botafoguense roxo, mas acho que foi principalmente pelo fascínio que despertou em mim aquela estrela solitária na camisa de listras pretas e brancas. O que desperta a paixão, a escolha? Futebol é coração, é ele que bate descompassado quando nosso time entra em campo para uma partida e quando sai vencedor ou perdedor. Alegria incontida na vitória, tristeza na derrota.
Verdadeiros mestres do ofício já vestiram a camisa alvinegra: Nílton Santos, Didi, Jairzinho, Zagalo e tantos outros, mas, para mim, o maior de todos, o encantador de multidões, mestre do futebol alegria, lúdico, da surpresa, do inesperado, que deixou multidões nos estádios boquiabertas, rindo como crianças com seus dribles desconcertantes e sua ginga, que era certamente o pior pesadelo de seus adversários com a missão impossível de marcá-lo: Mané Garrincha. Um gênio de pernas tortas, uma para dentro e outra para fora, habilidade incomum, deixando para trás 1, 2, 3 e quantos tentassem detê-lo, seguindo adiante até estufar a rede do adversário, no momento emocionante do gol.
Hoje, continuava indiferente à decisão e cercada de flamenguistas por todos os lados: marido, filho, genro, cunhado, sobrinhos, amigo do marido, vizinho da frente, vizinhos dos lados, estes com as bandeiras penduradas em suas varandas. Genro e sobrinho foram ao Maracanã, não perderiam por nada o espetáculo. Ô torcida grande e fiel esta do Flamengo!
O jogo começou e quando ouvi os gritos de Meeeeeeengo seguidos do barulho de fogos, senti um desconforto, aquele que, mesmo sem que estivesse torcendo, o meu time estava perdendo. Foi assim até que ouvi poucos gritos e poucos fogos mais ao longe. Só podia ser gol do Botafogo, que empatou o jogo. Meu adormecido coração botafoguense não resistiu ao apelo. Adoro as viradas, a resposta de que há um adversário que não se entrega, com disposição de luta, a reação redentora.
A imagem do jogador comemorando seu gol, a boca escancarada num grito, as mãos crispadas na camisa sacudindo-a vigorosamente, no gesto do guerreiro que não se entrega. Contagiante.
O jogo foi para os pênaltis. Penso que, teoricamente, o pênalti sempre resultaria num gol. Apenas um homem, guardião de uma baliza enorme, o adversário muito perto sem barreiras, nada que o impeça do chute certeiro. Mas, como se diz comumente, a teoria na prática é outra. A decisão por pênaltis tem variáveis que não se pode desprezar: já foram disputados 90 minutos de jogo, há o cansaço físico e, principalmente, o emocional, pois não é isto que o futebol traz à tona, um sem número de emoções? Imaginem a responsabilidade perante 80.000 pessoas, e como pode ser medida a quantidade de energia que circula no Maracanã num jogo destes? Muito peso para tão jovens ombros.
Agora não mais onze contra onze. Apenas um de cada lado. Lembra os duelos travados ao longo da história entre gladiadores, espadachins, cowboys, com seus escudos e lanças, espadas e colts 45. Na nossa arena moderna, a arma é o corpo guiado pelos sentidos e intuição. O batedor, pés e pernas, decisão sobre o chute: potente e certeiro ou matreiro colocado no cantinho? Visão do gol e capacidade de concentração, coisa praticamente impossível num estádio lotado. O goleiro, as mãos, pernas, percepção para, por mínimos detalhes, saber para que lado vai a bola. Visão, pés, mãos e sua capacidade de voar. Um duelo dos bons.
Pênaltis batidos. Flamengo campeão. No caminho do Botafogo havia uma muralha chamada Bruno, vencedor de três duelos numa única partida.
O Maracanã, pintado de vermelho e preto, explode em alegria, aos gritos de É CAM-PE-ÃO, É CAM-PE-ÃO, É CAM-PE-ÃO! Gritos de puro instinto, berrados sem precisar de comando ou autorização para tal.
Parabéns ao time do Flamengo, ao técnico Cuca que calou os que o estigmatizaram como vice, como se isto fosse pouca coisa, como se chegar a decisões de títulos não tivesse merecimento. Em especial parabéns ao Bruno, determinante na vitória.
Parabéns ao técnico Ney Franco, que certamente soube liderar seu time para a virada, parabéns ao time do Botafogo que, apesar se desfalcado de seu craque, mostrou a que veio.
De minha parte digo que o grito preso na garganta espera a oportunidade de sair. ninguém grita: É VI-CE, É VI-CE, É VI-CE, mas chegamos bem perto, isto é o que interessa. Derrota com sabor de vitória; pelo menos para mim que descobri que, na estrada do jogo, um facho de luz, a estrela solitária ainda me conduz.
Imagino que visto uma camisa listrada preta e branca com uma estrela em seu canto esquerdo e à semelhança do jogador, agarro com força minha blusa de malha na altura do peito e não grito, mas falo alto e em bom som para quem quiser ouvir: SOU VICE, SIM, COM MUITA HONRA! FOOOOOOOOOOGO! FOOOOOOOOOOOGO!
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Verdadeiros mestres do ofício já vestiram a camisa alvinegra: Nílton Santos, Didi, Jairzinho, Zagalo e tantos outros, mas, para mim, o maior de todos, o encantador de multidões, mestre do futebol alegria, lúdico, da surpresa, do inesperado, que deixou multidões nos estádios boquiabertas, rindo como crianças com seus dribles desconcertantes e sua ginga, que era certamente o pior pesadelo de seus adversários com a missão impossível de marcá-lo: Mané Garrincha. Um gênio de pernas tortas, uma para dentro e outra para fora, habilidade incomum, deixando para trás 1, 2, 3 e quantos tentassem detê-lo, seguindo adiante até estufar a rede do adversário, no momento emocionante do gol.
Hoje, continuava indiferente à decisão e cercada de flamenguistas por todos os lados: marido, filho, genro, cunhado, sobrinhos, amigo do marido, vizinho da frente, vizinhos dos lados, estes com as bandeiras penduradas em suas varandas. Genro e sobrinho foram ao Maracanã, não perderiam por nada o espetáculo. Ô torcida grande e fiel esta do Flamengo!
O jogo começou e quando ouvi os gritos de Meeeeeeengo seguidos do barulho de fogos, senti um desconforto, aquele que, mesmo sem que estivesse torcendo, o meu time estava perdendo. Foi assim até que ouvi poucos gritos e poucos fogos mais ao longe. Só podia ser gol do Botafogo, que empatou o jogo. Meu adormecido coração botafoguense não resistiu ao apelo. Adoro as viradas, a resposta de que há um adversário que não se entrega, com disposição de luta, a reação redentora.
A imagem do jogador comemorando seu gol, a boca escancarada num grito, as mãos crispadas na camisa sacudindo-a vigorosamente, no gesto do guerreiro que não se entrega. Contagiante.
O jogo foi para os pênaltis. Penso que, teoricamente, o pênalti sempre resultaria num gol. Apenas um homem, guardião de uma baliza enorme, o adversário muito perto sem barreiras, nada que o impeça do chute certeiro. Mas, como se diz comumente, a teoria na prática é outra. A decisão por pênaltis tem variáveis que não se pode desprezar: já foram disputados 90 minutos de jogo, há o cansaço físico e, principalmente, o emocional, pois não é isto que o futebol traz à tona, um sem número de emoções? Imaginem a responsabilidade perante 80.000 pessoas, e como pode ser medida a quantidade de energia que circula no Maracanã num jogo destes? Muito peso para tão jovens ombros.
Agora não mais onze contra onze. Apenas um de cada lado. Lembra os duelos travados ao longo da história entre gladiadores, espadachins, cowboys, com seus escudos e lanças, espadas e colts 45. Na nossa arena moderna, a arma é o corpo guiado pelos sentidos e intuição. O batedor, pés e pernas, decisão sobre o chute: potente e certeiro ou matreiro colocado no cantinho? Visão do gol e capacidade de concentração, coisa praticamente impossível num estádio lotado. O goleiro, as mãos, pernas, percepção para, por mínimos detalhes, saber para que lado vai a bola. Visão, pés, mãos e sua capacidade de voar. Um duelo dos bons.
Pênaltis batidos. Flamengo campeão. No caminho do Botafogo havia uma muralha chamada Bruno, vencedor de três duelos numa única partida.
O Maracanã, pintado de vermelho e preto, explode em alegria, aos gritos de É CAM-PE-ÃO, É CAM-PE-ÃO, É CAM-PE-ÃO! Gritos de puro instinto, berrados sem precisar de comando ou autorização para tal.
Parabéns ao time do Flamengo, ao técnico Cuca que calou os que o estigmatizaram como vice, como se isto fosse pouca coisa, como se chegar a decisões de títulos não tivesse merecimento. Em especial parabéns ao Bruno, determinante na vitória.
Parabéns ao técnico Ney Franco, que certamente soube liderar seu time para a virada, parabéns ao time do Botafogo que, apesar se desfalcado de seu craque, mostrou a que veio.
De minha parte digo que o grito preso na garganta espera a oportunidade de sair. ninguém grita: É VI-CE, É VI-CE, É VI-CE, mas chegamos bem perto, isto é o que interessa. Derrota com sabor de vitória; pelo menos para mim que descobri que, na estrada do jogo, um facho de luz, a estrela solitária ainda me conduz.
Imagino que visto uma camisa listrada preta e branca com uma estrela em seu canto esquerdo e à semelhança do jogador, agarro com força minha blusa de malha na altura do peito e não grito, mas falo alto e em bom som para quem quiser ouvir: SOU VICE, SIM, COM MUITA HONRA! FOOOOOOOOOOGO! FOOOOOOOOOOOGO!
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2 comentários:
Não ia falar sobre futebol aqui, mas já que alguém começou. O Timão foi Campeão Paulista. Invicto é bom que se diga. Graças a meu São Jorge, nosso santo guerreiro. E graças também ao Ronado Fenônemo, ídolo de todas as torcidas, inclusive as adversárias. Ah, e sem esquecer de São Felipe, que defendeu nosso gol.
Clarice:
Gostei do seu amor incondicional! É isso aí!
Sabe que eu estava torcendo para o Botafogo, neste jogo, por causa daquela safadeza do jogador do Flamengo de machucar o Maicosuel (é mole, este nome? Toda vez que ouço rolo de rir!) só para ele não jogar a final. Minha sobrinha, que é flamenguista doente, disse que a falta foi leve, não teve esta intenção, foi normal... Mas eu vi na reportagem e achei uma tremenda covardia.
Parabéns pelo Vice, Clarice! Vocês mereceram!
Beijo.
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