Mora em mim uma sereia louca que melodia por anos a fio. Tento viver as horas em silêncio, tratar assuntos importantes com sobriedade, mas há um som macio insistente, uma trilha sonora incansável que acompanha tudo o que sou. Este canto não me chama: ele apenas se impõe. Lembra, persistente, que existem as movimentadas e lentas ondas do mar, a profundidade abissal negra e fecunda, as imponentes naus tragadas, as indigentes almas que vagam ao sabor dos rios submersos, as duras rochas fertilizadas, os extraordinariamente coloridos recifes de coral, a claridade molhada do sol, os grãos de areia entremeados de habitantes e as múltiplas pegadas que se vêem e vão. Porém, sua mensagem mais contundente trata da natureza das coisas: daquilo que pode existir sem nunca ter sido visto; do que se pode encontrar nas atmosferas das tantas possibilidades; dos seres considerados mitológicos apenas por conta das limitadas leis que regem a condição humana; das metades excludentes que formam, prodigiosamente, a perfeição.
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3 comentários:
Comentário por Bruno D´Almeida — 13 fevereiro 2009 @ 15:04
“As indigentes almas que vagam ao sabor dos rios submersos”
Adorei! parabéns!
Comentário por Ana — 13 fevereiro 2009 @ 18:29
Thaks, Bruno!
Essência de poeta.
Abçs,
Adh2bs(Adhemar)
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