Querido Papai do Céu,
Hoje eu quero fazer um pedido especial: quando eu crescer, eu gostaria muito, muito mesmo, de continuar sendo criança. É o meu sonho. Por que ser grande é muito chato.
A gente aprende um montão de coisas legais quando é pequeno – ensinado pelos grandes, veja só – mas tem que esquecer tudo quando cresce.
Dá para entender? Eu não consigo.
Perguntei para a minha mãe, entre uma dobradura e outra no meu super barco de papel, se tem alguma razão para isso acontecer.
Ela tentou explicar, mas confesso que não entendi nada.
Falou que era por causa do trabalho, das obrigações do trânsito infernal, das intermináveis contas para pagar, da obrigação em acompanhar o noticiário diariamente (além de ter lido o jornal), saber como fechou a Bolsa daqui, como abriu a Bolsa de lá; onde está o dólar, quem está em guerra com quem, em quem votar na próxima eleição, o time do coração que não está nada bem, a sogra que virá no fim de semana, o presente do cunhado… essas coisas.
Ouvi tudo com atenção, mas voltei para o meu barco de papel sem responder coisa alguma.
Eu, hein? Prefiro ficar aqui, enquanto posso, fazendo tudo o que gosto:
Andando descalço pela gramaJogando água na terra até virar lamaFazendo castelo com pedrinhasTentando bater meu recorde de sete embaixadinhasJogando uma partida de vídeo-gameAcampando na sala com lençol, travesseiro e as cadeiras da sala de jantarPlantando feijão no algodão e esperando brotarMisturando banana com mel e aveiaPintando papel com tinta a dedoRecortando figuras das revistas e colando num outro papel, só para ver no que vai darMontando outro castelo, agora de cartas de baralhoEscrevendo escondido na parede atrás do sofáJogando a bolinha para meu cachorro trezentas vezesTomando picolé de frutasMisturando sucrilhos com leite e nescau, à tarde, em frente à TVImaginando figuras engraçadas nas nuvensAcompanhando o caminho das formigas pela paredeJogando bola, queimada, vôlei ou qualquer outra coisaBrincando de péga-pégaMontando uma casa de madeira na árvoreTocando a campainha da casa do vizinho e fugirPaquerando a filha do vizinhoIndo ao cinema no meio da tardeChupando manga tirada direto do péAndando de bicicleta sem capaceteAprendendo a subir em árvoreTomando água da torneiraRindo à beça das trapalhadas que eu mesmo façoLendo um livro deitado no sofáAprendendo a fazer pão-de-queijo (e ficar olhando dentro do forno até crescer)Tomando banho de esguicho num dia de sol quenteDescascando laranja tudo erradoMisturando coca-cola com sorveteQueimando papel com uma lupaFugindo de abelhaComendo doce de leite sem culpaTomando refrigeranteJogando sonrisal na beira do mar e escorregando nelePegando jacaréPassando requeijão no panetoneJogando rouba-monteCompletando o álbum de figurinhasJogando bafo com as repetidasAssistindo desenhosDormindo no meio dos filmesCorrendo atrás de borboletasSujando a calça no muro brancoDançando alucinadamente no meio da salaCavocando a areia até achar águaJogando pedrinhas no fundo da piscina e mergulhar para buscá-lasTomando leite bem cedinho, tirado na hora da vaca, num copo com açúcarAssistindo filme de terror no cinema e ficar com medoRalar o joelho e passar mertiolate
Está vendo? É tudo muito mais divertido. A gente cansa no final do dia, fica quebrado mesmo. Tão cansado que dorme antes da novela das oito, que hoje em dia começa às nove. Mas vale muito a pena.
Agora, Papai do Céu, vou tomar banho para jantar. Preciso tirar o terno e a gravata, colocar meu pijama e fazer lição de casa, senão meu chefe vai brigar comigo amanhã.
Amém.
Hoje eu quero fazer um pedido especial: quando eu crescer, eu gostaria muito, muito mesmo, de continuar sendo criança. É o meu sonho. Por que ser grande é muito chato.
A gente aprende um montão de coisas legais quando é pequeno – ensinado pelos grandes, veja só – mas tem que esquecer tudo quando cresce.
Dá para entender? Eu não consigo.
Perguntei para a minha mãe, entre uma dobradura e outra no meu super barco de papel, se tem alguma razão para isso acontecer.
Ela tentou explicar, mas confesso que não entendi nada.
Falou que era por causa do trabalho, das obrigações do trânsito infernal, das intermináveis contas para pagar, da obrigação em acompanhar o noticiário diariamente (além de ter lido o jornal), saber como fechou a Bolsa daqui, como abriu a Bolsa de lá; onde está o dólar, quem está em guerra com quem, em quem votar na próxima eleição, o time do coração que não está nada bem, a sogra que virá no fim de semana, o presente do cunhado… essas coisas.
Ouvi tudo com atenção, mas voltei para o meu barco de papel sem responder coisa alguma.
Eu, hein? Prefiro ficar aqui, enquanto posso, fazendo tudo o que gosto:
Andando descalço pela gramaJogando água na terra até virar lamaFazendo castelo com pedrinhasTentando bater meu recorde de sete embaixadinhasJogando uma partida de vídeo-gameAcampando na sala com lençol, travesseiro e as cadeiras da sala de jantarPlantando feijão no algodão e esperando brotarMisturando banana com mel e aveiaPintando papel com tinta a dedoRecortando figuras das revistas e colando num outro papel, só para ver no que vai darMontando outro castelo, agora de cartas de baralhoEscrevendo escondido na parede atrás do sofáJogando a bolinha para meu cachorro trezentas vezesTomando picolé de frutasMisturando sucrilhos com leite e nescau, à tarde, em frente à TVImaginando figuras engraçadas nas nuvensAcompanhando o caminho das formigas pela paredeJogando bola, queimada, vôlei ou qualquer outra coisaBrincando de péga-pégaMontando uma casa de madeira na árvoreTocando a campainha da casa do vizinho e fugirPaquerando a filha do vizinhoIndo ao cinema no meio da tardeChupando manga tirada direto do péAndando de bicicleta sem capaceteAprendendo a subir em árvoreTomando água da torneiraRindo à beça das trapalhadas que eu mesmo façoLendo um livro deitado no sofáAprendendo a fazer pão-de-queijo (e ficar olhando dentro do forno até crescer)Tomando banho de esguicho num dia de sol quenteDescascando laranja tudo erradoMisturando coca-cola com sorveteQueimando papel com uma lupaFugindo de abelhaComendo doce de leite sem culpaTomando refrigeranteJogando sonrisal na beira do mar e escorregando nelePegando jacaréPassando requeijão no panetoneJogando rouba-monteCompletando o álbum de figurinhasJogando bafo com as repetidasAssistindo desenhosDormindo no meio dos filmesCorrendo atrás de borboletasSujando a calça no muro brancoDançando alucinadamente no meio da salaCavocando a areia até achar águaJogando pedrinhas no fundo da piscina e mergulhar para buscá-lasTomando leite bem cedinho, tirado na hora da vaca, num copo com açúcarAssistindo filme de terror no cinema e ficar com medoRalar o joelho e passar mertiolate
Está vendo? É tudo muito mais divertido. A gente cansa no final do dia, fica quebrado mesmo. Tão cansado que dorme antes da novela das oito, que hoje em dia começa às nove. Mas vale muito a pena.
Agora, Papai do Céu, vou tomar banho para jantar. Preciso tirar o terno e a gravata, colocar meu pijama e fazer lição de casa, senão meu chefe vai brigar comigo amanhã.
Amém.
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Um comentário:
Comentário por Alba — 26 dezembro 2008 @ 20:33
Eu acho que as pessoas poderiam ampliar a lista com aquilo que faziam quando ainda eram crianças, de acordo com suas vivências.
Sugiro, também, que as pessoas assinalem o que ainda fazem, desta lista, depois de adultas.
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