Falar sobre este livro é como mergulhar no mundo de
Clarice: não se sabe aonde vai dar. Mas, com certeza, é luz, é pura lucidez. É
voltar-se para si, descobrir-se, descobrir o mundo, a ligação que há entre
todas as coisas, todos os fatos, é a noção da Unidade, da conexão, da teia que
nos une a tudo, de estar irremediavelmente conectado, de fazer parte (bem antes
da “explosão” da Física Quântica). E esta noção de nunca estar só, que apenas
se consegue com a prática da solidão, no sentido de voltar-se para dentro e
observar, me foi despertada pela descoberta de Clarice, através deste magnífico
livro, o primeiro dela que eu li. Interessante que isto aconteceu na década de 1980.
Ele foi presente do meu grande amor e passei meses nas primeiras páginas, como
se algo em mim fosse aguardado, até poder devorá-lo, penetrar no âmago de suas
palavras, incorporá-lo e nunca mais esquecê-lo. Depois, vieram muitos outros,
com “Água Viva” quase desisti de aprender, mas era impossível não prosseguir e
assim, ela tornou-se minha escritora preferida.
É um livro belíssimo, de uma delicadeza espantosa, apesar de tantas
vezes nos lançar, sem pedir licença, às profundezas e abismos de nossas almas.
É interessante lê-lo, mesmo para aqueles que não se
identificam com a obra de Clarice.
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