Norberto é um quase senhor de cinquenta anos. Mora sozinho, pois suas experiências amorosas anteriores com mulheres não prosperaram para levá-lo ao casamento. Viveu, até aqui, relações quase duradouras com as escolhidas, mas que não passaram de, no máximo, um ano. Entre idas e vindas ao seu apartamento - porque lá era o seu grande esconderijo -, aprendeu a cozinhar, lavar e até passar muito bem, de tanto que se esforçava para mostrar às mulheres como se administrava um lar. Acho que até foi por isso que não se grudou de fato em nenhuma delas. Nenhuma apresentou o seu esmero com as coisas e com a casa em si. Eram, quase todas, mariposas à cata do mel do seu dinheiro e das boas coisas em que ele lhes favorecia. E acho até que Norberto sempre foi ciente disso.
Hoje, já lá se vão três anos que decidiu se dedicar a ele mesmo. Arrumou mala e suas trouxas e retornou ao seu lar. Não esqueceu antes, meticuloso que é, de orná-lo com todos os aparatos necessários para o sem bem-viver e até decorou-o novamente como se fosse o primeiro.
Contratou o serviço de uma faxineira semanal, uma passadeira de quinze em quinze dias e quanto à comida, ia experimentando receitas deixadas pela mãe que, além de não lhe danificarem o estômago, lembravam-lhe, e muito, sua infância querida.
De uma coisa fazia questão. Embora a casa ficasse por conta das serviçais e totalmente aberta para a sua atuação, não permitia que nenhuma das duas tocasse em suas coisas - fossem as preciosas ou não. Isso, na contratação, foi diversas vezes repetido.
A faxineira, de toda a confiança, a partir do momento em que recolhia as chaves na portaria, não tinha permissão para manter contato com quem quer que fosse da vizinhança para que pudesse dedicar todo o expediente à limpeza da casa.
Quanto à passadeira, tinha lá seus “poréns” com sua atuação, embora com o apartamento todo fechado ela só tivesse acesso à cozinha e à área de serviço. Já tinha percebido que Dona Clotilde tinha o hábito de comer seus biscoitos importados e de mexer nas suas guloseimas na geladeira.
Por duas vezes notou e com muito cuidado indagou sobre o assunto, ao que ela sempre respondeu negativamente.
Disposto a elucidar de uma vez a questão, traçou medidas de detetive na véspera de sua visita quinzenal.
Colocou a vasilha do mamão em um ponto milimetricamente medido para que se ela, a passadeira, lá mexesse, ele logo descobrisse. Quanto ao pote dos biscoitos, teve o trabalho de esvaziá-lo para contar unidade por unidade e anotar em um papel.
Decidido a por fim àquela dúvida atroz, partiu para casa e após a verificação geral costumeira, ateve-se aos pontos estratégicos e, mais uma vez, constatou que metade do mamão papaia com creme de cassis e cinco unidades de biscoito tinham sumido das vasilhas. Teve um alívio ao constatar que não estava louco e que ela era mesmo quem se fazia valer de suas guloseimas.
Pensou e, com muito cuidado, telefonou para Dona Clotilde querendo saber se alguém esteve em sua casa enquanto ela lá estava, porque ele tinha percebido uma baixa na vasilha da sobremesa, inclusive deixando-a à vontade para confessar o delito, porque de forma alguma se importaria se ela tivesse comido. Como já esperava, a passadeira negou veementemente e ainda ficou ofendida com a pergunta de Norberto.
Agora está ele lá, confuso quanto ao que fazer, pois, mentirosa, como ele pode confiar sua casa?
Enquanto roubar somente a geladeira, tudo bem, mas se tomar gosto e arquitetar outras formas de atuar?
Conflito nos tempos de hoje!
Hoje, já lá se vão três anos que decidiu se dedicar a ele mesmo. Arrumou mala e suas trouxas e retornou ao seu lar. Não esqueceu antes, meticuloso que é, de orná-lo com todos os aparatos necessários para o sem bem-viver e até decorou-o novamente como se fosse o primeiro.
Contratou o serviço de uma faxineira semanal, uma passadeira de quinze em quinze dias e quanto à comida, ia experimentando receitas deixadas pela mãe que, além de não lhe danificarem o estômago, lembravam-lhe, e muito, sua infância querida.
De uma coisa fazia questão. Embora a casa ficasse por conta das serviçais e totalmente aberta para a sua atuação, não permitia que nenhuma das duas tocasse em suas coisas - fossem as preciosas ou não. Isso, na contratação, foi diversas vezes repetido.
A faxineira, de toda a confiança, a partir do momento em que recolhia as chaves na portaria, não tinha permissão para manter contato com quem quer que fosse da vizinhança para que pudesse dedicar todo o expediente à limpeza da casa.
Quanto à passadeira, tinha lá seus “poréns” com sua atuação, embora com o apartamento todo fechado ela só tivesse acesso à cozinha e à área de serviço. Já tinha percebido que Dona Clotilde tinha o hábito de comer seus biscoitos importados e de mexer nas suas guloseimas na geladeira.
Por duas vezes notou e com muito cuidado indagou sobre o assunto, ao que ela sempre respondeu negativamente.
Disposto a elucidar de uma vez a questão, traçou medidas de detetive na véspera de sua visita quinzenal.
Colocou a vasilha do mamão em um ponto milimetricamente medido para que se ela, a passadeira, lá mexesse, ele logo descobrisse. Quanto ao pote dos biscoitos, teve o trabalho de esvaziá-lo para contar unidade por unidade e anotar em um papel.
Decidido a por fim àquela dúvida atroz, partiu para casa e após a verificação geral costumeira, ateve-se aos pontos estratégicos e, mais uma vez, constatou que metade do mamão papaia com creme de cassis e cinco unidades de biscoito tinham sumido das vasilhas. Teve um alívio ao constatar que não estava louco e que ela era mesmo quem se fazia valer de suas guloseimas.
Pensou e, com muito cuidado, telefonou para Dona Clotilde querendo saber se alguém esteve em sua casa enquanto ela lá estava, porque ele tinha percebido uma baixa na vasilha da sobremesa, inclusive deixando-a à vontade para confessar o delito, porque de forma alguma se importaria se ela tivesse comido. Como já esperava, a passadeira negou veementemente e ainda ficou ofendida com a pergunta de Norberto.
Agora está ele lá, confuso quanto ao que fazer, pois, mentirosa, como ele pode confiar sua casa?
Enquanto roubar somente a geladeira, tudo bem, mas se tomar gosto e arquitetar outras formas de atuar?
Conflito nos tempos de hoje!
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Visitem Adir Vieira
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Um comentário:
Confiar? Jamais!
Beijo!
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