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quinta-feira, 28 de maio de 2009

As Nossas Palavras XII - por Clarice A.

Tinha um hábito adquirido na infância que achava muito engraçado. Era o rei das perguntas indiscretas.
Cresceu e não percebeu que o que entre crianças era aceito, agora entre adultos tornara-se desagradável. Divertia-se com as “saias justas” que provocava com suas indiscrições. Alguns fugiam dele como o diabo foge da cruz, mas tudo isso só servia para reforçar seu hábito. Não era como os outros, era isso que o tornava diferente e ele gostava. Até os foras que levava tirava de letra, eram os ossos do ofício. Era aceito apesar disso porque tinha lá suas qualidades: solidário, divertido, sempre bem-humorado, mas quando começava com suas perguntas indiscretas era um horror.
Um dia (e sempre tem um dia) um de seus amigos, já cansado daquilo, resolveu dar-lhe uma dose de seu próprio remédio e fez-lhe uma pergunta, assim na lata, que o deixou completamente desbundado. Queria como resposta apenas um sim ou não. A pergunta referia-se a um acontecimento que ele guardava para si a sete chaves e nunca imaginara que mesmo seus amigos tivessem conhecimento de tal fato. Sentiu uma sensação que nunca havia experimentado enquanto perguntava para si mesmo como o outro soubera daquele assunto tão protegido por ele e, se o amigo sabia, quantos mais também saberiam? O amigo insistiu: sim ou não? Ele mentiu ao responder, disse não, o sim que era a resposta correta doeria demais nele.
Aquele dia foi um marco na vida dele. Sentiu-se tão mal, mas tão mal!... Como o seu amigo podia ter-lhe feito uma pergunta daquelas?
Ficou encasquetado vários dias, não parava de pensar naquilo. Decidiu perguntar ao amigo o porquê de tal atitude. Puxa, amizade de infância, pegou pesado, então o amigo não percebeu que o deixou sem graça, e pior, ainda insistiu na resposta? O amigo respondeu-lhe calmamente: mas você fez isso a vida toda, tantas vezes, com todos, nunca percebeu os constrangimentos que causava com suas perguntas? Sempre se achava engraçado e nem ouvia quando falávamos que tinha exagerado?
Mais encasquetação. Precisou de meses para digerir tudo, hábito muito arraigado para ser descartado rapidamente. Fez uma auto-análise, coisa difícil, é preciso admitir para nós mesmos o nosso lado escuro, destrutivo, e pior: ainda tendo os outros como alvo. Em seus flashbacks as expressões faciais após suas perguntas já não pareciam tão engraçadas como havia achado anteriormente. Procurou ser o mais verdadeiro possível em suas análises, afinal, ainda havia algo que lhe incomodava profundamente: havia mentido e uma das coisas que admirava em si mesmo era justamente não ser mentiroso.
Enfim, após esse terremoto interno que sofreu (assim sentia tal a força de sentimentos e pensamentos revezando-se em seu íntimo) decidiu: perguntas indiscretas nunca mais. Sabe que hábitos antigos são difíceis de mudar, mas é só lembrar os maus bocados que passou que, com certeza, a pergunta pode até ser pensada (ninguém é de ferro...), mas formulada jamais.
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4 comentários:

Clarice A. disse...

Shintoni
estou testando a caixa de comentários, até aqui tudo bem, se der zebra de novo eu aviso.
Tchau

shintoni disse...

Valeu, Clarice!
Brigadão!
Abraço!

Ana disse...

Clarice... Como você consegue isso? Eu tentei escrever um texto mais longo com as palavras e saiu uma droga... Parabéns pra você! Beijo!

Clarice A. disse...

Oi Ana
Eu leio as palavras e elas me remetem a algo, gosto de ter um personagem e o crio mesclando características e comportamentos de pessoas que conheci/conheço, vou no meu baú da vida, remexo a memória, é meio mosaico, e a historinha vai saindo.
Obrigado e um beijo
Clarice