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domingo, 31 de maio de 2009

A Famigerada Desordem do Mundo - por Bruno D’Almeida

Ana Amélia tinha uma grande missão naquele dia: desencaixotar a mudança de sua casa nova. A vida corrida a impedia de procurar pratos, toalhas, incensos, roupas, computador, até a geladeira se perdeu no meio da bagunça. Filosofava sobre o processo de entropia escovando os dentes com os dedos. Antes de sair correndo para o trabalho, olhou para o caos dentro do próprio caos e disse a si mesma: de hoje não passa. Uma casa desarrumada pode ser uma metáfora inevitável sobre a bagunça que podemos propor às nossas próprias vidas.

É necessário dizer que nossa bela protagonista tinha um fusca 1967 amarelo. Um mimo. E lá ia ela, anacrônica, com sua roupa indiana bordada vermelha, margarida nos cabelos e uma cesta de vime com fitinhas coloridas no carona, onde levava sua refeição vegetariana: bananas, barras de cereais e bolacha Maria. Ana Amélia é um daqueles personagens de um bom filme francês que resolveu existir de verdade, com toda sua insustentável verossimilhança. E era assim que ela ia fazendo seu trabalho de agente de uma editora de livros, de escola em escola, tirando dúvidas sobre o uso do material didático. Nem esperava ela, naquele dia, encontrar uma bagunça muito maior do que sua casa nova.

A cidade chovia de maneira torrencial. Seu fusquinha atolava em aguaceiros, não era apenas uma chuva, era um dilúvio. Todas as visitas tiveram que ser canceladas, ou pela falta de possibilidade de chegar ao local ou pela suspensão das aulas nas unidades escolares. E foi assim durante todo o dia, uma sucessão de desacertos que só encontrava refúgio na certeza de arrumar a bagunça de sua casa. Ela precisava encontrar urgentemente a caixa de meias e de roupas miúdas, estava cansada de comprar promoções de três pares de meias por nove e noventa em lojas de departamentos. Sem contar o sumiço do cabo de água da máquina de lavar que a impedia de deixar as roupas com cheiro de sabão Omo. Atolava o cartão de crédito com roupas novas.

Mas o dia não estava perdido, havia uma palestra de amigos para assistir de noite. A chuva deu trégua. E lá foi Amélia, aquela que desafiava o compositor Mário Lago e sabia ser mulher de verdade. Depois da grande dificuldade de estacionar nas ruas estreitas de Salvador, encontrou uma multidão em frente ao prédio da faculdade com várias negativas e caras de adeus. Queda de energia, aulas suspensas. Ouvia e, mais do que isso, via com seus olhos vivos de âmbar a tristeza da amiga comunicar o adiamento da palestra. O que mais faltava acontecer? Vamos comer pizza, gritou. Tem uma pizzaria com massa de batata deliciosa perto de minha casa, vamos transformar a palestra em bate-papo para fechar nosso dia, discorria uma alma em busca do refúgio do prazer em meio ao turbilhão de vastas emoções de acontecimentos imperfeitos.

Bem, alguma coisa precisava dar certo naquele dia, não é? Sentada entre amigos, podiam todos falar e rir das besteiras que quisessem. Podiam pedir uma pizza família de rúcula com tomate seco, frango catupiry, margueritta e atum. Podiam discorrer sobre as experiências de uma aldeia hippie em Arembepe ou sobre o show de tributo a Bob Marley do fim de semana. Ana Amélia, no seu mundo hermético, desenhava no papel da mesa a paleta de cores de sua existência, a luta para se firmar no mundo que coubesse na grandeza de seus sonhos, a saudade dos sobrinhos em São Paulo e tantos outros pensamentos, até ser repreendida por seu comportamento autista e voltar a participar das conversas na mesa. Mas era fim de festa, diziam seus olhos vermelhos, seus bocejos áridos e a cara de quem, para conseguir dormir, bastava apenas fechar os olhos.

Subiu as escadas do Edifício Quitandinha, lugar escolhido a dedo pela nossa salvadora andorinha de seu universo particular, já lembrando da bagunça que a esperava. O banho serviu para refrescar a ideia de que, apesar do dia ruim, a beleza de seus anseios permanecia intacta. E lá ia ela fazendo contas de quanto tempo faltava para escrever uma nova peça de teatro, organizar um novo sarau ou espetáculo de dança e todas as coisas que uma artista precisa para tornar o viver muito mais do que a mera existência. Faltava pouco, muito pouco para tudo isso acontecer. E o sono era uma cantiga embalando aquela mulher cheia de vidas encaixotadas, dormindo tranquila diante da famigerada desordem do mundo.



Post Inesquecível do Duelos - Indicado por Ana

Gostei desta poesia especialmente por causa dos dois primeiros versos (que trazem uma posição diferente em relação ao amor e lindamente escrita) e do último verso, que define, maravilhosamente, a ideia desenvolvida pela autora. Até pensei em criar uma poesia inspirada nestes versos, mas ainda não tive oportunidade de fazê-lo. É linda demais, Raquel! Parabéns!



OS AMORES DA MINHA VIDA
(RAQUEL AIUENDI)

Os amores da minha vida
Não são senhores do meu coração
Os amores da minha vida
trouxeram inesquecíveis sensações
verdades que jamais se vão
os amores da minha vida
não são senhores do meu coração
mas acalentam a lembrança
de felicidade infinda
acalmam os dias de escolhida solidão
os amores da minha vida
não são senhores do meu coração
na história que construímos
fomos em um inteiros dois
uma eternidade à frente, a sós
luta, canto, dança e festa...
os amores que tive são
foram e pra sempre serão
mas não senhores do meu coração
o Senhor do meu coração
é Senhor da mente, corpo, emoção
é único, completo e absoluto
hoje sigo meu caminho
lembrando muito carinho
mas, afinal e em resoluto
os amores da minha vida
não são senhores do meu coração
não são o foco de meu culto.
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Charada

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Charada I - por Ana

Às vezes tardo, mas não falho.
Caminho devagar e sempre.
Sigo estradas determinadas,
Sorrio dos que não me veem.

Não conheço liberdade,
Mas trago libertação,
Sou odiada e temida,
Muitas vezes uma opção.

Dependendo da pessoa,
Sou algo que se deseja,
Amada, amiga íntima,
Por mais difícil que seja.

Posso ser abominável,
Estranha, ignorada,
Trazer momentos de dor,
Definir o fim da estrada.

Pra outros não sou escolha,
Eles já nascem comigo,
Acompanho todo o tempo...
Sou dádiva em vez de castigo.

Querida ou detestada,
Inata ou opcional...
Respondam, nos comentários,
Quem ou o que sou eu, afinal?
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Estou me Sentindo Só... - por Manhosa

Estou me sentindo só...
O meu mundo esta demais silencioso...
Não consigo conversar nem com meu coração...
Ele também não quer falar comigo...
É noite escura... nem estrelas...
Tenho medo de mim...
O vento faz barulho... sopra forte
Sem controle... minhas lágrimas rolam
Não quero mais me iludir...
Vou parar de perseguir sonhos...
O dia a dia esta muito pesado...
Estou cansada de lutar...
Meus desejos continuam a me perseguir...
Tenho que deles também me libertar...
Única maneira de eliminar a amargura
Dos restos que ficaram no meu coração...
Não quero mais amar...
Fica quieto coração...
Até agora só soubeste me cobrar...
Sempre fui culpada por seres rejeitado...
Vamos nos unir... ficar quietinhos... escondidos da dor...
Se um dia... nossas feridas cicatrizarem...
E se... ainda tivermos tempo...
Quem sabe... poderemos até ensaiar um recomeçar...
Voltar a sorrir de mansinho...
Vamos ter que ser quer muito amigos...
Teremos que ser muito unidos...
Nunca mais... nunca mais mesmo...
Vou te entregar... Meu Coração...



Visitem Manhosa
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Adelmar Tavares e a “Ciranda” - Citado por Penélope Charmosa

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...e, embora irmãs,..................................................
não se vêem, não se dão, não se parecem..................................................
as doze tecelãs.....................................................
Guilherme de Almeida..................................................



Vejo a ciranda das horas,
moças lindas a cantar...
doze vestidas de branco,
umas de flores na testa,
outras de flores na mão...
E, no balanço da dança,
quando uma vem, outras vão...

Horas do dia e da noite...
Ó vocês!... Lindas que são!...
Qual será mesmo a minha Hora,
minha hora de Redenção?!...
Será das doze de branco,
ou das que de negro estão?!...
Qual virá, vindo o meu dia,
pousar a mão no meu peito,
parando o meu coração?!...
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