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sexta-feira, 19 de junho de 2009

Djavan, Orlando Morais e “A Rota do Indivíduo (Ferrugem)" - por Ana

Mera luz que invade a tarde cinzenta
E algumas folhas deitam sobre a estrada
O frio é o agasalho que esquenta
O coração gelado quando venta
Movendo a água abandonada

Restos de sonhos sobre um novo dia
Amores nos vagões vagões nos trilhos
Parece que quem parte é a ferrovia
Que mesmo não te vendo te vigia
Feito mãe que dorme olhando os filhos
Com os olhos na estrada

E no mistério solitário da penugem
Vê-se a vida correndo parada
Como se não existisse chegada
Na tarde distante ferrugem
Ou nada
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Charada - por Alba Vieira

Esta charada foi feita pra criança,
De tão facilzinha que ela é.
Mas se quiser entrar na dança,
É só tentar descobrir o que é.

Eu dou emprego ainda a muita gente.
Há quem não consiga pensar sem mim.
Durante o trabalho, sou motivo para encontros,
Jogar conversa fora, paqueras e afins.

Não sou preconceituoso,
Acompanho coisa à beça.
O fato é que sou tão gostoso...
Por mim, sempre alguém se interessa.

O meu perfume é inconfundível,
Uns seguem até descobrir de onde venho.
Mas tenho múltiplas personalidades,
Me aceitam fraco, forte e posso ser veneno.

Desperto, levanto até os desfalecidos.
Pareço inofensivo, mas posso viciar.
Nesse caso deixo o fulano irritadiço,
Com insônia e tremendo sem parar.

Eu sou aquele que aquece nos dias frios.
Mas também posso ser um preto de amargar.
Depois daquele pileque com estômago vazio,
Só eu mesmo é que consigo lhe acordar.

A minha companhia mais frequente,
Talvez seja meu jeito mais saboroso,
Que na História do Brasil se fez presente,
É com o que a mãe dá de mais precioso.

E aí? Se depois de tanta dica,
Não sabe ainda, é mané.
Então vou mandar a última:
ESSA COISA PRETA RIMA COM CHULÉ.



Visitem Alba Vieira
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Um Dia de Cão - por Escrevinhadora

Acabo de ver “Um dia de cão”. Al Pacino, muito jovem, está perfeito.
Curioso observar numa cena que um personagem diz shit e é repreendido por usar uma linguagem grosseira. Enorme mudança em relação aos filmes atuais onde fuck é repetido à exaustão.



Sinopse e trailer: Cinemateca Veja
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E você? Que filme gostaria de comentar aqui?
Sidney Lumet

O Homem Livre - por Leandro M. de Oliveira

Existe uma gama de espíritos inferiores, os ressentidos e mal situados no fluxo da vida. Esses tentam a todo custo justificar o ato de existir com indulgências mentirosas e palavras construídas sob a égide da hipocrisia. Relutam incessantemente a tomar nas mãos o que a vida lhes deu de forma gratuita, e pagam o mais alto preço para que renunciem ao bem que lhes persegue em favor de alguém que julgam mais necessitados. Esses homens de sal, essas pessoas sem cor fazem isso não por caridade em seu sentido lato, mas antes para autoglorificarem-se. Absortos que estão, não percebem que o tempo é veloz e que a vida não hesita em tirar num dia aquilo que deu em outro. Preferem as penas aos horizontes, as lágrimas ao riso, isso não é apenas irracional, é uma blasfêmia contra a vida. Julgar que a esquiva do mundo por si só é uma forma de melhora, de elevação. E esses ditos puros nos olham do alto de suas torres de papel, imaginam em suas cabeças “Como sofrem essas pobres formiguinhas, tenho pena delas...” Homens puros eu vos abomino! Um homem desses poder-se-ia dizer um novo Prometeu, mas isso seria insidioso, esses grandes de outrora nunca aspiraram à própria grandeza, compará-los como desejam é dar vazão à mãe de todas as insídias. Todavia, a segunda espécie de homens, a dos Homens livres, em nada se coaduna com esse ideal de autoflagelo voluntário. O Homem livre ama a vida, a sua busca última é a realização plena. Ele é uma aspiração da vida por si mesma. Enquanto o ressentido diz, “você foi estigmatizado pelo pecado, arrependa-se!” O Homem livre diz, “a ti foi entregue o dom supremo, a medida de compaixão da vida que lhe permite recomeçar sempre, não importando tua falta consigo mesmo, celebre!”
A diferença básica entre esses dois tipos de seres reside sobretudo no radical de cada um, isto é, na raiz da crença de vida em cada um. O ressentido, aquele que teceu o próprio açoite, persegue o pecado original, luta incessantemente para dar testemunho de seu arrependimento por algo que nem ele e nem mesmo um antepassado distante cometeu. Aceita a hipótese em que pela privação de todos os prazeres torna-se muito superior, gosta de fantasiar em seu ego que a incapacidade que possui de apreciar a vida e sua pena por si mesmo podem levá-lo a um a um estado de sublimação ímpar. Todavia, o homem livre, aquele algo além que deve ser a busca última da humanidade não é apenas conflitante com esse indivíduo mas, com efeito, diametralmente oposto. Ele crê num conceito revolucionário, uma forma de ver que desafia toda a religião, toda a ordem social e qualquer outra sorte de apologia ao se sentir escravo criada para justificar a condição humana. O homem livre crê na pureza original, no viver a partir do coração, não importando o quanto esdrúxulo isso pareça. Ele descarta as palavras “feio”, “proibido”, “impossível”. Abomina a tradição do nosso tempo, essa culpa incriada, que foi nossa muleta ao sentirmos tanta pena de nós mesmos. Ele diz: “Lance fora essas escoras, deixe de andar como aleijo!”.



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Albert Camus e a Busca da Felicidade ou do Sofrimento - Citado por Penélope Charmosa

O homem recusa o mundo tal como ele é, sem aceitar o eximir-se a esse mesmo mundo. Efetivamente os homens gostam do mundo e, na sua imensa maioria, não querem abandoná-lo. Longe de quererem esquecê-lo, sofrem, sempre, pelo contrário, por não poderem possuí-lo suficientemente, estranhos cidadãos do mundo que são, exilados na sua própria pátria. Exceto nos momentos fulgurantes da plenitude, toda a realidade é para eles imperfeita. Os seus atos escapam-lhes noutros atos; voltam a julgá-los assumindo feições inesperadas; fogem, como a água de Tântalo, para um estuário ainda desconhecido. Conhecer o estuário, dominar o curso do rio, possuir enfim a vida como destino, eis a sua verdadeira nostalgia, no ponto mais fechado da sua pátria. Mas essa visão que, ao menos no conhecimento, finalmente os reconciliaria consigo próprios, não pode surgir; se tal acontecer, será nesse momento fugitivo que é a morte; tudo nela termina. Para se ser uma vez no mundo, é preciso deixar de ser para sempre.
Neste ponto nasce essa desgraçada inveja que tantos homens sentem da vida dos outros. Apercebendo-se exteriormente dessas existências, emprestam-lhes uma coerência e uma unidade que elas não podem ter, na verdade, mas que ao observador parecem evidentes. Este não vê mais que a linha mais elevada dessas vidas, sem adquirir consciência do pormenor que as vai minando. Então fazemos arte sobre essas existências. Romanceamo-las de maneira elementar. Cada um, nesse sentido, procura fazer da sua vida uma obra de arte. Desejamos que o amor perdure e sabemos que tal não acontece; e ainda que, por milagre, ele pudesse durar uma vida inteira, seria ainda assim um amor imperfeito. Talvez que, nesta insaciável necessidade de subsistir, nós compreendêssemos melhor o sofrimento terrestre, se o soubéssemos eterno. Parece que, por vezes, as grandes almas se sentem menos apavoradas pelo sofrimento do que pelo fato de este não durar. À falta de uma felicidade incansável, um longo sofrimento ao menos constituiria um destino. Mas não; as nossas piores torturas terão um dia de acabar. Certa manhã, após tantos desesperos, uma irreprimível vontade de viver virá anunciar-nos que tudo acabou e que o sofrimento não possui mais sentido do que a felicidade.



In “O Homem Revoltado”.
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