Uma
expressão comum nos meus existenciários interioranos, é mandar um desafeto para
os “cafundós do Judas”. A ideia é de um lugar distante, inóspito, indigno, onde
deve o nefasto ex-apóstolo, morar.
De
onde teria surgido essa cultura contida no imaginário popular? Será que a
dignidade de um ser humano associa-se, necessariamente, ao seu habitat? Na
verdade, o dito cidadão era o tesoureiro do cristianismo em gestação, se bem
que, Cristo, nunca deu a mínima para dinheiro.
Em
seus bordejos, Judas esteve no Sinédrio negociando a venda de seu Mestre, de
modo que frequentava lugares elevados, antes que viver em cafundós.
Outros,
desejando “exorcizar” desafetos mandam pra onde “o diabo perdeu as botas”,
possivelmente, o mesmo lugar. Na verdade, o diabo frequenta púlpitos, e Judas
mora no Congresso. A diferença é que domou antigos escrúpulos a tal modo, de
substituir a forca pelos discursos sofísticos.
Isso
de associar a condição moral ou espiritual ao “status quo”, à condição social
de alguém, jamais derivou dos ensinos de Jesus; Ele disse: “acautelais-vos da avareza, pois a vida de qualquer um, não consiste na
abundância do que possui.” Daí, que se pode viver nos “cafundós” e ser
íntegro, santo.
Alguém
disse, acho que foi Einstein, que “a
tradição é a personalidade dos idiotas”. Discordo em parte, pois há
preciosidades mantidas atavicamente; porém, repetir coisas sem pensar, apenas
porque as ouvimos, nos coloca sob aquela pecha. Como disse Henri Ford, “pensar é trabalho mais duro que há; essa,
talvez, seja a razão porque tão poucos se dedicam a isso.” Quando li
duvidei, depois, “trabalhei” um pouquinho e me refiz.
O
drástico é que grande parte do neocristianismo explora a miséria social como
filão, prometendo céu na terra em troca de grana, a uma geração estúpida por
não trabalhar os neurônios. Ah, se pensassem um pouquinho! Mandariam essa
choldra para os cafundós do Judas...