Após
a leitura dos textos postados aqui no Duelos Literários por Alba Vieira e eros.ramirez,
senti vontade de dividir com todos vocês um artigo que li há algum tempo, que
me chamou muito a atenção e do qual gostei muito.
“Nas
últimas duas décadas, pesquisas científicas rigorosas sobre as relações entre Religiosidade/Espiritualidade
e saúde têm sido realizadas e publicadas nas literaturas médica e psicológica.
A espiritualidade permanece importante para a vida da maioria absoluta da população
mundial e tem-se mostrado que o envolvimento religioso é geralmente relacionado
com melhores indicadores de saúde mental e bem-estar.
A
ampla maioria dos estudos de boa qualidade, realizados até o momento, aponta
que maiores níveis de envolvimento religioso estão associados positivamente a
indicadores de bem-estar psicológico, como satisfação com a vida, felicidade,
afeto positivo e moral elevado, melhor saúde física e mental. O nível de
envolvimento religioso tende a estar inversamente relacionado à depressão, a
pensamentos e comportamentos suicidas, ao uso e abuso de álcool e outras
drogas. Habitualmente, o impacto positivo do envolvimento religioso na saúde
mental é mais intenso entre pessoas sob estresse ou em situações de
fragilidade, como idosos, pessoas com deficiências e doenças clínicas. Por
outro lado, a Religiosidade/Espiritualidade também pode se associar com piores
indicadores de saúde quando há ênfase na punição e na culpa, conflitos
religiosos, intolerância ou atitudes passivas diante de problemas.
Infelizmente,
o foco das pesquisas em saúde não é, na realidade, sobre a saúde, mas sobre as
doenças, sua patogênese e os modos de preveni-las, curá-las ou aliviá-las.
Contudo, nos últimos anos tem havido uma tendência crescente de focar aspectos
relacionados ao bem-estar, à felicidade e à qualidade de vida.
Dependendo
de certos fatores, as pessoas podem não apenas ser capazes de lidar bem com um
evento traumático, como violência ou doença grave, mas podem até mesmo
vivenciar mudanças positivas em si mesmas, o que tem sido chamado de
“crescimento pós-traumático”. Algumas dessas mudanças positivas podem envolver
conceitos sobre si mesmo (sentindo-se mais forte e capaz), relacionamentos interpessoais
(capaz de amar mais as pessoas de modo mais compassivo) e filosofia de vida
(revisar as prioridades na vida e vê-la como algo precioso). Fatores religiosos
como coping* religioso
positivo e maiores níveis de envolvimento e participação religiosa se
associaram com crescimento pós-traumático.
Assim,
o crescente reconhecimento de que a Religiosidade/Espiritualidade se mantém
como uma dimensão importante da vida das pessoas em todo o mundo, bem como a
constatação de que as práticas e as crenças religiosas dos pacientes influenciam
o cuidado e a evolução dos problemas de saúde, tem levado a um esforço
internacional de integrar a Religiosidade/Espiritualidade na prática médica. A
maioria das faculdades de medicina dos Estados Unidos e algumas do Brasil já oferecem
algum tipo de treinamento na área. Várias organizações de saúde mundialmente
relevantes, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Joint Commission on Accreditation of Health Care Organizations, o American College of Physicians (Estados
Unidos) e o Royal College of
Psychiatrists (Reino Unido), têm enfatizado a importância de abordar
questões de Religiosidade/Espiritualidade na prática clínica.
Deve-se
chamar a atenção da comunidade médica brasileira para a importância da Religiosidade/Espiritualidade
em nossa prática clínica diária, buscando auxiliar no cumprimento de nossa
missão de minorar o sofrimento e contribuir para uma vida mais plena de todos
aqueles que nos dão a honra e a responsabilidade de confiarem sua vida aos
nossos cuidados.”
Escrito pelo Dr. Alexander Moreira de Almeida, in “Espiritualidade & Saúde Mental: O
desafio de reconhecer e integrar a espiritualidade no cuidado com nossos
pacientes.”.
*Coping religioso-espiritual
(CRE): descreve o modo como os indivíduos utilizam sua fé para lidar com o
estresse.
Um comentário:
Aaron, foi muito oportuna a sua publicação chamando atenção para um assunto de tamanha relevância, para médicos e não médicos.
É impossível falar em saúde sem levar em conta a espiritualidade, tenha ou não a pessoa alguma prática religiosa, já que o homem não é só corpo, emoção e razão e a doença vem exatamente para que ele se volte para dentro e, dependendo do momento, seja estimulado a transcender e expressar o espírito.
Adorei a indicação. Um grande abraço.
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